Luís Fernandes Júnior, 28, um dos primeiros alunos do recém-inaugurado Campus dos Malês, da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), em São Francisco do Conde (BA), onde faz sua pós-graduação, conversou com a Folha de São Paulo sobre o racismo que vivenciou em uma loja Zara no Brasil.
Na última semana de dezembro, após comprar uma mochila em uma loja da Zara no Shopping da Bahia, Luís foi acusado de roubo por um segurança, que o retirou do banheiro e exigiu que ele devolvesse o item. Ele afirma que essa foi a primeira vez que vivenciou discriminação e que pode entender como funciona o país.
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Antes de vim estudar no Brasil, o rapaz falou na entrevista que passou por dificuldades em seu país natal, mas que já estava planejando viajar par estudar em outro local, quando viu sobre os planos do país e veio.
“Acredito que isso também é uma influência da colonização, quando existiram políticas de eurocentrismo. Para eles, a Europa, ou o Ocidente de modo geral, parece o único lugar possível para viver. Mas não tem lugar no mundo que não tenha problemas e, no Brasil, as políticas públicas me pareciam mais democráticas, muito embora a gente viva uma outra situação com o atual governo [de Jair Bolsonaro].
Falei ‘eu vou, eu vou escolher o meu destino’. Pouco antes, tinha uma viagem a Portugal com o meu pai, que faria um tratamento. Mas ele faleceu enquanto eu esperava o visto sair. Foi quando ouvi um colega falar das bolsas no Brasil, inscrevi-me e fui bem. Vendi um terreno que o meu pai deixou para comprar a passagem, confiando que amanhã teria uma vida melhor para comprar um terreno maior.”
O rapaz ainda explicou sobre a discriminação em seu país e a diferença dele com a do Brasil, enfatizando que a prevalência lá é social: “Fui perceber o racismo no Brasil. Nunca havia vivenciado isso. Na Guiné-Bissau, a discriminação se trata mais de uma questão de privilégios econômicos de alguns cidadãos que herdaram poder de portugueses ou, então, daqueles que falam português com sotaque de Portugal e são vistos como mais inteligentes.”
“Mas o que aconteceu causou um impacto que ainda me leva a refletir. Tenho dores de cabeça constantes. Fico pensando: vale a pena continuar essa luta de estudar, aprender mais e formar uma família? O que seria do meu filho amanhã? Para que colocar uma pessoa no mundo que pode sofrer? Dar educação, lutar pela dignidade dela e um dia chegar um sistema que acha que a pessoa boa tem uma determinada cor?”
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