“E lançarei sobre ti coisas abomináveis, e envergonhar-te-ei, e pôr-te-ei como espetáculo“
-Naum 3:6
Notícias Relacionadas
Denzel Washington se torna o ator negro mais indicado ao Globo de Ouro; veja os filmes que marcaram sua trajetória
A$AP Rocky será a estrela do novo filme de Spike Lee, ao lado de Denzel Washington
O vencedor do Oscar, Jordan Peele, revolucionou e redefiniu o terror moderno com Corra! e depois Nós. Agora, ele nos traz um novo pesadelo pop: o épico de terror, Não! Não Olhe! O filme reúne Peele com o vencedor do Oscar Daniel Kaluuya (Corra, Judas e o Messias Negro), que se junta a Keke Palmer (As Golpistas, Alice) e o indicado ao Oscar Steven Yeun (Minari: Em Busca da Felicidade, Okja) como residentes em uma ravina solitária do interior da Califórnia que testemunham uma descoberta estranha e assustadora. Não! Não Olhe! Que co-estrela Michael Wincott (Hitchcock, Westworld) e Brandon Perea (The OA, American Insurrection), é escrito e dirigido por Jordan Peele e é produzido por Ian Cooper (Nós, A Lenda de Candyman).
Antes de mais nada é importante ressaltar que, apesar de eu achar o filme sensacional, consigo enxergar que ele será divisivo. Há pessoas que irão amar, mas também pessoas que irão odiar. Isso porque o filme não traz respostas imediatas, obvias ou soluções únicas pros que gostam de encontrar significados claros no que assistem. Não! Não Olhe! é uma metafora muito bem elaborada por si só e a analise que tentarei trazer aqui pode ser uma das dezenas que você pode encontrar por ai. E “dezenas” não é uma brincadeira.
Acredito que a metafora mais obvia em torno do filme é sobre como ele traz uma crítica a sociedade do espetáculo, sobre como a sociedade lida com a espetacularização das coisas. Durante o longa você nota que Peele trabalha diferentes perspectivas da forma de lidar com traumas e diferentes perspectivas da busca pelo reconhecimento e fama.
Ao mesmo tempo que os protagonistas estão lidando com algo que é extremamente perigoso o objetivo da maioria deles é tirar proveito da exposição que aquele perigo inédito pode trazer para eles. Seja proveito financeiro, seja fama ou até mesmo a busca pela cena perfeita em nome da arte. Eu consigo aqui falar sobre essas diferentes formas de olhar o perigo e desejar algo dele.
Emerald (Keke Palmer) está em busca do reconhecimento, da fama e espaço que ela não conseguiu conquistar com seu trabalho e talento e também o reconhecimento por seus antepassados negros que, embora tenham feito parte da história do audio-visual, não foram reconhecidos.
O.J ( Daniel Kaluuya) apesar de mais humilde e centrado também busca reconhecimento, talvez não exatamente da mesma forma que sua irmã, mas ainda assim uma busca pelo reconhecimento de sua familia.
Jupe (Steven Yeun) foi um ator de sucesso e após o incidente com um Chimpanzé no set teve sua série cancelada e passou a explorar essa tragédia por lucro. Além da busca pelo sucesso novamente, Jupe lida com trauma e a forma com a qual ele ainda acredita ter controlado o trauma enquanto jovem tornando-o capaz de controlar um perigo atualmente. Uma analise completamente irreal da situação, provavelmente emocionalmente guiada pelo trauma com o chimpanze no set em sua infancia.
O diretor de fotografia (Michael Wincott) busca um reconhecimento e consolidação através da arte. A partir do momento em que se dispõe a filmar o perigo ele acaba se entregando a esse objetivo e no fim nota-se o amor insensato pela arte.
Ainda dentro do filme temos representações da midia tradicional com um reporter do TMZ buscando o furo de reportagem e prejudicando o plano de O.J e Emerald.
É muito interessante ler o filme como uma crítica a como Hollywood se apossa de coisas que são além de compreensão, nesse aspecto podemos citar a propria personalidade humana, o interior de cada um, em prol de um espetaculo que ignora traumas, ou melhor, se apropria de traumas para lucrar.
Dentro de tanta analogia e metalinguagem, fica impossível não se deliciar com a ideia de que o perigo, na qual todos ali buscam encontrar reconhecimento, fama ou lucro, acaba por sugar essas pessoas para a morte. É como se todos girassem em torno da busca egoista por algo e no final das contas aquele buraco os levasse para o fracasso. Mais interessante ainda é que esse buraco vem dos céus, não é apenas um precipicio, é algo que os fazem olhar PARA CIMA, colaborando com a ilusão de ascenção a partir daquilo. Em vários momentos do longa Jordan Peele faz chover moedas e chaves, que podem representar a riqueza e a busca das pessoas por respostas e solução através das portas da fama. Mas essa chuva de moedas e chaves vem após a exploração da vida, são moedas e chaves retiradas de outras vitimas e estão cobertas por sangue trazendo consigo a morte.
Eu poderia passar horas falando sobre como esse filme é muito perspicaz em suas analogias e acredito que o mais interessante de tudo isso é que VOCÊ pode ser capaz de absorver muitas coisas diferentes das que eu absorvi.
Ainda existem muito mais interpretações e discussões propostas por Jordan Peele, mas acredito que eu poderia estragar sua experiência ao explorá-las nesse texto, por isso indico que vá aos cinemas o quanto antes.
Não! Não Olhe! Além de um trabalho magnifico de metalinguagem e cinematografia é visualmente fantástico e merece o seu IMAX.
Me procurem nas redes sociais, certamente eu quero discutir mais sobre esse filme 😀
Notícias Recentes
Dicas de desapego e decoração ancestral para o fim de ano com a personal organizer Cora Fernandes
Sueli Carneiro se torna a primeira brasileira reconhecida como cidadã beninense