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Desde a infância, viajar era mais do que um deslocamento – era um convite para descobrir histórias, conectar-se com suas raízes e transformar percepções. Foi assim que a pesquisadora independente, Talita Azevedo, decidiu criar o projeto “Presente Histórico”, com o objetivo de mapear lugares no Brasil com a história afro-brasileira apagada, resgatando memórias e conectando passado e presente. Acesse: presentehistorico.com.br)
Com um olhar sensível, Talita percorreu diferentes regiões do país, guiada por intuições e conexões pessoais. “Eu comecei a sonhar com os lugares que viajaria. Foi uma viagem interna muito forte. À medida que um lugar era descoberto, eu tinha alguma intuição de quais seriam as próximas regiões. Foram dezenas de espaços conhecidos, mas priorizei 13 em regiões de maior familiaridade pensando nos desdobramentos deste trabalho e fluxo de informações a serem apresentadas ao público em um funil de aprofundamento a cada novo produto”, disse em entrevista ao Mundo Negro.
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Durante nove meses de expedição, ela documentou histórias, fotografou paisagens e estruturou um acervo digital acessível ao público. O impacto do apagamento histórico, especialmente em locais como Campinas, no interior de São Paulo, reforçou sua missão.
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“Campinas foi um grande marco. Para além de ser a minha cidade de nascimento, o fato de não conseguir encontrar informações suficientes para atestar com todos os fatos o processo de último local do mundo a abolir a escravização de pessoas sem dúvidas me desanimou um pouco. Afinal, eu estava de frente com a realidade do apagamento. A partir disso, decidi que meu trabalho teria foco em criar acervos do agora à frente. Fomentando os próximos passos das gerações subsequentes”, contou.
Em paralelo, ela desenvolveu a oná, uma metodologia que une criatividade e tecnologia, voltada para programadores e entusiastas da inovação. Agora, em 2025, Talita se dedica à publicação de um livro de bordo sobre suas viagens, a oferta de cursos em instituições e coworkings e a criação de colaborações com marcas para popularizar sua pesquisa.
Leia a entrevista completa abaixo:
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Como começou seu interesse por resgatar lugares historicamente apagados no Brasil e registrar isso no desenvolvimento do oná?
Eu sempre tive uma relação muito próxima com o processo de movimento pela minha construção enquanto indivíduo. Sou neta de um avô materno de Jequié, filha de uma mãe de Ilha Solteira e um pai de São José do Rio Pardo. Aos oito anos, com a autorização e direcionamento dos meus pais, pude fazer minha primeira viagem sozinha e me apaixonar pelo processo de descoberta que a vida na estrada poderia contribuir à mim.
Essa viagem seguiu a rota entre Campinas, interior Paulista a Guaxupé, cidade de Minas Gerais. Na época meu avô paterno morava na cidade e eu tinha a vontade de vê-lo nas férias. E assim o fiz. Me lembro de ter sido minha experiência de conciliar viagens com contato à raízes.
Desde então a rotina entre diferentes cidades sempre se fez presente aos meus interesses, entendendo como várias perspectivas somariam ao meu olhar enquanto criativa e estratégica.
A busca e a decisão da expedição em si veio por duas frentes: eu me sentia incomodada com o cenário artístico representar muitas figuras de mulheres revolucionárias já falecidas e o contato com a demência do meu avô, que me despertou a urgência de entender como diferentes habilidades que tinha construído até aqui poderiam contribuir a um acervo histórico à memória para minha árvore genealógica – que, posteriormente a isso, entendi como somaria à vivência de outros milhões de Brasileiros.
E, com essa relação entre tempo-espaço, me veio a escolha do site ser “presente histórico”, um recurso linguístico que consiste em utilizar o tempo presente para narrar acontecimentos do passado.
Em paralelo a isso, comecei de maneira tímida novas perspectivas com a oná, uma metodologia que tem como foco levar criatividade a profissionais e entusiastas de novas tecnologias.
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Quais os critérios que você usou para escolher os lugares que contou a histórias no oná?
Eu comecei a sonhar com os lugares que viajaria. Foi uma viagem interna muito forte. À medida que um lugar era descoberto, eu tinha alguma intuição de quais seriam as próximas regiões. Foram dezenas de espaços conhecidos, mas priorizei 13 em regiões de maior familiaridade pensando nos desdobramentos deste trabalho e fluxo de informações a serem apresentadas ao público em um funil de aprofundamento a cada novo produto. O livro, por exemplo, tem fotos e anotações das experiências – como um produto um pouco mais aprofundado (nível 2) do mapeamento (nível 1).
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Alguma história ou local te surpreendeu ou te marcou mais durante o processo?
Acredito que o maior aprendizado com este trabalho foi a necessidade que eu teria de fazer as pazes com o passado. Para além das lições que aprendi sobre as memórias de pessoas queridas à minha volta, tive algumas vezes que olhar ao espelho e entender que não seria capaz de criar recursos capazes de ir contra uma lei natural da vida: o tempo.
Esse insight aconteceu principalmente em Lagoa das Lontras, lugar próximo à Isabelópolis e que foi tomado pela vegetação e impacto de agentes naturais, como as chuvas, ventos e a ação cronológica do espaço.
Campinas também foi um grande marco. Para além de ser a minha cidade de nascimento, o fato de não conseguir encontrar informações suficientes para atestar com todos os fatos o processo de último local do mundo a abolir a escravização de pessoas sem dúvidas me desanimou um pouco. Afinal, eu estava de frente com a realidade do apagamento. A partir disso, decidi que meu trabalho teria foco em criar acervos do agora à frente. Fomentando os próximos passos das gerações subsequentes.
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Quanto tempo você levou para finalizar essa primeira etapa de viagens até o lançamento do projeto?
Para a expedição dedicada ao desenvolvimento do mapa (que até então era uma busca pela minha árvore genealógica), foram aproximadamente 9 meses – mas com o processo de estruturação e primeira versão ao todo são praticamente 1 ano.
O trabalho de mapeamento e o livro levam o nome de Presente Histórico, como um outro produto paralelo a essa movimentação. Minha forma mais artística e regionalizada de falar sobre pontos que formam meu olhar pessoal e profissional em tecnologia, uso de dados, criatividade e protagonismo Brasileiro.
Quanto ao oná, é uma metodologia que tem foco levar criatividade a programadores e entusiastas de novas tecnologias, é a minha vertente pensada para dar aulas de temas como:
– Análise de dados no marketing de influência
– Varejo com foco em expertises de startup
– História Brasileira e storytelling geolocalizado para Publicidade e Propaganda
– Desenvolvimento de Plano de Carreira
– Conceito de persona e formatos de conteúdo
– Novas tecnologias e ecossistema de inovação
– Inteligência regional Brasileira: cultura, História e tecnologia
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Você tem planejado fazer novas viagens em breve?
Por agora só pra divulgar o trabalho (risos). São muitos anos em diferentes coordenadas geográficas e acredito que para este momento é preciso criar colunas sólidas em regiões estratégicas. Em outras palavras, pretendo me fixar em Campinas e ampliar as metodologias deste trabalho para que seja cada vez mais colaborativo – abrindo o código para contribuição de programadores, sugestões de lugares vindas do público geral e, principalmente, a ampliação de diferentes layers de visualização – evidenciando o uso de dados como um grande trabalho em conjunto mesmo.
Quero que a temática da história seja relacionada não somente à inovação e tecnologia, mas também ao nosso poder de protagonismo em inteligência regional.
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Como tem sido essa nova etapa para 2025, com o objetivo de escrever um livro sobre as suas experiências, dar aulas e dialogar com marcas nacionais?
Desafiadora! E divertida! Me sinto muito abençoada com o privilégio de, a partir deste trabalho, conhecer pessoas a partir de suas histórias e motivações. Para além destes próximos passos que previamente desenhei, estou animada com a oportunidade de aprender e vivenciar outras possibilidades que o uso de dados podem somar à minha construção – e de tantos outros jovens para essa nova fase.
De modo geral acredito que este trabalho pode ser uma oportunidade de reescrever outros significados a palavras que já conhecemos anteriormente e, a partir dessa linguagem, seja no mercado corporativo-acadêmico-intelectual ou em uma cor de esmalte, todos nós sejamos protagonistas e conhecedores da nossa própria História.
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