Por Silvia Nascimento*
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Como funciona nos EUA, todo mundo sabe. Tem uma gota de sangue africano, é negro. No Brasil, ser negro, é parecer negro. Por mais que seu corpo seja composto por mais genes africanos do que europeus, e sua vó seja do tom da Jovelina Pérola Negra, a cor da sua pele é quem define a que “clube” você pertence ou que deseja pertencer. A questão aqui não é de certo ou errado, é apenas a maneira que a questão “raça”, funciona no Brasil. Por conta disso, o jogador de futebol Ronaldo, ao não se declarar negro, gera histeria na comunidade negra. E se definir como não-negro, não é apenas uma negação das suas reais origens. Ele provavelmente foi “lido” como branco ao longo de sua vida. A atriz Débora Nascimento também espanta muita gente se afirmando negra. Sua pele e olhos claros, dentro da cultura brasileira, lhe dão a permissão de ser o que ela quiser. Palmas para ela que decidiu ser coerente e atribuir aos seus ancestrais africanos vários traços da sua beleza.
O burburinho do momento, novamente, é a questão das cotas, que voltou à tona depois da repercussão do caso do aluno Mathias de Souza Lima Abramovi, tido como branco, mas que se declara afrodescendente, portanto negro, para ter vantagens no processo seletivo para o Instituto Rio Branco. Sabe a questão americana do sangue? Esquece isso. Vamos transportar a “leitura de uma pessoa“ e definir a que grupo étnico ela pertence pelo ponto de vista brasileiro. Como? Vamos fazer um exercício juntos, respondendo as perguntas abaixo:
O candidato, que se autodeclarou como afrodescendente:
a)Está no perfil físico dos negros vítimas de homicídio?
b) Teria alguma dificuldade, num processo seletivo de uma empresa por conta da sua aparência?
c) Seria motivo de piadas racistas na escola?
d) Seria preterido pela família da namorada, se ela fosse branca?
e) O segurança do shopping o veria como suspeito?
f) A senhora racista seguraria sua bolsa caso o avistasse na rua?
Ele pode ter mais genes africanos do que o Lázaro Ramos, mas ele não se encaixa no grupo de pessoas que sofrem de racismo em nosso país, e não, não precisa de nenhum tipo de benefício para chegar onde quiser. O próprio jornal O Globo o definiu como branco e este é provavelmente “o clube” a que ele pertença, mesmo que seus genes digam que não. Programas de ações afirmativas serão eficientes quando os envolvidos em sua implementação perceberem o óbvio: é a cor da pele que impede a ascensão do negro no Brasil. As dificuldades são proporcionais à quantidade de melanina. Chega de cinismo.
*Jornalista e Diretora de Conteúdo do Site Mundo Negro
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