Cuidar em organizar a nossa luta por nós mesmos é um imperativo da nossa sobrevivência como um povo. (Abdias do Nascimento)
Este texto não é sobre a vida privada dos ex-participantes do Big Brother Brasil. Desculpe-me caso você esteja procurando coisas relacionadas a eles, ou sobre polêmicas que ocorreram no programa. Nos últimos meses, os conteúdos que despertavam mais interesse diziam respeito aos “confinados”. O pior é que parece não ter mais fim. Os assuntos seguem bombando nas redes sociais, mesmo com o término da edição.
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Diversos influenciadores negros não estão produzindo uma consciência crítica e emancipatória. Ultimamente se dedicam à criação de vídeos e textos sobre o reality show. Nenhum deles tem a coragem de assumir, mas sabemos que só querem engajamento. Não importa qual o conteúdo.
O comportamento racista dos participantes se tornou matéria-prima para os influenciadores; sempre pautados no debate moral. Nesse sentido, há uma lição da revolucionária Assata Shakur que carrego para a vida: “ninguém na história conquistou a liberdade apelando para o senso moral do opressor.” Eu compreendo que muitas coisas precisam ser discutidas, entretanto, se compararmos com as urgências do povo negro, os conteúdos são irrelevantes.
É muito bizarro. As pessoas estão tão focadas no programa que discutem intensamente com quem não compartilha da mesma opinião. E o mais triste disso tudo: negros brigando com outros negros. Até linchamento virtual tem ocorrido. Os racistas adoram, pois os privilégios que gozam não correm o perigo de ser destruídos.
Enquanto permitirmos que as distrações promovidas pela branquitude sejam prioridades, a exploração capitalista, a violência policial, o desemprego, as condições precárias de sobrevivência, o sofrimento nas filas dos hospitais e tantas outras mazelas cotidianas, não cessarão. Os negros devem fortalecer a comunidade com meios que deixem de depender do sistema branco. Notem que a situação no país é desoladora, a extrema-direita tem conseguido impor aos poucos a própria agenda. Até recomendo aos desatentos que deem uma olhada no que está acontecendo no Executivo, Judiciário e Legislativo, e reflitam qual o impacto na realidade concreta do povo negro.
A minha impressão é que muitos irmãos e irmãs naturalizaram as condições de sofrimento. Estão desiludidos. Não acreditam na superação por conta de mais de cinco séculos de privilégio branco. “Os entretenimentos servem como fuga da realidade, já que nada muda pra nós”, disseram-me. Eu discordei. Desistir de lutar não pode ser opção.
Ademais, que as dores provocadas pelo racismo consigam nos levar a tal ponto que a organização, as discussões focadas em estratégias econômicas, políticas e sociais sejam um caminho inevitável; e as distrações da branquitude não consigam nos aprisionar.
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