Mario Theodoro com seu livro “A Sociedade Desigual: Racismo e Branquitude na Formação do Brasil” e agora, Michael França e Allysson Portela, que acabam de anunciar o lançamento do livro “Números da Discriminação Racial”, nos levam a repensar políticas de promoção da igualdade racial.
Ao tabular e analisar longas séries históricas de dados sobre a evolução das disparidades raciais no país percebe-se que, em muitas dimensões, não avançamos quase nada e, em determinados casos, estamos regredindo. No mercado de trabalho, por exemplo, desde 2010, negros ganham, em média, cerca de 50% menos que brancos.
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Os dados sobre desigualdades raciais persistem. Apesar dos últimos esforços e as mais variadas formas de discriminação e estigmas enfrentados pelos negros, o racismo representa poderoso freio em seus desenvolvimentos individuais.
Historicamente, um quarto do crescimento anual da economia brasileira vai para 1% da população. Portanto, nossas políticas são voltadas para o 1%. Metade do crescimento vai para 5% da população. Toda nossa discussão é sobre um crescimento que está sendo apropriado pelos 5% mais ricos.
Um exemplo dessa disparidade está nas empresas de maior destaque na economia brasileira. Em cerimônia de premiação, em 2023, das 150 melhores empresas para trabalhar promovida por “Época Negócios” e “Valor Econômico” temos a exata noção de como as desigualdades irão persistir nos próximos anos. Nestas empresas só 11,2% dos funcionários se declararam pretos ou pardos, 6,5% homens e 4,7% mulheres.
Os programas de investimentos em diversidade são modestos, tímidos, com pouquíssimo investimentos e muito distantes de uma sociedade em que negros estejam de fato representados. Na sua maioria, essas empresas se resumem a oferecer treinamento contra o racismo para os gestores em geral.
As organizações são ambientes cuja tradição é de maioria branca e heterossexual. Abrir espaço para negros é um desafio que exige sensibilidade, persistência e mudança de atitude política. Há um olhar de tratar as políticas de diversidade como uma forma de assistência social, que não há nada de errado nisso, se pudesse ser realizado em escalas condizentes com as necessidades da população negra.
Um exemplo positivo ocorreu nesta semana: a ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos (PCdoB) deu uma entrevista para o Jornal Estado de S. Paulo em que disse que pretende ampliar a presença de negros nas carreiras cientificas e tecnológicas . Ela planeja em escala nacional uma versão do programa Embarque Digital. Este programa, exitoso em Recife, deu bolsas de graduação na área de tecnologia da informação (TI) a ex alunos da rede pública.
Segundo a ministra “há um déficit gigante no Brasil ( de profissionais nesse setor). Calcula-se que 100 mil vagas.” Pensar o Brasil exige dimensionar as desigualdades raciais e o tamanho do desafio, pois ainda não temos uma proposta de crescimento econômico que contemple as desigualdades raciais.
Olhar só o crescimento total da economia é ser negligente em relação à desigualdade. No geral, o debate sobre o crescimento no Brasil é sobre o crescimento total, não se discute se é um crescimento pró-pobre ou pró-rico. Deve-se olhar o crescimento pela distribuição, mudar a perspectiva. Como resolver essa desigualdade histórica? Não existe uma solução mágica.
Segundo o sociólogo Marcelo Medeiros, do Ipea, em seu livro : Os ricos e os Pobres, “para enfrentar os conflitos distributivos, não devemos subestimar as forças contrárias. Pessoas vão perder e vão disputar para não perder. Não vão ser coisas isoladas, não vai ser só educação, não vai ser só tributação. Vai envolver coisas em grande escala”.
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