Quais são os caminhos que vão ditar o futuro da moda? Para se pensar o futuro da moda é preciso entender o contexto atual dessa indústria. Segundo o relatório The State of Fashion 2020 da consultoria McKinsey e do portal The Business of Fashion, após um aumento de 4% em 2019, o setor experimentou um declínio de aproximadamente 90% no lucro econômico globalmente em 2020.
Apesar dos números serem desanimadores, é fundamental saber que a moda é muito mais sobre gente do que roupas, sapatos e acessórios. Sendo assim, para compreender os próximos passos da indústria da moda faz-se necessário atentar-se às pessoas que têm feito diferente para torná-la melhor.
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Felizmente nos últimos anos o Brasil tem assistido marcas incríveis emergirem e trazerem ao mercado novas formas de se criar e produzir moda. Coincidentemente essas pessoas são pretas e são elas que têm ditado o que podemos aguardar da moda nos próximos anos.
Trata-se de uma nova geração de criativos que trazem em suas marcas propósitos que ficam nítidos em cada peça e coleção. Marcas criadas para uma nova geração de consumidores cada vez mais atentos e conscientes também. A seguir, uma lista com nomes que merecem atenção em 2021:
Hisan Silva e Pedro Batalha da Dendezeiro
Sem dúvidas a marca Dendezeiro (@dendezeiro) foi uma das maiores revelações de 2020 e promete muitas novidades para 2021. Fundada em Salvador há dois anos por Pedro Batalha e Hisan Silva, a marca mostra todo o potencial criativo do nordeste por meio da representação e criação de peças autorais para corpos diversos. Só em 2020 a Dendezeiro lançou 3 coleções, estreou na Casa de Criadores e passou a assinar editoriais da FFW. Motivos não faltam para acompanhar os próximos passos da dupla.
Jal Vieira Brand da Jal Vieira
Moda como afetividade. Esse é o objetivo da Jal Vieria Brand (@jalvieirabrand), marca da paulistana Jal Vieira, que também integrou o coletivo Célula Preta da 47ª edição da Casa de Criadores. Por meio da coleção Minha pele costura a minha história, a estilista condensou de forma única os atravessamentos e resistências de ser mulher preta. Também em 2020, Jal viu as peças da coleção Ruptura – saia e blazer – serem usadas no clipe de Me Gusta da cantora Anitta com participações de Cardi B e Myke Towers. Vale aguardar o que Jal Vieira reserva para 2021.
Athos Henrique da NOVE
Criada em 2019 pelo estilista Athos Henrique de Belo Horizonte, a marca NOVE (@nove.mp4) mostrou em 2020 que é possível criar uma moda autoral e consciente, adequando-se a realidade dos consumidores com a leveza e frescor do slow fashion, mesmo num contexto pandêmico, por meio de lançamentos memoráveis. Depois de trabalhar durante 10 anos em grandes marcas do mercado de luxo nacional, Athos transformou a NOVE num verdadeiro laboratório de experimentações em construção. A coleção cápsula intitulada Memórias remodeladas, consolidou os sucessos da marca, que apesar de jovem, tem muito para mostrar ao mercado nos próximos anos.
Milena Lima da Mile Lab
Capitaneada por Milena Lima, mulher preta, lésbica e periférica, nascida e criada no Grajaú, São Paulo, a Mile Lab (@mile.lab) é em sua essência, uma marca de moda marginal ativista. Milena que é designer por formação, também é poeta e em incorpora em cada coleção o apelo por reconhecimento do corpo periférico e do pertencimento desses corpos em todos territórios possíveis por meio da arte, movimento e resistência. A coleção mais recente, Baobá, é um manifesto popular à valorização da cultura e identidade negra periférica. Fica aí uma marca revelação que promete gratas surpresas em 2021.
Helena Vieira, Luana Vitória e Thaiane Clarissa da STUDIO 64
Outra marca que tem como propósito reinventar e ressignificar a moda é a Studio 64 (@studio___64), das soteropolitanas Helena Vieira, Luana Vitória e Thaiane Clarissa. A marca nasce no final de 2019 com o garimpo de peças jeans que foram reutilizadas e transformadas em tops, biquínis, saias e regatas. O objetivo, segundo as sócias, é oportunizar peças que se adequem às formas e aos corpos das mulheres brasileiras. Em sua última coleção lançada no final do ano passado, Welcome Summer, a marca celebra a diversidade e a estação mais quente do ano através de patchwork de tecidos. A Studio 64 também integra o coletivo criativo Pala.
Gabriel Carneiro da Carneiro Studio
Apesar de ter nascido em meio ao caos (abril de 2020, auge da pandemia da covid-19 no Brasil e no mundo) a Carneiro Studio (@carneiro_sstudio) chegou trazendo todo o frescor e personalidade da nova geração de designers pretos à moda atual. Gabriel Carneiro, o jovem estilista de 25 anos por trás da marca, já assinou desfiles, editoriais e o estilo de artistas como Linn da Quebrada, Rincon Sapiência e Liniker. A marca de Gabriel, que também é publicitário, carrega em sua essência memórias familiares e vivências enquanto homem preto no universo da moda. Vale acompanhar o que a Carneiro Studio apresentará em 2021.
Iury Aldenhoff da Negro Piche
Com estampas vibrantes e super coloridas as peças da marca Negro Piche (@negropiche) do jovem empreendeor cearense Iury Aldenhoff de 24 anos, aposta numa moda agênero carregada de empoderamento, ancestralidade, leveza e conforto. As coleções da marca possuem peças que vão desde camisas, vestidos a pijamas com tecidos leves e estampas características do nordeste brasileiro, com produção local e artesanal – as roupas costuradas pela mãe do Iury, Ionete Rodrigues.
Gláucia Lopes da 370
Despertar a consciência nos movimentos. Com esse propósito, Gláucia Lopes criou em 2016 a 370 (@370oficial). Gláucia sempre conviveu com a costura em sua vida por influência das mulheres de sua família, em especial, sua avó e sua tia. A marca se baseia em processos conscientes para oferecer uma moda que seja responsável, sem abrir mão do conforto. Dessa forma, uma pantalona da 370 pode ser facilmente transformada num macacão, acompanhando os movimentos do corpo nos diversos momentos do dia a dia. Vale acompanhar de perto os próximos lançamentos da marca em 2021.
João Belfort da Moda do João
De São Luís no Maranhão vem a marca Moda do João (@modadojoao), que combina em suas peças alfaiataria, tecidos naturais, muitas cores e estampas transbordando as riquezas da região nordeste. João Belfort, publicitário e stylist de 30 anos, criador da marca, se inspira nas vivências locais para transformar cada coleção num verdadeiro manifesto de amor à moda autoral e regional. A Moda do João, que está presente no estilo de fashionistas como Luiza Brasil e Loo Nascimento, é uma das marcas residentes da HAUS 337, casa de criação coletiva localizada em São Luiz e grande aposta para este ano.
É revigorante ver marcas que nasceram ou que elevaram ao máximo suas criações mesmo em meio a um período tão conturbado sanitária, social e economicamente. 2020 revelou o potencial de criação e experimentação dos novos estilistas e designers pretos que irão moldar a moda das próximas décadas. Uma moda que fala de ancestralidade, arte e resistência.
Essa geração de criativos é a comprovação que o futuro da moda é sim preto. Que existem muitos caminhos a serem abertos e espaços que precisam ser ocupados. Agora é acompanhar os próximos passos, consumir e vibrar com cada uma dessas marcas e empreendedores.
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