Museu Afro Brasil contesta manifesto sobre demissão de diretor artístico e conselho majoritariamente branco: “equipe qualificada e diversa”

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Museu Afro Brasil contesta manifesto sobre demissão de diretor artístico e conselho majoritariamente branco: “equipe qualificada e diversa”
Foto: Divulgação/Museu Afro Brasil

Cerca de um mês após a demissão do diretor artístico Hélio Menezes e a renúncia dos conselheiros Wellington Souza e Rosana Paulino no Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, em São Paulo, cerca de 800 artistas e intelectuais assinaram um manifesto em defesa do curador, famoso no cenário artístico global, e que também esteve à frente da última Bienal de São Paulo.

“É de se causar estranheza, portanto, como uma pessoa de tamanha qualidade profissional e que em pouco tempo tem conseguido trazer o museu novamente para o cenário nacional como um espaço de importância para a cultura brasileira tenha sido dispensado sem um amplo diálogo com a comunidade artística”, diz o documento assinado por Grada Kilomba, Camila Pitanga, Conceição Evaristo, Ailton Krenak, entre outras grandes personalidades. 

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“Ainda, é preocupante saber que o conselho administrativo e a assembleia constituinte deste museu são formados, majoritariamente, por pessoas brancas e de pouca relevância na área cultural e artística”, denuncia o manifesto.

Diante da repercussão do manifesto, o Museu Afro Brasil divulgou uma nota pública para a imprensa, nesta quinta-feira (24), para explicar a demissão do diretor artístico e as críticas ligadas à poucas pessoas negras que representam a instituição. 

Diferente do que afirma o ex-diretor artístico Hélio Menezes, os ex-conselheiros e o texto do manifesto, a instituição afirma que “a maioria dos membros dos Conselhos de Administração e Fiscal é composta por pessoas negras, incluindo a Presidência e a Vice-Presidência. Toda a diretoria da Associação é formada por pessoas negras, assim como a maioria do corpo gerencial, evidenciando o compromisso da AMAB com uma liderança representativa, coerente com a missão do Museu.”

Para a associação, o gesto de renúncia dos conselheiros em solidariedade à Hélio Menezes foi registrado com respeito, mas nega que a decisão foi tomada “com base em critérios técnicos, jurídicos e administrativos, orientada pela estabilidade institucional e pelo interesse público”.

Em nota, o ex-diretor artístico havia acusado o Museu Afro Brasil de práticas de pessoalismo e pouca transparência. No entanto, a Associação Museu Afro Brasil Emanoel Araujo (AMAB) “refuta veementemente qualquer insinuação de que a decisão adotada decorra de motivações pessoais ou de práticas não transparentes. O processo seguiu rigorosamente os princípios da legalidade, da transparência e da responsabilidade institucional, que norteiam todas as ações desta Associação.”

O Museu Afro Brasil afirma que entre os motivos para o desligamento de Hélio Menezes está ligada a exigências como “reajustes salariais automáticos e garantias financeiras pré-fixadas, incompatíveis com os princípios da legalidade, economicidade e interesse público que regem as Organizações Sociais.”

“Mesmo sem contrato definitivo assinado”, a instituição afirma que a AMAB cumpriu integralmente todas as obrigações acordadas com o então diretor, porém “ao final do processo, foi também proposta a possibilidade de readequação da função, na forma de contrato de prestação de serviços como curador autônomo — proposta que não foi aceita”.

“A AMAB lamenta profundamente que uma divergência contratual, de natureza institucional e administrativa, tenha sido exposta de forma parcial e descontextualizada, sem a observância dos canais formais de interlocução”, afirma em nota. 

Leia a nota completa do Museu Afro Brasil:

O Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, prestes a completar 21 anos de existência, reafirma seu compromisso inabalável com a valorização da história, da arte e da cultura afro-brasileira. Sustentado por um projeto coletivo e de caráter público, o Museu foi construído ao longo de décadas por centenas de profissionais, artistas, curadores, educadores e gestores profundamente comprometidos com sua missão institucional.

Fundado por Emanoel Araujo, artista, curador e intelectual de importância ímpar para o país, o Museu preserva e projeta seu legado desde seu falecimento em 2022. A continuidade da programação cultural, a preservação de seu valioso acervo e a regularidade de suas atividades demonstram a solidez da governança e o comprometimento de sua equipe técnica, curatorial, administrativa e educativa.

Importa lembrar que o Museu não é apenas um espaço expositivo: sua atuação envolve educação, pesquisa, preservação da memória, publicação de livros e catálogos e formação de público, em diálogo constante com escolas, universidades, territórios periféricos e instituições culturais de todo o país.

Diante das manifestações públicas relacionadas à saída de um ex-diretor artístico, a Associação Museu Afro Brasil Emanoel Araujo (AMAB), entidade gestora da instituição, vem a público esclarecer:

A destituição do referido diretor foi deliberada pelo Conselho de Administração da AMAB em 2 de junho de 2025 e ratificada pela Assembleia Geral em 16 de junho, em conformidade com os ritos estatutários vigentes. A decisão foi precedida de mais de 13 meses de negociações, acompanhadas por assessorias jurídicas independentes, voltadas à formalização de um contrato de trabalho que se mostrasse juridicamente viável e compatível com os parâmetros legais e orçamentários definidos pelo Contrato de Gestão firmado com o Governo do Estado de São Paulo.

Entre os principais impasses, estiveram exigências como reajustes salariais automáticos e garantias financeiras pré-fixadas, incompatíveis com os princípios da legalidade, economicidade e interesse público que regem as Organizações Sociais. Os recursos geridos pelo Museu são públicos e vinculados a metas pactuadas, estando sob fiscalização permanente da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, do Tribunal de Contas do Estado e do Ministério Público, o que impõe rigor e transparência em todas as instâncias de gestão.

Contratações, demissões e destituições são prerrogativas legais das instituições, desde que amparadas por seus estatutos e pela legislação vigente — como ocorreu neste caso, com base em deliberação colegiada e devidamente registrada.

Durante o período de vínculo, mesmo sem contrato definitivo assinado, a AMAB cumpriu integralmente todas as obrigações acordadas com o então diretor: remuneração, encargos legais, férias e benefícios foram assegurados com regularidade e boa-fé. Ao final do processo, foi também proposta a possibilidade de readequação da função, na forma de contrato de prestação de serviços como curador autônomo — proposta que não foi aceita. Todas as tratativas com o ex-diretor artístico foram devidamente documentadas e contaram com o acompanhamento de dois escritórios de advocacia independentes, especializados na gestão de organizações sociais.

A AMAB lamenta profundamente que uma divergência contratual, de natureza institucional e administrativa, tenha sido exposta de forma parcial e descontextualizada, sem a observância dos canais formais de interlocução. Divergências são naturais em ambientes colegiados e democráticos; entretanto, a forma como esta foi trazida à esfera pública contraria os princípios das boas práticas de governança e o respeito à ética institucional.

Quanto à renúncia de dois conselheiros, em solidariedade ao ex-diretor, o gesto foi registrado com respeito. A AMAB reafirma que a pluralidade de visões é bem-vinda nos processos institucionais, mas reitera que a decisão de destituição foi tomada com base em critérios técnicos, jurídicos e administrativos, orientada pela estabilidade institucional e pelo interesse público.

O processo de transição está em curso, com a criação de um conselho curatorial e a continuidade de uma agenda institucional comprometida com a excelência artística, a representatividade e o compromisso com o público.

O Museu é conduzido por uma equipe qualificada e diversa. A maioria dos membros dos Conselhos de Administração e Fiscal é composta por pessoas negras, incluindo a Presidência e a Vice-Presidência. Toda a diretoria da Associação é formada por pessoas negras, assim como a maioria do corpo gerencial, evidenciando o compromisso da AMAB com uma liderança representativa, coerente com a missão do Museu.

A AMAB refuta veementemente qualquer insinuação de que a decisão adotada decorra de motivações pessoais ou de práticas não transparentes. O processo seguiu rigorosamente os princípios da legalidade, da transparência e da responsabilidade institucional, que norteiam todas as ações desta Associação.

É fundamental reconhecer que uma instituição pública, com mais de duas décadas de trajetória, não pode ser reduzida à história individual de nenhum de seus integrantes. Seria injusto com os artistas, técnicos, curadores, educadores, conselheiros, gestores e com o público que, diariamente, constroem e sustentam um projeto de relevância nacional e internacional.

A Associação Museu Afro Brasil Emanoel Araujo segue firme em seu compromisso com a ética pública, com o legado de Emanoel Araujo e com a valorização da cultura negra brasileira.

Seguiremos adiante com serenidade, responsabilidade e compromisso público, cientes de que preservar e projetar o legado de Emanoel Araujo é uma tarefa coletiva, inadiável e profundamente necessária.

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