Nascer, crescer e ressignificar situações, como se não enxergasse os problemas. Quem já ouviu a música Castelo de um quarto só, que já esteve entre as 10 mais tocadas nas rádios de todo o Brasil, gravada por Renato da Rocinha e escrita por Vinny Santé, pode imaginar a estrutura da moradia da maioria negra deste país. Talvez se emocione, como eu que voz escrevo, ao lembrar da luta que foi para sair daquele castelo de um quarto só.
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Vinicius Silva, nome artístico: Vinny Santafé. Ele é de Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Bem provável de você que está lendo esse texto não fazer ideia de quem é essa pessoa ainda. E por isso, venho apresentar o sambista de 35 anos, que antes de engrenar de vez no samba foi Seleção Brasileira de karate, bronze nos Jogos Pan do Rio em 2007; ajudante de obra, professor de karate em projeto social de sua cidade…Rodou, mas o samba está no sangue. O pai Bira da Vila é um dos compositores de Então leva, de Zeca Pagodinho; e Sorriso de banjo, de Jovelina Pérola Negra. E desde 2009, Vinicius foi deixando o kimono e as luvas de lado, para dar espaço às escritas de seu cotidiano embaladas ao som do samba. Foi um processo de reconstrução de identidade, do esporte ao samba, que se consolidou em 2017, ao assumir o nome Vinny Santafé nas rodas de samba do Rio de Janeiro.
E o que tem de genuíno nos sambas desse caxiense? “Senti no osso o que a pele faz, quando não é daquela cor da paz, me revoltei, gritei, lutei, sagaz, pra oprimido eu nunca tive vocação”; trecho da música Caixeiro Viajante, selecionada no próximo álbum do grupo Clareou. Vinny Santafé, em entrevista ao podcast Ubuntu Esporte Clube, falou sobre a importância de escrever sobre o cotidiano da periferia carioca. Ele canta o que observa, o que sente. No início deste ano, voltando de um show, o carro de aplicativo que ele estava, foi parado pela Polícia Militar. Ele foi questionado sobre o que fazia, para onde ia, o que portava e foi revistado, assim como a sua mulher foi, inclusive nas partes íntimas. Uma situação constrangedora e rotineira para o povo negro deste país.
Outro desabafo que Santafé traz através de samba, foi em relação à família que teve o carro alvejado por 80 tiros em Guadalupe, Rio de Janeiro. O músico Evaldo Rosa dos Santos, de 46 anos, morreu na hora. Os militares atiraram por engano e no trecho de 80 tiros, de Santafé, as palavras de indignação “você confunde furadeira com pistola, depois confunde guarda-chuva com fuzil, eu não confundo a pele preta violada, ensanguentada e estampada nas manchetes do Brasil”
As letras de Vinny Santafé são de protesto, ressignificação da infância sofrida e de uma boa injeção de energia e força ao povo negro, como em sua última composição, Pauperrecido, “você pode ser vitorioso, vai remar contra a maré, roer osso…É que pra vencer tem que ser carne de pescoço, moço, você pode ser o que quiser”. O samba é resistência e Santafé mostra que a nova geração não esqueceu as raízes, segue a luta contra o sistema.
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