“Nunca foi sorte, sempre foi Exu”: Paulinho e a quebra do estereótipo do futebolista cristão conservador

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“Nunca foi sorte, sempre foi Exu”: Paulinho e a quebra do estereótipo do futebolista cristão conservador
Imagem: Jörg Schüler

Paulo Henrique Sampaio Filho, conhecido como Paulinho, jogador do Bayer Leverkusen (Alemanha), escreveu uma carta para o site The Player Tribune falando sobre como enxerga os problemas do Brasil, preconceitos e amor ao futebol.

Paulinho esquerda Vasco politica
Imagem: Thiago Ribeiro/Agif/Gazeta Press

O que chama atenção na carta do jogador é a forma articulada de falar abertamente sobre o candomblé em um meio dominado pelo cristianismo, conservadorismo e ausência de posicionamento claro sobre os problemas do país. Cada palavra vinda da carta de Paulinho é alento para quem busca vida inteligente no futebol.

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Entre histórias sobre a infância, Paulinho mostra admiração ao Vasco da Gama, clube que o projetou nacionalmente e frisa  o aspecto vanguardista da instituição em relação à luta contra o preconceito. “O Colégio do Vasco da Gama, então, merece um capítulo à parte. É onde a gente aprende o que faz dessa instituição tão especial. O Vasco é o clube que cresceu por acolher a diversidade e aceitar as diferenças. Eu me identifico plenamente com esses valores”, escreveu.

Em entrevistas que costumam ser permeadas por proselitismo religioso genérico para evitar polêmicas com a massa fanática de maioria cristã. Paulinho não nega origens e a espiritualidade oriunda de sua ancestralidade preta. “Minha família tem ligação forte com o candomblé e a umbanda. Minha avó, minha mãe, minha tia… É algo que passa de geração para geração. Tenho muito orgulho da minha religião. “Se bem que…Religião, não. Prefiro chamar de filosofia de vida”, declara o atleta.

Todo o ano, fora das bolhas diretamente atingidas, o Brasil encara com naturalidade o racismo religioso que sai da boca de celebridades e de cristãos fanatizados. O futebol abriga personalidades que poderiam abraçar a causa da tolerância religiosa, mas preferem se calar. Para o jogador de 21 anos, a questão é íntima. “Uma coisa bem pessoal, que toca o meu coração. Sou eu comigo mesmo, entende? Cultuar essa filosofia me traz muita energia boa, muito axé. Como assentado e praticante, vou ao meu pai de santo sempre que estou no Brasil e peço proteção aos orixás, principalmente ao meu Pai Oxóssi e à minha Mãe Iemanjá. Exu é o caminho. Procuro saudá-lo antes de cada obrigação, de cada partida. Laroyé!”, saúda.

“Por tudo que nosso país já sofreu, temos não só o preconceito com religiões de matriz africana, mas também de outras naturezas, como de raça, gênero e orientação sexual”, reflete Paulinho, que hoje tem mais de 500 mil seguidores no Instagram. O que defendo, como uma pessoa que tem voz, é que eu não posso me dar o direito de permanecer calado. De não me posicionar diante de preconceitos e negligências”, diz.

“Ah, tá com a vida ganha’ Isso é o que muitos dizem sempre que eu manifesto alguma opinião sobre política. Não importa se sou um jogador de futebol que atua no exterior. Nada a ver com dinheiro ou patriotismo. Eu faço parte da sociedade. Continuo sendo um cidadão brasileiro, que se emociona ao ouvir o hino nacional”, escreve o lúcido Paulo Henrique.

O Brasil enfrenta a Alemanha pelas Olimpíadas amanhã em Yokohama e a estreia representa o pico (até aqui) na carreira de Paulinho. “Nunca foi sorte, sempre foi Exu. Axé!”, conclui.

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