O poema “Da calma e do silêncio”, da escritora Conceição Evaristo, será a chave para o tema da 36ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo, programada para 2025. A linha “Nem todo viandante anda estradas”, retirada dos versos de Evaristo, compõe o título da próxima edição e orienta a proposta curatorial do camaronês Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, que pretende explorar a “humanidade como prática”.
De acordo com o jornal O Globo, durante uma entrevista coletiva realizada no final de outubro no Parque Ibirapuera, Ndikung contou que, ao receber o convite da Bienal, estava em uma viagem de pesquisa pela Nigéria e lia os versos finais de Evaristo: “Nem todo viandante anda estradas, há mundos submersos, que só o silêncio da poesia penetra”. Segundo ele, a força do poema o inspirou a trazer uma nova perspectiva sobre humanidade. “Esse verso de Evaristo foi um chamado para rever o conceito de humanidade longe da colonialidade e das imposições religiosas. Queremos ver a humanidade como prática viva e não apenas como substantivo.”
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Para o curador, os versos de Conceição Evaristo representam um convite à desaceleração, ao silêncio e à escuta do que está fora dos caminhos mais percorridos. “Estamos acostumados a falar de humanidade como um dado, mas Evaristo nos lembra que há outras maneiras de vivê-la, e que nem todo mundo segue o mesmo caminho. Existem experiências humanas que só a poesia permite acessar,” afirmou Ndikung, destacando que a Bienal buscará capturar essa essência, enfatizando o silêncio como meio de entendimento profundo e a poesia como uma forma de resistência.
O poema de Evaristo inaugura o primeiro dos três eixos curatoriais da Bienal, todos estruturados a partir de peças poéticas que inspiram novos olhares sobre a humanidade. Este primeiro eixo convida os visitantes a uma reflexão sobre tempo, espaço e conexão com a natureza — a Bienal propõe, nas palavras da cocuradora Anna Roberta Goetz, uma “reivindicação do tempo e do espaço para permitir uma humanidade que respira e que se silencia”.
Ndikung destacou que a Bienal pretende, portanto, explorar um conceito expandido de humanidade, que se aproxime mais das experiências múltiplas e submersas que os versos de Evaristo evocam.
A Bienal de São Paulo promete também incorporar o espírito de Evaristo por meio de “Invocações”, uma série de eventos que antecedem a mostra, e levam esse convite ao silêncio e ao diálogo para quatro locais ao redor do mundo.
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