Nesta semana, o MUNDO NEGRO entrevistou com exclusividade a roteirista Peres Owino, responsável pelo trabalho na série documental ‘Rainhas Africanas: Jinga’, da Netflix. Em conversa com o jornalista Arthur Anthunes, a premiada profissional falou sobre a importância da obra documental.
Com produção executiva de Jada Pinkett Smith, ‘Rainhas Africanas’ retrata a vida de importantes e icônicas rainhas negras. A primeira temporada conta a história de Jinga, a cativante e destemida rainha guerreira de Dongo e Matamba, hoje Angola. No século 17, ela foi a primeira governante feminina do país. “Sempre quisemos fazer algo para celebrar nossos ancestrais, então tivemos essa ideia de colocar todas essas figuras juntas e chegamos a essa história magnífica de Jinga”, contou Peres.
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No século 17, Jinga foi a primeira governante feminina do país. Ela conquistou sua reputação por misturar habilidades políticas e diplomáticas com conhecimento militar, tornando-se um símbolo de resistência. Produzir uma série dessa magnitude não foi tarefa fácil. Peres contou detalhes sobrea importância de trabalhar ao lado de Jada Pinkett-Smith na concepção dessa obra. “Vou dizer pra você o que eu realmente acho incrível. É quando pessoas com grandes nomes como ela usam seu legado e seu poder para abrir portas para contar esses tipos de histórias. Isso é incrível“, destacou a roteirista. “Eu não sei se sem o nome de Jada seríamos capazes de fazer algo como assim. Então, por isso eu serei eternamente grata e grata por todas as mãos que passaram por esse projeto, na frente, por trás das câmeras”.
Para a 2ª temporada, foi revelado que conheceremos a história de Cleópatra. Ao MUNDO NEGRO, Peres confirmou o lançamento da obra e explicou a escolha da rainha egípcia. “A temporada 2 será sobre Cleópatra. Estamos criando histórias sobre nós mesmos, com pesquisadores de todos os lugares. Pesquisamos quem encontrou o material, quem está contando a história. Você quer contar a verdade e também contar o que a verdade foi. Queremos mostrar o que realmente somos enquanto africanos”, destacou ela. “A segunda temporada está chegando. Geopoliticamente fomos divididos ao meio. Todos nós sabemos as fronteiras da África, sabemos o que a África é. O Egito é nosso. Se você está na África, governando um local africano, você é uma rainha africana. Estamos recuperando nossa herança, porque existe uma tentativa de colocar o Egito fora da África. Muitas pessoas pensam que não tem como um reino africano ter criado um império como esse. Então para nós, é tudo nosso”, destacou Peres.
Ao longo dos últimos meses, a representatividade negra feminina ganhou destaque nos jornais pelo mundo. Com o lançamento de grandes filmes como ‘Pantera Negra: Wakanda Para Sempre‘ e ‘A Mulher Rei’, essas questões ganharam força. Peres diz que, de alguma forma, essas produções também ajudaram no lançamento e no desenvolvimento de ‘Rainhas Africanas’. “Eu acho que eles tiveram uma chave importante. Eu não gosto de minimizar os esforços de ninguém, porque acredito que todas essas partes trabalham juntas para nos levar adiante. ‘Pantera Negra’ fez isso, explodiu e gerou bilhões de dólares numa indústria que sempre acreditou que conteúdos negros não vendem fora dos Estados Unidos e então isso acontece. Para mim, enquanto artista eu posso apenas celebrar isso. Eu fico: ‘sim’. Isso prova um ponto e abre portas. Então você tem ‘A Mulher Rei’ seguindo os passos, você tem essa fenomenal e forte mulher”, diz a roteirista.
Peres também enfatizou a importância em contar histórias reais sobre o continente africano. “Estamos lidando com coisas difíceis, porque ‘Pantera Negra’ celebra uma África que não existe, mas ‘A Mulher Rei’ é sobre uma África que existiu. E então tem algumas coisas desafiadoras que exigem de nós muita bravura em decidir como seguir nesse papel. Jinga faz a mesma coisa, em Rainhas Africanas nós estamos fazendo a mesma coisa. Mas é isso que somos enquanto pessoa”, destaca ela. “Eu sempre celebro, seja ‘A Mulher Rei’, ‘Rainhas Africanas’, ‘Pantera Negra’. Porque agora podemos finalmente aprender sobre cada um de nós e isso é importante”.
Paixão pelo Brasil
Durante a entrevista, Peres também mostrou amor pelo Brasil. Ela declarou seu carinho pelo futebol e relatou detalhes sobre um projeto pessoal envolvendo o esporte. “Meu amor pelo Brasil vai além da história. Eu preciso te mostrar isso. Isso é Rivaldo, de volta aos anos 90, não brinque”, contou ela mostrando a camisa da Seleção Brasileira. “Meu amor pelo Brasil é profundo. Estamos desenvolvendo um programa de TV baseado num momento muito importante na história do povo negro brasileiro. O que estamos fazendo agora, pra mim, pessoalmente, estamos seguindo os passos dos meus ancestrais que me deixaram“.
Questionada sobre o sonho de trabalhar com outros profissionais negros, Peres foi enfática e destacou que é preciso ter um propósito e conexão com histórias envolvendo a diáspora. “O que gostaria mesmo de fazer era criar um colar, uma corrente que conecta pessoas em Angola, passando pela Jamaica, passando pelo Brasil, pelos Estados Unidos. Para entender exatamente o problema de conexão sobre quem nós somos. É muito mais sobre o que eles estão fazendo e se estão fazendo algo que está nos nutrindo, nutrindo o espírito da diáspora e se você está fazendo isso, vamos lá”, destacou ela, que também aproveitou para aconselhar jovens roteiristas negras que se inspiram em seu trabalho. “O mundo é cheio de pessoas com talento. Mas aqueles que conquistam são aqueles que perseveram. Não há substituo para isso. Se você continuar acreditando no que você faz, continue, seu sonho pode ser realizado em qualquer idade. É isso que Njiga nos ensina”.