“No RS, apenas dois longas-metragem de ficção foram feitos por diretores negros”, diz Gautier Lee, fundadora do MacumbaLab

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“No RS, apenas dois longas-metragem de ficção foram feitos por diretores negros”, diz Gautier Lee, fundadora do MacumbaLab
Gautier Lee. Foto: Divulgação.

A dificuldade enfrentada por profissionais negros no audiovisual é percebida e combatida por muitas realizadoras e realizadores por todo o mundo. Uma delas, é a cineasta Gautier Lee, que se uniu a outros especialistas da área e criaram o Macumba Lab, um coletivo de profissionais do audiovisual negros no Rio Grande do Sul.

“O Macumba Lab surgiu em 2018 após o 46º Festival de Cinema de Gramado. Naquele ano, nenhum dos profissionais premiados era uma pessoa negra. Isso desencadeou uma vontade coletiva de alguns profissionais em mudar a situação de equidade racial dentro do audiovisual gaúcho. O coletivo começou como um grupo de estudos de roteiro com cerca de 7 pessoas e aos poucos chegaram profissionais negros de outras áreas do audiovisual, como atuação, fotografia, cenografia, edição de som”, lembra.

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O racismo no segumento apresenta obstáculos seja para atividades banais ou atuações no mercado de trabalho, em que há a necessidade de se provar a cada dia, a cada trabalho realizado. “O mercado audiovisual ainda é muito dominado por uma velha guarda que consiste, em sua maioria, de homens cis hetero brancos acima dos 50 anos”, relata. 

Segundo levantamento feito pelo coletivo Macumba Lab, no Rio Grande do Sul, apenas dois longas-metrangens de ficção foram realizados por diretores negros. Sobre este assunto, conversamos com a diretora Gautier Lee, na entrevista que você pode conferir abaixo:

Na sua opinião, qual é o principal desafio enfrentado pelas pessoas negras no audiovisual hoje?

Um dos maiores desafios que profissionais negros do audiovisual encontram certamente é a inserção no mercado de trabalho. Há uma gama muito grande de profissionais altamente qualificados que, mesmo com trabalhos premiados, não conseguem se inserir ao mercado, especialmente aqueles que moram fora do eixo Rio de Janeiro-São Paulo. Isso é reflexo de diversos fatores históricos e econômicos. O fazer audiovisual iniciou-se no Brasil em 1898, apenas dez anos depois da abolição da escravatura. Como uma pessoa que uma década antes era considerada propriedade de outra iria ter acesso a equipamentos e fazer um filme? Deixamos de ser vistos como propriedade para sermos vistos como mão de obra barata, e esse pensamento segue vivo até hoje. Cineastas negros premiados pelo público e pela crítica são oferecidos as vagas de trabalho mais baixas da cadeia audiovisual. E é uma luta intensa e árdua para que ocupemos não somente essas vagas, mas também as vagas de lideranças tanto na cena independente quanto dentro das grandes produtoras e streamings.

Estamos às vésperas do Oscar, e temos grandes nomes de diretoras/es, atrizes e atores de renome internacional que ainda não chegaram a conquistar o prêmio. Qual é a saída para este tipo de situação?

O próprio Oscar alterou, em 2020, seus critérios de escolha. As mudanças, que só valerão a partir de 2024, visam contemplar mais diversidade na premiação, tanto em aspectos criativos como em aspectos técnicos. A criação de políticas de diversidade e inclusão em premiações é um ótimo passo para que caminhemos em direção a algo semelhante à equidade racial. Mas também é de extrema importância que hajam premiações voltadas exclusivamente para grupos minoritários como o BET Awards, que, anualmente, premia artistas negros e o Fade to Black Festival, criado e dirigido por mim, que premia e capacita roteiristas negros, além de profissionais negros de outras áreas do audiovisual.

Como o Macumba Lab tem incidido diretamente sobre estas questões?

O Macumba Lab atua em diversas frentes para promover o acesso de profissionais negros à indústria cinematográfica. O coletivo tem buscado democratizar a educação dentro da indústria promovendo oficinas, workshops e cursos de formação. Também lutamos por melhorias nas políticas públicas atuantes no Estado, fazendo parte e colaborando com outras instituições do audiovisual gaúcho. Nosso objetivo é compartilhar recursos, tanto financeiros como educacionais, com produtores negros e empresas produtoras criadas por pessoas negras. Segundo mapeamento do coletivo, em toda a história do Rio Grande do Sul, lugar onde o grupo nasceu e hoje funciona, apenas dois longas-metragens de ficção foram feitos por diretores negros. O Macumba Lab existe para mudar isso.

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