“Eu sou essa mulher louca, rebelde que não aceita viver sem liberdade”. Glória Maria nunca viveu para agradar alguém que não seja ela mesma. Falar sobre questões raciais, não era o assunto preferido dela. Não foram poucas as vezes que ela foi criticada, inclusive, pela comunidade negra. Um exemplo foi quando durante uma entrevista em ao Glamurama, em 2020 ela disse “Eu acho tudo isso um saco. Hoje tudo é racismo, preconceito e assédio”. Concordando com ela ou não o fato, é que ela colocou luz a um fato que as pessoas brancas desconhecem: nós negros não pensamos de maneira uniforme sobre tudo.
Durante sua participação no programa Roda Viva mais uma vez, indagada sobre as cobranças da militância negra que esperava a jornalista falasse mais sobre racismo, ela responde com firmeza: “Só de ser quem eu sou… não tem posicionamento maior do que esse”, disse ela ao explicar que foi a primeira pessoa a usar a “Lei Afonso Arinos“, no Brasil.
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Padrão estético, mesmo para ela que começou há 50 anos, nunca foi uma opção. “No começo da minha carreira, eu usava o cabelo black power porque eu queria usar. Não porque ninguém me falou que era um movimento negro. Usei anos, de várias maneiras. Depois, deu, não quero mais. Porque eu faço da minha vida e do meu corpo o que eu quero, e não o que as pessoas querem que eu faça”, comentou a jornalista em entrevista ao Mano Brown.
É indescritivelmente satisfatório ter vivido na mesma época que ela viveu. Em 1977, Glória Maria foi a primeira repórter a entrar no ar ao vivo e a cores no ‘Jornal Nacional’ e desde lá ela só cresceu na TV e na vida pessoal. Namorou muito e, de acordo com ela, chegaram a ser três homens simultaneamente. Ela conheceu 80% do planeta e foi ela mesma o tempo todo. “A minha vida é única e intrasferível”.
A mente livre de Glória foi fundamental para que ela entrasse para história do jornalismo brasileiro. “Sou movida pela curiosidade e pelo susto. Tenho que perder a racionalidade, deixar a curiosidade e o medo me levarem. Aí faço qualquer coisa”.
Poder ir para onde quiser e falar o que quer, para quem é negro, não é sempre confortável. Por isso é lastimável que ela tenha ido tão cedo. Ainda tínhamos tanto para aprender com Glória, mas como mulheres como ela são eternas, que possamos aprender a lição de que somos livres e precisamos usar mais desse direito, assim como ela, sem medo de ser feliz.