Paternidade, licença e equidade: Por que a crítica de Samara Felippo a Lázaro Ramos erra o alvo

0
Paternidade, licença e equidade: Por que a crítica de Samara Felippo a Lázaro Ramos erra o alvo
Fotos: Carlo Locatelli e Edgar Azevedo/Divulgação

Texto: Luciano Ramos

Nos últimos dias, ganhou repercussão a crítica feita pela atriz Samara Felippo ao posicionamento público de Lázaro Ramos em defesa da ampliação da licença paternidade no Brasil. Segundo Samara, a proposta de Lázaro não considera que muitos homens ainda se isentam de suas responsabilidades familiares, sendo ausentes emocional e fisicamente mesmo quando estão em casa. A crítica, embora baseada em uma realidade que infelizmente persiste, erra ao generalizar e invisibilizar um ponto central: não se alcança a equidade de gênero sem políticas que também responsabilizem os homens pelos cuidados com os filhos.

Notícias Relacionadas


Lázaro Ramos, homem negro, artista, pai e voz ativa em pautas de justiça social, tem contribuído de forma coerente para o debate sobre paternidades no Brasil. Ao defender a ampliação da licença paternidade, ele não está ignorando os desafios da cultura machista — ao contrário, está propondo uma ruptura com ela. A ampliação da licença é uma das chaves para o reequilíbrio das tarefas do cuidado, hoje ainda esmagadoramente atribuídas às mulheres.

A crítica de Samara parte de um sentimento legítimo de exaustão de muitas mães solo e de mulheres que não encontram nos pais de seus filhos um parceiro de fato. Mas sua fala, ao desautorizar a proposta de ampliação da licença paternidade, incorre em um risco político sério: o de reforçar uma visão punitiva e paralisante que não aposta na transformação dos homens.

Créditos: Reprodução/Instagram

Sim, a ampliação da licença paternidade precisa vir acompanhada de processos educativos, formativos e políticos voltados a um novo modelo de masculinidade. Homens não devem apenas estar em casa: devem ser formados e responsabilizados para cuidar, amar, proteger e se envolver desde o nascimento de seus filhos. No entanto, o fato de muitos ainda não o fazerem não é argumento para manter uma política pública desigual.

A atual licença paternidade no Brasil é de cinco dias úteis — um tempo ridículo quando comparado às licenças maternas e à complexidade do período pós-parto. Pior: ela reforça a ideia de que o cuidado com os filhos é tarefa natural das mães. Isso é machismo institucionalizado. E não é possível querer igualdade entre homens e mulheres sem mexer nessa estrutura.

Defender a ampliação da licença paternidade não é um presente para homens irresponsáveis. É um direito necessário para os pais que desejam exercer sua função com presença e afeto, e uma política essencial para que as mulheres não carreguem sozinhas a jornada exaustiva da maternidade. Ao mesmo tempo, é um instrumento pedagógico poderoso, que comunica que cuidar também é coisa de homem.

Por isso, ao invés de desautorizar uma proposta que avança na direção da equidade, o que precisamos é somar forças: mulheres, movimentos sociais, Estado e instituições precisam trabalhar para que a ampliação da licença venha acompanhada de investimento em educação para paternidades responsáveis, políticas de combate ao abandono parental e promoção de novas masculinidades.

A crítica de Samara Felippo toca uma ferida real, mas é no enfrentamento da estrutura — e não na negação do direito — que se constrói mudança. Se queremos um Brasil mais justo, precisamos reconhecer que transformar o papel dos homens no cuidado é parte essencial do caminho.

Notícias Recentes

Participe de nosso grupo no Telegram

Receba notícias quentinhas do site pelo nosso Telegram, clique no
botão abaixo para acessar as novidades.

Comments

No posts to display