Na prática a comunidade negra tem se beneficiado pouco de programas de diversidade e inclusão. Enquanto as questões femininas ganham cada vez mais espaço na mídia, publicidade e Imprensa, questões de raça não recebem a mesma importância.
Se falamos de representatividade, usar um interlocutor para falar sobre negritude, não é nem de longe, a mesma coisa que dar a “caneta” e o microfone para que o negro fale das suas percepções sobre sua comunidade e um mundo.
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É quase uma prova de racismo explicito, a constatação feita por uma pesquisa realizada pelo Gemaa (Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ações Afirmativas) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) que traçou o perfil de raça e gênero dos colunistas dos três maiores jornais impressos do Brasil: O Globo, Folha de S. Paulo e Estadão.
Vamos fazer continhas? As mulheres são mais da metade da população brasileira de acordo com o IBGE e tem uma representação que vai de 26% a 28% nos espaços opinativos dos três jornais pesquisados, massivamente ocupado por homens. A boa notícia é que as pautas femininas estão mais presentes nos noticiários. Um exemplo, é a Folha de S.Paulo, que tem um espaço dedicado à assuntos femininos, coordenada somente por mulheres brancas, mas já é um grande progresso.
Voltando aos números. IBGE diz que negros são 54% da população brasileira, mas somos menos de 10% dos colunistas.
Em um país racista, onde negros são as maiores vítimas da violência policial, doméstica e até obstetrícia, não temos porta vozes nos jornais de mais alcance nacional. Tem branco falando por nós, emitindo opinião sobre as nossas questões, cuja as informações foram obtidas não por vivencia, mas por pesquisas e entrevistas. Como a expressão da moda diz, nosso “lugar de fala”, foi entregue para que o branco discorra sobre nós. E eles “comem bola”, direto. A Folha de S. Paulo é assumidamente contra as cotas, por exemplo.
O Globo é o jornal que mais possui negros como colunistas e eles são apenas 9% do total. A Folha tem 4% de colunistas negros e o Estadão apenas 1%.
De acordo com os autores da pesquisa, Marcia Rangel Candido e João Feres Júnior. “ A mídia brasileira prioriza um olha sobre o mundo privilegiado e pouco condizente com a realidade nacional”.
Eu diria diferente. A mídia brasileira não tem interesse em mostrar a realidade da comunidade negra, seja ela de qual classe for. Eu acredito que temos muito mais a dizer do questões problemáticas sobre discriminação e racismo. Como o projeto Entreviste Um Negro, da jornalista Helaine Martins aponta, não somos nem fontes para entrevistas. Racismo explica. Na verdade é a única resposta para tamanha invisibilidade.
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