
Namorar depois na maturidade é um tabu entre casais negros. É como se estivessem realizando algo estranho. Na publicidade, raramente você vê casais negros maduros. Imagine um casal de namorados! Na novela “Dona de mim”, Yara (Cyda Moreno) e Jussara (Vilma Melo) rompem com o preconceito e se permitem namorar na maturidade.
Um acontecimento considerado corriqueiro entre os jovens, mas desafiador depois de determinada idade. A paixão se renova, o cuidado com o corpo ganha outro significado, o olhar para o parceiro ou parceira ganha momento de entusiasmo, pela redescoberta de como é gostoso sonhar e amar. Os filhos ficam desconfiados e muitos duvidam que os mais velhos possam ter desejos de namoro, de ficar juntos; é como se o amor tivesse prazo de validade, algo inexequível, impossível e improvável para pessoas com mais idade! Como estão enganados!
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A vida nos traz surpresas e aventuras inesperadas, independente da idade. Os olhares de Yara e Jussara são exemplos de poesia. São imagens alegres e divertidas. Reconhecem o desafio de retomar a vida a dois, mas retomam com alegria e disposição, e muita beleza, o destino de suas vidas.
Como são bonitas! A interpretação das duas mulheres negras da periferia tem um ar natural de elegância e beleza. Há uma desmitificação do fato que pontua que, após determinada idade, não existiria vida amorosa ou sexual. Cenas simples, como se preparar para ir a uma festa, se transformam em verdadeiros acontecimentos, com ida ao cabeleireiro do bairro ou a confecção de um vestido pela costureira. Toda uma economia é movida para atender às expectativas daquelas mulheres que ousam amar.
A luta destas mulheres negras pela sobrevivência e os cuidados com os filhos e os netos não deixam de ser um alerta de que a vida não é fácil. Exige trabalho duro, disciplina, fé ,apoio da comunidade e uma luta permanente para que elas se mantenham como referência de dignidade. A vida na periferia exige solidariedade e o maior desafio que é acreditar nos seus sonhos.
A interpretação das atrizes Cyda Moreno, como Yara, e Vilma Melo, como Jussara, possibilitam um debate que envolve homens e mulheres negras, questão muito bem registrada pela escritora bell hooks, que escreveu algo profundo quando disse: “Muitas mulheres negras sentem que em suas vidas existe pouco ou nenhum amor. Essa é uma de nossas verdades privadas que raramente é discutida em público. Essa realidade é tão dolorosa que as mulheres negras raramente falam abertamente sobre isso”. Eu acrescentaria que raramente os homens negros se permitem conversar sobre o assunto. Exige coragem e desprendimento. Em uma reunião só de homens, pouco se conversa sobre esse ponto que mexe com valores e lugares escondidos na alma masculina. Poucos têm a coragem de admitir. Mas quando o coração relaxa, alguns confidenciam e admitem que sentem que em suas vidas existe pouco ou nenhum espaço para o amor.
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