Oscar não tão branco

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Oscar não tão branco

Texto de Betina Costa do blog e canal Claquete 16

Com a temporada americana de premiações se aproximando, maior a expectativa para os indicados a 89º edição do Oscar, ainda mais considerando que edição anterior foi marcada por protestos e boicotes devido a ausência de profissionais negros entre os indicados pelo segundo ano consecutivo. Várias promessas de mudança foram feitas, a presidente da Academia, Cheryl Boone Isaacs, disse na época que “Nós realizaremos uma  revisão na contratação dos nossos integrantes, para trazer a diversidade necessária para a nossa turma de 2016”. De fato, essas palavras não foram apenas para acalmar os ânimos, em junho de 2016 683 novos membros foram convidados, sendo 46% mulheres e 41% pessoas de cor.

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O resultado dessas mudanças pode ser observado na última terça-feira (24) quando os indicados ao Oscar 2017 foram anunciados. Seis atores e atrizes negros foram indicados aos prêmios de atuação, um recorde na história do Oscar. Denzel Washington, com 7 indicações e Viola Davis com 3, são os negros com o maior número de nomeações. Na categoria de melhor atriz coadjuvante, temos três indicadas negras: Octavia Spencer (Estrelas Além do Tempo), Viola Davis (Cercas) e Naomie Harris (Moonlight: Sob a Luz do Luar), também um recorde.

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Da esquerda pra direita: Kimberly Steward, Berry Jenkins e Tarell Alvin McCraney

 

 

Nesta edição do Oscar a presença negra não limitou-se apenas aos prêmios de atuação, na produção temos Kimberly Steward por Manchester À Beira-Mar (segunda mulher negra a ser indicada na categoria), Barry Jenkins foi indicado para melhor Direção por Moonlight: Sob a Luz do Luar (quarto homem negro a ser indicado),  dividindo a indicação de melhor roteiro com Tarell Alvin McCraney, fazendo deles sétimo e oitavo homens negros a concorrer na categoria.

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Da esquerda para a direita, de cima para baixo: Ava Duvernay, Raoul Peck, Ezra Edelman, Roger Ross, Bradford Young e Joi McMillon

 

A categoria de melhor documentário merece ainda mais atenção: Ava DuVernay (13th), Raoul Peck (I Am Not Your Negro), Ezra Edelman (O.J.: Made in America), e Roger Ross Williams (Life, Animated). Até essa edição, essa categoria contava apenas com três indicações, Ava DuVerney (maravilhosa) é a primeira mulher negra indicada. Fotografia e edição também contam com indicados negros: Bradford Young por A Chegada e Joi McMillon por Moonlight: Sob a Luz do Luar respectivamente, Joi sendo a primeira mulher negra a concorrer por melhor edição.

O Oscar 2017 está sendo histórico para atores, atrizes e demais produtores de conteúdo afro americanos, que finalmente estão começando a ter o reconhecimento merecido. Chega a ser irônico que essas indicações tão diversas tenham sido anunciadas apenas quatro dias depois da posse de um dos presidentes mais racista, homofóbico, xenofóbico, misógino e (insira qualquer preconceito aqui que provavelmente se aplicará) da história moderna americana. Mais do que nunca os negros, latinos, e demais “minorias”, precisam de incentivo e apoio para mostrarem todo o seu potencial.

Porém, embora eu esteja muito feliz que o #Oscarssowhite tenha surtido efeito, um diabinho não para de sussurrar no meu ouvido que isso pode não passar de uma estratégia política da Academia para acalmar os ânimos e dizer: “Olha aqui, temos negros agora, nos adorem”,  para daqui um ano ou dois voltar ao que era antes. Eu realmente espero que isso seja apenas paranóia e que daqui pra frente só melhore, contudo é difícil acreditar numa mudança permanente de uma instituição tão conservadora.

Outro ponto que colabora com o meu “pé atrás” é o fato de que, embora tenhamos recorde de indicações para pessoas negras, ainda temos outros grupos que sofrem com o desprezo da Academia, como por exemplo latinos, asiáticos e nativo-americanos. Rashad Robinson, diretor executivo do “Color Of Change”, comemorou as indicações, mas chamou atenção a demais representatividades: “Conquistar diversidade não é responsabilidade somente da Academia. Isso cabe também aos diretores de elenco, financiadores e ao estúdio que têm uma responsabilidade moral de apoiar projetos que contam histórias autênticas, compassivas e que refletem a diversidade do nosso país e dar oportunidade para profissionais negros, assim como latinos, asiáticos e nativo americanos dentro e fora das telas.”

A falta de indicação de mulheres também merece atenção. Várias discussões vêm sendo levantadas em torno da presença feminina em Hollywood, porém nesta edição nenhuma mulher foi indicada a melhor direção. Em roteiro, somente Allison Schroeder por Estrelas Além do Tempo foi indicada e até agora, nenhuma mulher foi nomeada ao prêmio de melhor fotografia. Tendo esses fatos em mente, devemos comemorar as conquistas atuais, mas não esquecer que há um longo caminho a ser percorrido e que devemos estar sempre vigilantes para que essas mudanças não sejam provisórias e se percam como lágrimas na chuva.

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