A comunicação de impacto surge não apenas como um reflexo de nossas interações sociais, mas como uma ferramenta capaz de moldar essas interações de maneira profunda. Em um mundo onde a diversidade das vozes nas mídias ainda está longe de ser um reflexo da diversidade nas ruas, a importância de iniciativas que promovem uma comunicação inclusiva e educacional torna-se evidente.
Em uma era de crescente conscientização sobre as disparidades sociais, a comunicação de impacto surge como uma ferramenta fundamental na promoção da igualdade racial. Empresas e organizações estão explorando maneiras de utilizar suas plataformas e recursos para enfrentar o racismo sistêmico, através da inclusão de vozes negras e de uma educação antirracista nos ambientes corporativos.
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Nos últimos anos, junto com o aumento das discussões sobre a luta antirracista, vimos dezenas de empresas cometerem “erros” que mais se assemelham a ações de marketing do que propriamente um deslize. Empresas, inclusive, que se posicionam a favor da diversidade, mas falham na prática, resultando em campanhas que perpetuam estereótipos ou excluem vozes negras de forma efetiva.
Em 2022, Arezzo, por exemplo, foi alvo de críticas ao homenagear a cultura africana em uma coleção que destacou predominantemente influenciadoras brancas, desconsiderando a essencial representatividade negra. A empresa recalculou a rota e, de forma embrionária, deu início a algumas frentes para fortalecer de fato o social. Outro caso é o recente da Mascavo, que se promoveu como uma marca inclusiva, mas não desenvolveu produtos para peles negras, utilizando modelos negras apenas como uma fachada de diversidade. A varejista inglesa H&M enfrentou um boicote internacional depois de usar uma criança negra para modelar uma blusa com a frase “o macaco mais legal da selva”, o que foi amplamente visto como insensível e racista. Além disso, a Dove foi criticada por um anúncio em que uma mulher negra se transformava em uma mulher branca após usar um dos seus produtos, sugerindo uma mensagem racista subjacente sobre a cor da pele.
Será que em pleno 2024 podemos considerar essas ações como falhas? Culpar o estagiário? Será que as empresas têm se comprometido com a luta antirracista de forma genuína e responsável, promovendo educação, diversificando posições de liderança?
Como a base de tudo é o compromisso com a educação, vale destacar ações de empresas e organizações que têm utilizado de ferramentas e ações que tendem a impactar positivamente a comunicação, elevando a régua de qualidade e, principalmente, a intolerância para esses “erros”.
Tradicionalmente, o marketing e a publicidade têm perpetuado estereótipos e excluído vozes marginalizadas, particularmente em grandes corporações globais como a Unilever. Isso reflete uma lacuna significativa entre a diversidade das equipes de criação e a diversidade das populações que eles pretendem atender.
A criação da Escola de Marketing Antirracista (EMA) pela Unilever é um passo audacioso para remodelar essa dinâmica. Ao investir aproximadamente R$ 1 milhão e colaborar com consultorias especializadas como a Indique uma Preta e Oliver Press, a Unilever capacita seus profissionais com um currículo que abrange desde a valorização das negritudes até a antropologia do consumo. Com mais de 350 funcionários participantes, a EMA já influencia o desenvolvimento de campanhas mais inclusivas e representativas, demonstrando um compromisso corporativo com a mudança estrutural.
A falta de diversidade nas agências de criação e produção de conteúdo frequentemente resulta em campanhas que falham em conectar-se com um público diversificado, especialmente em contextos culturais ricos e variados como o Brasil. Numa linha de atuação bem parecida com a Unilever, mas abrangente para todos o mercado, a Aue Creators, uma agência dedicada à produção de conteúdo com um forte enfoque na diversidade e inclusão, trabalha para preencher essa lacuna. Ao priorizar a contratação e a capacitação de talentos de comunidades marginalizadas, a Aue Creators não só enriquece seu próprio portfólio criativo, mas também estabelece novos padrões para a indústria. Seu trabalho vai além da criação de conteúdo, envolvendo-se em iniciativas que educam o mercado sobre a importância da diversidade na comunicação.
E voltando um pouco para a base, a comunicação social da perspectiva de estudantes afrocentrados, a subrepresentação de negros na mídia brasileira não é apenas um reflexo de um mercado de trabalho desigual, mas também um obstáculo para a verdadeira democratização da comunicação. O Instituto Repartir identificou essa lacuna e reconheceu a necessidade de atuação direta para capacitar comunicadores negros.
O Instituto tem se destacado por seu compromisso com a educação e a inclusão, oferecendo programas de treinamento, bolsas de estudo e parcerias com mídias para formar jornalistas e comunicadores negros. Além de promover a inclusão, o Instituto também trabalha ativamente para garantir que as narrativas sobre negros no Brasil sejam construídas de maneira autêntica e respeitosa, contribuindo assim para a transformação das práticas mediáticas no país.
O desafio de superar o racismo sistêmico na comunicação é complexo e requer um compromisso contínuo. No entanto, as iniciativas da Unilever, do Instituto Repartir e da Aue Creators demonstram que soluções práticas e educacionais podem levar a mudanças significativas. Ao investir em educação antirracista e promover a inclusão de vozes negras, essas organizações não apenas melhoram sua própria eficácia, mas também estabelecem um modelo para outras empresas seguirem. A comunicação de impacto, quando embasada na diversidade e na inclusão, não só reflete a sociedade como também tem o poder de transformá-la.
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