“Monstro” é adaptação do livro homônimo de Walter Dean Myers e conta a história de Steve Harmon (Kelvin Harrison Jr.), um jovem negro de 17 anos aspirante a cineasta., preso ao ser implicado num caso de assalto que acabou com o assassinato do dono de uma loja. Agora ele precisa provar sua inocência.
Filmes de drama de tribunal, por mais que se esprema a fórmula, sempre geram alguma tensão no espectador, e “Monstro” não é diferente. A escolha não linear de contar o que aconteceu pode quebrar o ritmo em alguns momentos, mas no geral é uma escolha inteligente ao incutir a dúvida no público se estamos acompanhando ou não a trajetória de um inocente ou de um culpado por assassinato.
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A narrativa vai e volta, misturando passado e presente, fazendo com que ao mesmo tempo que simpatizamos pelo personagem principal, fiquemos apreensivos pelo desfecho de seu julgamento. Ajuda na empatia a ótima atuação de Harrison Jr (já tinha mostrado seu talento no ótimo ‘Ao Cair da Noite’). O ator mostra um olhar angustiado, confuso e choroso, denotando verdade quanto a estar na pele de alguém que pode perder sua liberdade por um longo tempo. Apesar de jovem, Harrison prova que pode segurar um filme sozinho.
Para além de um drama de tribunal, ‘Monstro’ é um exercício de metalinguagem do diretor Anthony Mandler. Sendo o protagonista um fã da narrativa do cinema, a obra brinca com as possibilidades de estar sendo criada uma história dentro da história e até onde a busca por uma boa narrativa e bons personagens levariam alguém a se envolvr com amizades duvidosas. Mandler dirigiu videoclipes de Rihanna e Beyoncé antes de estrear na direção de um longa e essa experiência como se vê aqui na montagem ágil das cenas no julgamento e na beleza da composição de muitas das tomadas, como quando Steve está com a namorada em cima de um prédio ao entardecer. Sobretudo, ‘Monstro’ é um filme bonito de se ver.
A narrativa em off poderia ser cortada em algumas cenas, já que explica exatamente o que estamos vendo em cena, mas esse artifício conduz o filme de forma competente se juntar todo o tempo de duração da película. Aliás, é através da narração do protagonista que temos as reflexões mais incisivas sobre como um réu negro é visto por juíz, júri acusação. Não uma pessoa, não um inocente por presunção, mas um monstro que merece ser encarcerado.
As reflexões sobre o racismo estão lá, não explícitas pelo texto, mas na característica dos personagens e nas atitudes da polícia e do advogado de acusação (um caricato Paul Ben Victor).
Jeffrey Wright (‘Jogos Vorazes’) está bem como o pai preocupado com o filho, mas pouco tem a fazer. Quem tem mais tempo e se sai bem é Jennifer Ehle, conhecida pela série de 1995 ‘Orgulho e Preconceito‘. A atriz britânica é a advogada de defesa de Steve que nem parece indiferente ao acusado, mas também não entra na armadilha de parecer uma advogada completamente envolvida emocionalmente com o réu e sua família, tornando a atuação crível emcomparação com o que costumamos ver na vida real
“Monstro” é um filme bonito, que pede reflexão sobre como um homem preto que é acusado de um crime é visto antes mesmo da sentença e funciona melhor por causa do talento de Kelvin Harrison Jr.
O filme está disponível na Netflix.
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