Quanto vale a vida? Muitos brasileiros estão fazendo essa pergunta a si mesmo por causa da pandemia e as declarações do presidente Bolsonaro em relação ao Coronavírus, mas diante do cenário tão espetaculoso e doloroso das mortes no Brasil, existe outro mundo de mortes que causam dor nesse momento. As milhares de morte de pessoas pretas (preta, porque negro surge do verbo escurecer/negar e não deve-se negar a origem, a cor, a raça de alguém) causadas, muitas vezes, pelas instituições que tem como valor a proteção, mas utiliza sua força como retração social.
O país da miscigenação. O país que não tem racismo. O país das brincadeiras. O país do homem cordial. O país em que a senzala ainda é visto como tal. O país que mata mais jovens pretos e colocam-nos diante de um estatística que nos faz perguntar “quanto vale a vida deles?”.
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Diante desse cenário escancarado socialmente, vemos a morte dessa população com os jovens de rostos escancarados e mostrados socialmente. Imaginem com a máscara? Com apenas 40% amostra de um rosto que já é apagado? Por isso, é preciso fazer mais uma pergunta – e peço desculpas ao leitor pela repetição – Mas a máscara traz proteção para quem? Quanto vale a vida dessa população? Uma ida ao mercado se torna perigoso, não apenas pelo medo de pegar uma doença que poderá ser curada, mas pelo medo de ser confundido com alguém que possa fazer algo contra a sociedade mais acolhedora do mundo. Com medo de um cassetete encostar-se a sua pele, medo de entrar em uma viatura e não voltar, medo que não exista um corpo, mas que suba uma estatística.
Nos EUA, o educador Aaron Thomas postou um twitter dizendo que não usaria máscaras de pano para sair de casa e vestiria apenas algo que mostrasse, realmente, que ele está tentando proteger-se contra o coronavírus. “Não me sinto seguro usando uma máscara de pano no rosto, pois sou um homem preto” “Quero ficar vivo, mas também quero ficar vivo.” Compartilhou em uma nova mensagem em sua rede de relacionamentos.
Já no Brasil, diversos relatos foram dados sobre a mesma situação. Homens pretos que foram seguidos na rua quando estavam de máscara ao sair para o mercado ou algum lugar mais distante de sua casa. Um estudante de Relações Internacionais do Rio de Janeiro foi impedido de entrar nas Lojas Americanas no mês passado por estar portando capuz e uma máscara caseira. Depois de denunciar o ato, o Departamento de Polícia do Rio cancelou o registro da denúncia com embasamento na Lei Estadual n°6.717 que proíbe a entrada de pessoas com a face coberta em estabelecimentos comerciais.
Não é novidade em nenhuma esfera social/racional, que o racismo é algo frequente nos cenários atuais, a maioria da população carcerária é preta, enquanto os universitários de todo o país não passa de uma aglomeração de pessoas brancas que reproduzem uma série de especulação sobre o primeiro preto que ousa sair da regra de estar em uma cadeia. Isso, infelizmente, não é tão diferente entre a polícia e seguranças do Brasil – relato pessoal: dado por uma pessoa que cresceu diante de conversas de pai e tios militares – a polícia enxerga como bandidos mais perigosos os de estereótipos já formados. O bandido homem, preto, jovem e com roupas de marcas “comuns entre eles”.
Imagine o homem com essas características usando uma máscara? Será que estará protegido na frente dos que lhe denominam “mais perigosos”? Esses são os principais temas e medos de usar uma máscara que deveria ser de proteção. Diante de um texto cheio de incertezas e impossibilidades e um cenário tão angustiante, surge mais uma dúvida: O que fazer para não morrer? Usar ou não a máscara? Ontem, lendo Angela Davis, li um trecho em que ela fala “Não acho que tenhamos alternativa senão permanecer otimistas. O otimismo é uma necessidade absoluta.” É isso! Além de permanecermos otimistas, irmãos de cor, devemos tentar mudar a realidade através daquilo que vivemos e lutamos.
Usem máscaras!
Lutem para não entrarem nos padrões que os donos do mundo querem!
Comecem a transformar e mostrar o quanto vocês são capazes!
Rakeche Nascimento
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