Apesar da liberdade em frequentar praias, no sentido de que a maioria delas é considerada pública, para muitos negros Brasil, o surfe, esporte praticado no mar, carrega também o peso do racismo e da exclusão. Em meio a esse cenário, a ONG Todas Para o Mar (TPM), fundada pela surfista e ativista Nuala Costa, surge como um farol de resistência e transformação na praia de Maracaípe, no litoral sul de Pernambuco.
Nuala Costa, uma mulher negra que encontrou no surfe não apenas um esporte, mas uma ferramenta de empoderamento, relata os desafios enfrentados desde o início de sua carreira. “Eu cresci convivendo com injustiças e limitações que queriam impor a mim pelo fato de ser negra, e isso inclui também a minha vida esportiva. Não foi fácil já por ser uma mulher surfista, e o fato de ser negra colocava uma ‘grande lupa’ sobre mim e minhas atitudes”, conta. Iniciada no surfe aos 16 anos por meio de um projeto social, Nuala se deparou com a falta de visibilidade e patrocínio, resultado do racismo estrutural presente no esporte. Mesmo com o talento reconhecido em campeonatos como o Campeonato Brasileiro de Surf Amador, o Super Trials e o Circuito Nordestino de Surf, Nuala enfrentou barreiras que limitaram suas oportunidades.
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Determinada a mudar a realidade, Nuala criou a ONG Todas Para o Mar, com o objetivo inicial de dar visibilidade ao surfe feminino. A iniciativa rapidamente se expandiu, abrangendo a inclusão de jovens negros e suas famílias na prática do esporte. Atualmente, a TPM atende cerca de 120 mulheres e 80 crianças e adolescentes, proporcionando não apenas treinamento em surfe, mas também suporte educacional e socioeconômico.
“Com a construção do coletivo TPM, as mulheres negras e periféricas, em sua maioria chefes de família, conseguem ter um espaço para o desenvolvimento esportivo e educacional dos seus pequenos, além de acompanhamento socioeconômico para elas mesmas”, destaca Nuala.
O projeto é mais do que um espaço para a prática esportiva. As atividades incluem aulas de surfe, oficinas para confecção de pranchas e participação em campeonatos. A TPM oferece também aulas de letramento racial, alfabetização, espanhol, capoeira, maracatu, afoxé, arteterapia, teatro, dança e sessões de cinema. Para entender e atender às necessidades de cada jovem e suas famílias, são realizadas visitas domiciliares, um método que Nuala considera essencial para o sucesso do projeto.
“Formamos esses jovens desde cedo, para eles entenderem que, mesmo diante de entraves como o racismo, eles podem conquistar o mundo. Priorizamos muito as aulas de letramento racial, para que se reconheçam e reconheçam nos outros a prática do racismo, seja no ambiente esportivo e, principalmente, na vida”, explica Nuala.
Impacto na Comunidade
O impacto da TPM vai além das ondas de Maracaípe. O trabalho da ONG beneficia diretamente 250 famílias da comunidade, promovendo a autoestima e fortalecendo a identidade racial dos participantes. Nuala tem sido uma voz ativa na luta contra o racismo, a LGBTfobia e o sexismo, defendendo que a conscientização deve começar na juventude.
Com o surfe como catalisador, a ONG Todas Para o Mar transforma vidas e desafia as barreiras do racismo, criando um espaço onde o esporte se torna um instrumento de inclusão e resistência.
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