
Em entrevista ao Mundo Negro, o ator, diretor e escritor Lázaro Ramos falou sobre o lançamento de seu mais recente livro, Na Nossa Pele, obra que entrelaça memórias pessoais com reflexões sobre arte, identidade negra e justiça social. O livro, que será lançado oficialmente no dia 18 de março, homenageia sua mãe, Célia Maria do Sacramento, falecida quando ele tinha 18 anos, é descrito por ele como uma forma de resgatar a história dela e de outras figuras negras que influenciaram sua trajetória.
“Escrever um livro foi também para me lembrar tudo o que minha mãe era. Não só a trajetória mais sofrida”, contou o escritor ao relatar como sua mãe é uma das figuras centrais na sua formação, influenciando não apenas seu humor e jeito de ser, mas também sua visão de mundo. “Esse livro é uma maneira de eu dizer sim à minha mãe, dizer sim a ela com tudo o que ela me ofereceu e com tudo o que ela era. É uma maneira de olhar com mais generosidade para essa mulher. Foi bem curativo”, revelou.
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O livro também aborda temas como emancipação, mobilidade social e a importância de olhar para as gerações mais velhas. Ramos enfatizou a necessidade de valorizar os saberes dos mais velhos, mesmo quando eles não vêm em discursos estruturados. “Uma coisa que a gente precisa fazer é não transformar os mais velhos em ultrapassados, eles são desse tempo também. Eu falo para o meu pai ‘você é de agora, vamos juntos aqui’. Meus mais velhos têm muito saberes que adquiri com eles, e isso tem sido muito importante na minha trajetória. Valorizar a trajetória deles. Às vezes os meus mais velhos não tem um discurso estruturado, acadêmico, mas têm tantos saberes, tanto aprendizado, que para mim só poderia vir a partir deles. Eu escuto de um outro lugar”, disse.
“Eu quero que as pessoas saiam fortalecidas. Nesse livro eu falo sobre as coisas dolorosas, mas não é para parar por aí. É para gente encontrar caminhos. É para ter consciência dos desafios, mas é para gente encontrar caminhos. Quero que as pessoas sintam que tem algumas estratégias que já foram experimentadas e que também sejam úteis para elas. Não é um livro de diagnóstico, é um livro de apontar caminho”, descreve Lázaro Ramos sobre seu objeto com a escrita de Na Nossa Pele.
Luta contra o racismo e a arte
Ramos também discutiu a importância da luta antirracista e o papel da arte nesse processo. Para ele, a arte tem o poder de sensibilizar e abrir portas, embora não seja suficiente para resolver todas as questões estruturais. “Nosso trabalho no Bando de Teatro Olodum, por exemplo, sempre buscou valorizar nossa identidade e nossa estética. A arte não vai ser capaz de resolver tudo. Tem coisa que quem vai resolver é a política pública, o judiciário, mas a arte abre portas e sensibiliza, com certeza. E informa.”, explicou.
Questionado sobre a necessidade de equilibrar amor e firmeza na luta antirracista, o ator destacou: “É preciso se posicionar. Tem algumas coisas que amor não vai bastar. O que vai bastar é posicionamento, é o limite, é a lei. Amor a quem oferece amor e justiça a quem oferece justiça”, pontuou. “Não existe uma fórmula. Cada situação requer uma inteligência e uma sabedoria da gente para saber como vai enfrentar. Olha o que é a vida de uma pessoa preta, até esse trabalho a mais ela precisa ter”, concluiu o escritor.
Sobre o futuro, o ator falou do desejo de ver a população negra vivendo de forma plena, com acesso a direitos básicos como educação e lazer. “Sonho que a gente consiga ter uma vida plena, que a gente não tenha nosso tempo roubado pelo racismo, que a gente consiga desenvolver os nossos e as nossas crianças, tendo acesso a direitos. Que nossos mais velhos tenham saúde e descanso. Que a gente consiga ter uma ocupação na política. Sonho que a gente consiga ter pautas coletivas, mas que a gente consiga respeitar nossa individualidade. Enfim, estou cheio de sonhos”.
Na Nossa Pele, lançado pelo selo Objetiva, do grupo Companhia das Letras, chega às livrarias como uma obra que, segundo o autor, não se limita a diagnosticar problemas, mas também aponta caminhos para a superação. “Não quero que as pessoas estacionem na dor. Quero que encontrem estratégias para seguir em frente”, concluiu Ramos.
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