Peça “Traga-me a cabeça de Lima Barreto!” estreia temporada em São Paulo nesta quinta-feira

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Peça “Traga-me a cabeça de Lima Barreto!” estreia temporada em São Paulo nesta quinta-feira
Foto: Adeloyá Magnoni

Sucesso de público e critica, a peça “Traga-me a cabeça de Lima Barreto!”, estrelada por Hilton Cobra, celebra a genialidade de Lima Barreto, refletindo sobre loucura, racismo e eugenia. O espetáculo estreia em São Paulo para uma temporada nesta quinta-feira (12) e fica até 5 de agosto, no SESC Pompéia.

Escrito pelo diretor e dramaturgo Luiz Marfuz, especialmente para comemorar os 40 anos de carreira do ator baiano Hilton Cobra, com direção de Fernanda Júlia, do Núcleo Afrobrasileiro de Teatro de Alagoinhas (NATA), a peça mostra uma imaginária sessão de autópsia na cabeça de Lima Barreto, conduzida por médicos eugenistas (movimento que acreditava na seleção dos seres humanos com base em suas características hereditárias), defensores da higienização racial no Brasil, na década de trinta.

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Foto: Adeloyá Magnoni

O propósito seria esclarecer “como um cérebro considerado inferior poderia ter produzido uma obra literária de porte se o privilégio da arte nobre e da boa escrita é das raças tidas como superiores?”. A partir desse embate, a peça mostra as várias facetas da personalidade e da genialidade de Lima Barreto, refletindo sobre loucura, racismo e eugenia, a obra não reconhecida e os enfrentamentos políticos e literários de sua época.

A narrativa ganha força com trechos dos filmes “Homo Sapiens 1900” e “Arquitetura da Destruição”, ambos cedidos gentilmente pelo cineasta sueco Peter Cohen. O cenário, de Marcio Meirelles, contribui para a força cênica juntamente com o figurino de Biza Vianna, a luz de Jorginho de Carvalho, a direção de movimento de Zebrinha e a música de Jarbas Bittencourt. Os atores Lázaro Ramos, Frank Menezes, Harildo Deda, Hebe Alves, Rui Manthur e Stephane Bourgade, todos amigos e admiradores do trabalho de Cobra, emprestam suas vozes para a leitura em off de textos de apoio à cena.

Foto: Adeloyá Magnoni

Trazer Lima Barreto para o primeiro plano desse debate, encontrar um equilíbrio entre as reflexões sobre a eugenia e a vida e obra do escritor foi um desafio para Luiz Marfuz.

Obviamente estamos tratando de uma situação imaginária, um Lima idealizado. Ele sempre se colocou como um escritor militante; e isso é nitidamente visível não só nos romances, mas nas inúmeras crônicas em que defendeu suas ideias humanistas, com fortes doses de anarquismo e socialismo, posicionando-se contra a política, os governantes, o sistema econômico, as injustiças sociais. Mas a questão da eugenia não foi tratada por ele de forma direta e aberta. Então a arte cria um espaço para que Lima, após uma vida marcada pelo alcoolismo, loucura, a indigência cotidiana e a discriminação racial, retorne com a consciência dessas questões para defender suas ideias”, explica Marfuz.

Responsável pela direção do espetáculo, Fernanda Julia, que é diretora do NATA de Alagoinhas, conta como o trabalho que vem realizando no grupo teatral contribuiu no processo de direção. “O diálogo crítico e politizado sobre negritude é um disparador potente do fazer cênico do NATA. Esses elementos foram fundamentais para que eu percebesse quais caminhos trilhar na construção do espetáculo. Sou uma provocadora e problematizadora por natureza, e acho que a encenação deve seguir este caminho – provocar a reflexão e problematizar o que está posto.”, diz.

Hilton Cobra, que criou a Cia dos Comuns em 2001, com o propósito de trazer à cena uma cosmovisão artisticamente negra especialmente no âmbito das artes cênicas, fala da motivação para encenar o espetáculo. “É importante e providencial discutir eugenia e racismo a partir de Lima Barreto. Também é um reconhecimento à Lima – um autor tão pisoteado, tão injustiçado, que pensou tão bem esse Brasil, abriu na literatura brasileira ‘a sua pátria estética’, os pisoteados, loucos, os privados de liberdade – esses são os personagens de Lima Barreto. Acredito que ele deve ter sido, se não o primeiro, um dos primeiros autores brasileiros que colocaram esse ‘submundo’ em qualidade e com importância dentro de uma obra literária”.

Foto: Adeloyá Magnoni

Há um ano em cartaz, “Traga-me a cabeça de Lima Barreto!”, já foi apresentado para mais de 10.000 espectadores cumprindo temporada no Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo, Porto Alegre e Teresina, onde colheu diversos elogios do público e crítica. O espetáculo foi encenado também na Flip – Festa Literária Internacional de Paraty/RJ, onde o escritor foi o homenageado. Em Salvador, foi contemplado com o Prêmio Braskem de Teatro/2017 de melhor texto (Luiz Marfuz), tendo sido indicado ainda nas categorias melhor ator e melhor espetáculo e no Rio de Janeiro contemplado com o 4º Prêmio Nacional de Expressões Cultuais Afro-brasileiras.

A peça fica em de 12 de julho a 5 de agosto, quinta, sexta e sábado, às 21h30. Domingos, às 18h30. O Sesc Pompeia fica na Rua Clélia, n° 93. Para mais informações, acesse: https://www.sescsp.org.br/unidades/11_POMPEIA.

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