Mais um caso de uso indevido da imagem de uma criança negra está ganhando as redes sociais. Desta vez, porque o rosto da filha de dois anos de idade do casal Marina Oare e Thiago Soares foi exposto sem autorização em um grafite feito por uma mulher branca e agora estampa o muro de um conjunto habitacional localizado na Zona Leste de São Paulo.
O casal denunciou o caso nas redes sociais através de um vídeo, onde explicam que só ficaram sabendo que a imagem da filha havia sido utilizada depois que a autora do grafite compartilhou um vídeo em que mostrava sua participação no projeto Grapixurras, no início deste ano. Marina seguia a artista no Instagram e ficou incomodada ao ver o rosto da filha ilustrando o muro.
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A mãe da criança explica que entrou em contato com a artista, mas a conversa não foi suficiente para que ela conseguisse que o grafite fosse apagado. “Foi uma conversa que, à princípio, parecia se resolver facilmente, mas depois ficou bem desconfortante porque ela se apoiou dentro da branquitude dela, a arte dela, que ela não é uma pessoa ignorante, enfim, vários recursos de homenagem, de feminismo, de representatividade da mulher preta”, contou.
Marina explicou que tentou se comunicar com o evento em que a mulher participou, mas que não teve respaldo. “Foi um mega evento com artistas diversas. Nossa conversa foi apenas com a artista e tentei me comunicar com o evento, mas o evento não deu nenhum respaldo”.
“Ela conseguiu essa foto porque nós trabalhamos em um evento em comum, um projeto chamado Arte e Revitalização, que está em apoio conosco também contra essa situação e nós entramos com uma outra medida”, explicou a mãe.
Sem conseguir que o grafite fosse apagado, os pais procuraram a justiça e estão processando a artista por uso indevido de imagem. “A gente preferiu usar os meios legais para a gente agir para que nossa raiva e nossa indignação, nossa reação, não fosse usada contra nós. Nós somos pretos, pessoas pretas no Brasil. A gente sabe que a nossa reação ao racismo é sempre utilizada contra nós. Nós trabalhamos nesse período, entre o grafite que foi feito e esse vídeo tem um período de tempo onde nós procuramos conselhos jurídicos, advogados, para gente tomar as medidas cabíveis”, detalhou o pai da criança.
“A gente tem sabido que isso tem acontecido com certa frequência, principalmente com crianças. A gente olha, vê que crianças tem sido utilizadas como forma de aferir lucro, ganhos, prestígio sem que os pais sejam consultados”, reiterou Thiago Soares. “Essa ação que nós estamos fazendo é um sentido de que dê um basta à ideia de que nossos corpos, que a nossa imagem é uma imagem alheia, uma imagem pública, uma imagem que não se precisa pedir, não se precisa ter autorização, como se fosse um objeto a ser pego, ser utilizado e depois descartado”, destacou.
Para ajudar a custear o processo, Marina Oare e Thiago Soares criaram uma rifa e estão oferecendo quadros e ensaios fotográficos, além de outros trabalhos.
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