
Texto: Luciano Ramos
Nos últimos dias, ganhou repercussão a crítica feita pela atriz Samara Felippo ao posicionamento público de Lázaro Ramos em defesa da ampliação da licença paternidade no Brasil. Segundo Samara, a proposta de Lázaro não considera que muitos homens ainda se isentam de suas responsabilidades familiares, sendo ausentes emocional e fisicamente mesmo quando estão em casa. A crítica, embora baseada em uma realidade que infelizmente persiste, erra ao generalizar e invisibilizar um ponto central: não se alcança a equidade de gênero sem políticas que também responsabilizem os homens pelos cuidados com os filhos.
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Lázaro Ramos, homem negro, artista, pai e voz ativa em pautas de justiça social, tem contribuído de forma coerente para o debate sobre paternidades no Brasil. Ao defender a ampliação da licença paternidade, ele não está ignorando os desafios da cultura machista — ao contrário, está propondo uma ruptura com ela. A ampliação da licença é uma das chaves para o reequilíbrio das tarefas do cuidado, hoje ainda esmagadoramente atribuídas às mulheres.
A crítica de Samara parte de um sentimento legítimo de exaustão de muitas mães solo e de mulheres que não encontram nos pais de seus filhos um parceiro de fato. Mas sua fala, ao desautorizar a proposta de ampliação da licença paternidade, incorre em um risco político sério: o de reforçar uma visão punitiva e paralisante que não aposta na transformação dos homens.

Sim, a ampliação da licença paternidade precisa vir acompanhada de processos educativos, formativos e políticos voltados a um novo modelo de masculinidade. Homens não devem apenas estar em casa: devem ser formados e responsabilizados para cuidar, amar, proteger e se envolver desde o nascimento de seus filhos. No entanto, o fato de muitos ainda não o fazerem não é argumento para manter uma política pública desigual.
A atual licença paternidade no Brasil é de cinco dias úteis — um tempo ridículo quando comparado às licenças maternas e à complexidade do período pós-parto. Pior: ela reforça a ideia de que o cuidado com os filhos é tarefa natural das mães. Isso é machismo institucionalizado. E não é possível querer igualdade entre homens e mulheres sem mexer nessa estrutura.
Defender a ampliação da licença paternidade não é um presente para homens irresponsáveis. É um direito necessário para os pais que desejam exercer sua função com presença e afeto, e uma política essencial para que as mulheres não carreguem sozinhas a jornada exaustiva da maternidade. Ao mesmo tempo, é um instrumento pedagógico poderoso, que comunica que cuidar também é coisa de homem.
Por isso, ao invés de desautorizar uma proposta que avança na direção da equidade, o que precisamos é somar forças: mulheres, movimentos sociais, Estado e instituições precisam trabalhar para que a ampliação da licença venha acompanhada de investimento em educação para paternidades responsáveis, políticas de combate ao abandono parental e promoção de novas masculinidades.
A crítica de Samara Felippo toca uma ferida real, mas é no enfrentamento da estrutura — e não na negação do direito — que se constrói mudança. Se queremos um Brasil mais justo, precisamos reconhecer que transformar o papel dos homens no cuidado é parte essencial do caminho.
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