Olimpíadas: Onde estão os jornalistas negros cobrindo as medalhas do Brasil?

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Olimpíadas: Onde estão os jornalistas negros  cobrindo as medalhas do Brasil?

Enquanto alguns atletas negros fazem historia nas Olimpíadas de Tóquio, o jornalismo esportivo continua devendo em termos de diversidade e representatividade. Na entrega da medalha de ouro inédita para a ginasta Rebeca Andrade, quem fez a transmissão do ginásio de competição para chamar a reportagem do Esporte Espetacular do último domingo (1) foi uma repórter branca (Bárbara Coelho), mesmo após a repercussão positiva das falas sobre representatividade protagonizadas por Daiane dos Santos em relação ao desempenho de Rebeca na semana anterior.

O jornalista responsável por entrevistar a ginasta após as duas conquistas foi Carlos Gil, também branco. Frisando que Bárbara Coelho também cobriu os jogos da Seleção Brasileira de Vôlei Masculino, que tem entre seus protagonistas Lucarelli e Wallace (homens negros).

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Imagem: Instagram/Diego Moraes

A dobradinha Bárbara Coelho e Carlos Gil se repetiu em reportagem sobre a saúde mental da ginasta Simone Biles. Coelho chamou a reportagem e Gil narrou as dores de Biles e também da tenista Naomi Osaka, que enfrentam problemas em relação à saúde emocional. As duas são protagonistas do grande assunto até o momento nas Olimpíadas. A participação mais parecida com a história das principais retratadas foi da ex-ginasta e atual comentarista Daiane dos Santos, que acaba inspirando um ar de empatia pela experiência na pele como uma mulher preta que competiu em alto nível e sob as mesmas pressões.

Outro momento importante foi a eliminação da Seleção Brasileira feminina de futebol, pesando a aposentadoria da zagueira Formiga da Seleção e as declarações pedindo incentivo ao futebol feminino de Marta,a melhor jogadora de todos os tempos, ambas mulheres negras. Nas duas pautas não havia mulheres ou homens pretos contando essas histórias (a reportagem ficou por conta da repórter Lizandra Trindade).

Não é um depoimento contra a competência dos repórteres da Globo, que têm feito um ótimo trabalho na cobertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio, mas faz falta que pessoas pretas não possam cobrir a glória dos seus. 

E a situação se repetiu em outras modalidades, onde pouco se viu de pretos capitaneando reportagens, mesmo em esportes em que pessoas pretas são destaque. Hebert Conceição garantiu medalha no boxe depois de subir ao ringue ao som de Olodum e quem apareceu à frente das câmeras foi o repórter André Gallindo, também branco.

As exceções mais proeminentes foram as participações dos repórteres Diego Moraes e Karine Alves. Alves fez mais transmissões ao vivo para o canal fechado SportTV e para o Fantástico, ocasião em que entrevistou o judoca medalhista de bronze Daniel Cargnini. Na TV aberta Moraes fez a cobertura das oitavas de final da luta olímpica exibidas  no último domingo no Esporte Espetacular. A reportagem acompanhou Aline Silva (vice-campeã mundial em 2014), também sua namorada. Fato que resultou num texto de intimidade e sensibilidade bem-vinda. Aline Silva enfrentou a turca Yasemin Adar na categoria 76kg e acabou derrotada por 6 a 0. Moraes também cobriu o bronze da judoca Mayra Aguiar.O jornalismo brasileiro em geral sofre com a ausência de pessoas pretas na frente e atrás das câmeras. Negros são mais da metade da população brasileira, 56,10%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas no campo jornalístico representam apenas 23% dos profissionais de acordo com estudo feito pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) em parceria Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

No momento em que mais pessoas de pele escura poderiam ganhar destaque, visto que a Olimpíada ocorre após os históricos movimentos “blacklivesmatter”, onde dezenas de atletas negros se posicionaram e paralisaram competições pelo mundo, acaba sendo uma bola fora do jornalismo brasileiro em adiar a chance de mais apresentadores e repórteres negros se destacarem e assim mostrar para crianças e adolescentes que há espaço para eles contarem as histórias dos seus.

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