Estamos no início da elevação da temperatura das campanhas eleitorais tanto para o Planalto quanto para os governos estaduais e o que mais acontece em períodos de campanha é a exposição do que se entende como pontos negativos de um adversário para atacá-lo. Recentemente, isso aconteceu com o candidato do Partido do Trabalhadores, Luís Inácio Lula da Silva.
Ele aparece em vídeos divulgados pela primeira-dama Michelle Bolsonaro enquanto recebe um banho de pipoca. Na legenda, ela disse: “Isso pode, né? Eu falar de Deus, não”. Uma falsa simetria enganosa e que não faz sentido nenhum, especialmente se formos considerar que vivemos sob um governo cujo lema é “Deus acima de todos”, a despeito de estarmos em um estado laico.
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A máquina de ódio racista contra religiões de matriz africana rapidamente se ativou, com associações ao “demônio” e a “venda de almas”, figura e práticas presentes somente na mitologia cristã. A vereadora Sonaira Fernandes (Republicanos) compartilhou o vídeo, dizendo que “Lula já entregou sua alma para vencer essa eleição”.
Essas práticas deveriam simplesmente causar repulsa por parte daqueles que sentem um compromisso verdadeiro com o combate a desigualdades e enfrentamento às consequências do racismo na nossa sociedade. No entanto, elas causam mesmo preocupação. Não somente pelo alarido causado por quem faz esse tipo de propaganda vexatória, mas porque, infelizmente, essa incitação ao ódio traz efeitos negativos do ponto de vista eleitoral, e ainda piores para a vida de quem, de fato, professa as religiões de matriz africana em seu cotidiano.
Associar a imagem de pessoas de candomblé e umbanda ao satanás, a práticas negativas e serviços de malefício a outras pessoas é senso comum na sociedade brasileira. Não é preciso esforço nenhum para conseguir incutir esse tipo de imagem num eleitorado que já comprou ideias mais difíceis de engolir como que a terra é plana.
É por isso que é necessário combater diariamente os discursos que naturalizam as prátoicas de intolerância religiosa no cotidiano, no micro, nas relações pessoais. Corrigir e questionar quem ainda usa expressões como “chuta que é macumba”, por exemplo. Porque as eleições passam, e quem ficam somos nós, pessoas comuns sem aparatos de segurança para usar seus fios de conta, usar roupa branca às sextas-feiras e realizar seus cultos em território sagrado.
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