Vamos combinar que o próprio fato de Fernando Holliday ter topado participar do podcast do Mano Brown já é bem inusitado, mas de uma forma positiva. Um debate entre homens negros de visões políticas opostas é sempre rico para quem quer tirar suas conclusões de um jeito mais profundo que memes e trechos aleatórios usados em postagens em redes sociais. É como o próprio Brown diz no início do seu programa Mano a Mano. “Eu resolvi trazê-lo porque eu me interessei sobre o que ele pensa. E eu quero saber dele” começa o rapper que confessa que foi orientado por muitas pessoas que ele admira a não fazer essa entrevista.
De cara Mano Brown já quer saber do Rap que Holliday, crescido na Cohab 5, fez. “Foi meio que uma aventura, eu tentei entrar no meio, testar durante a campanha, mas resolvi que era só aquilo”, disse Fernando que disse gostar de MPB, samba raiz e sertanejo.
Notícias Relacionadas
Dicas de desapego e decoração ancestral para o fim de ano com a personal organizer Cora Fernandes
Beyoncé supera recorde histórico e é a artista feminina mais premiada pela RIAA
Durante o papo Holliday confessa que seu interesse em política surgiu por conta de um professor de português, petista, fato destacado pelo vereador, no ensino médio em uma escola pública. Cotas eram alguns dos temas debatidos entre eles e por meio das conversas o lado mais liberal do jovem político desabrochou. “Foi a partir daí que comecei a gravar meus vídeos” descreveu Holliday que logo em seguida se uniu ao MBL incluindo aí o apoio ao impeachment da Dilma Roussef.
Destacamos alguns pontos interessantes da conversa:
Impeachment da Dilma
“Acho que o Governo Temer conseguiu trazer alguns avanços, poderia ter trazido mais, mas o meu grande arrependimento não foi nem o impeachment, esse eu acho que fiz corretamente, meu arrependimento foi o apoio ao Bolsonaro no primeiro turno das eleições de 2018”.
“Nunca achei que a Dilma propriamente tivesse organizado algum esquema de corrupção ou participado, mas sempre tive convicção que o governo dela permitiu que grandes esquemas acontecessem (…) acho que a grande diferença, que também vi no Governo Lula, é que a corrupção no governo petista buscava corromper o Poder Legislativo e o resultado disso era, portanto, subverter os sistemas democráticos”.
Paixão por Billy Holliday, Martin Luther King e Obama
“Uma figura que eu sempre gostei muito e está até no meu nome é a Billy Holliday. Eu acho que as músicas dela realmente me inspiraram. A que eu mais gosto dela, mas não foi a que ela escreveu, é a Strange Fruit, que seriam frutos estranhos, onde ela fala dos negros do Sul que eram os negros enforcados nos EUA. Além de Billy Holliday sempre gostei de acompanhar os discursos de Martin Luther King. Eu acho que o modo como eu falo, principalmente discursando, é meio que tentando imitar o MLK. Uma figura que eu gosto muito, apesar de não representar minhas ideias, mas eu gosto da história dele é o Barack Obama”.
Eu prefiro acreditar que você seja um jovem idealista (…) não é possível amar Billy Holliday e ser contra cotas, pergunta Brown
Eu concordo com o diagnóstico do que foi o terror da escravidão. Minha discordância sempre foi no remédio mesmo. ( Ele cita Florestan Fernandes). Se o Estado brasileiro tivesse dado condições, educação, qualificações profissionais para que as pessoas (negras) pudessem se incluir na sociedade naquele momento, ainda haveria as consequências do racismo, ainda haveria repulsa na cor da pele. (…) Independente da rejeição a cor da pele, muitos mais negros teriam sido inclusos nisso aí, seriam empregados, teriam seus negócios, muito próximo do que acontece nos EUA. (…) Por isso, hoje, eu defendo um sistema que corrija esses problemas sociais e eu acho que as cotas sociais são um caminho para isso. É quando você pega um aluno de uma escola publica de baixa renda e inclui na universidade. A maioria dessas pessoas são negras, mas nem todas serão, é verdade. (…) Há mulheres negras que não foram incluídas (nas cotas) por terem cabelo liso, mas sofreram racismo a vida toda. Se o critério tivesse sido social, essa mulher, negra de cabelo liso, teria sido incluída. Eu acho que a cota racial é uma inclusão de menor qualidade. Eu defendo a ampliação das cotas sociais”.
Mano Brown conduziu o podcast de 83 minutos como um irmão mais velho, ouvindo, contestando, aconselhando e colocando Holliday no lugar de um jovem idealista, mas que ainda tem muito a aprender. Apesar da visão distinta dos dois a conversa foi em tom respeitoso e até bem-humorado onde um sino era tocado quando os dois concordaram. “Gostaria que você repensasse sobre as coisas que você falou, sobre as coisas que você falou. Você representa a todos, não só a direita”.
Ouça o podcast na integra.
Notícias Recentes
FOTO 3X4: HUD BURK - Cantora
‘O Auto da Compadecida 2’: Um presente de Natal para os fãs, com a essência do clássico nos cinemas