Trinta dias hospedado em um belo hotel com todos os custos pagos pela empresa. O consultor comercial Nerferson Martins dos Santos, residente em São Paulo, achou que teria nos seus dias de trabalho em uma outra cidade uma experiência turística típica de executivos. O que ele não esperava é que sua hospedagem no Hotel Travel Inn Axten, em Caxias do Sul (RS), teria cenas dignas de filme de terror.
“Eles não repunham a toalha de banho e cobertor depois que retiravam. Sabonete, xampu, papel higiênico também. A empresa que eu trabalho pagou 8 mil reais para eu estar lá, então eu tenho direito como qualquer outro executivo que estava lá”, explica Santos que disse que ao sair do banho, não havia nada no chão para que ele pudesse secar seus pés.
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Além disso, Nerfeson notou que durante a limpeza, os funcionários do hotel mexiam em sua mala porque ele, cansado de pedir para ter cobertores e toalhas repostos começou a esconder coisas para que elas fossem mantidas no quarto, mas ele afirma que não roubou nada. “A partir do momento que eu não fiz o check-out eu não estou roubando, porque ainda está tudo lá dentro. Foram dias morando em um hotel, sentindo falta de tudo. Aí eu comecei a guardar o cobertor dentro da minha mala para eles não tirarem, porque a cidade é muito fria. Algumas coisas que eu comia e uma taça, eu coloquei em cima do armário e escondia com as minhas camisas para que eles levassem”, detalha Santos que disse que estava cansado de pedir por esses itens todos os dias durante sua hospedagem no Travel Inn Axten.
Ao notar esses abusos por parte do hotel, Neferson foi a uma delegacia fazer um boletim de ocorrência e, ao retornar, sua mala estava na recepção e o cartão de acesso ao quarto não abria a porta. “Imagine você chegando em sua casa, onde você está morando há 30 dias e sua mala estão na recepção, você abre e suas coisas estão arrumadas e não foi você que arrumou. Eu sou cara preto e gay. Eu tenho cuidado com as minhas coisas, com meus produtos de higiene pessoal que eu deixei tudo no banheiro arrumadinho. Tinha também a papelada dos meus gastos para prestar contas que eu tinha organizado data por data. Colocaram minhas coisas, minhas roupas, dentro do saco de lixo, todas as minhas coisas do banheiro. Riram da minha cara”, descreve.
Tudo foi registrado em um vídeo que o consultor compartilhou em suas redes sociais onde diz ter sido vítima de racismo.
CONSULTORA DE VIAGEM DÁ CONSELHOS PRECIOSOS
Tainara Rosa, fundadora da Keep Travel, agência de viagens de MG, explica a gravidade da conduta do hotel com Santos. “Extremamente triste o que Neff passou, ninguém merece passar por isso. Se ele pagou merece ser tratado com todo o respeito do mundo como qualquer outro hóspede. Isso não tem o que discutir”.
“Sempre recomendo os meus viajantes a trancarem suas malas e nunca, em hipótese nenhum pegar nada do hotel. Principalmente quando se trata de viajante negro. Sou muito zelosa quanto a isso. Outro ponto aqui é ele sofrendo todo esse preconceito que deveria ter sido reportado para a empresa que deu assessoria para ele com a reserva e deveriam ter mudado ele de hotel. Uma vez que ele não estava confortável no ambiente e tinha todo um cenário de hostilidade. Eu ligaria no hotel para entender o que de fato aconteceu”, detalha Tainara.
Sobre a trocas e reposição de objetos do quarto, ela diz: “Em muitos hotéis não é permitido levar alimentação para o quarto. Cobertor de fato algumas vezes é preciso pedir. Sobre a limpeza alguns hotéis cobram pela limpeza extra do quarto, o que deveria ser todos os dias não é sempre que cumprem”.
NOTA DA REDE DE HOTEIS
O Mundo Negro procurou a rede de hotéis para ouvir o seu lado da história e eles nos enviaram uma nota:
Hotel Travel Inn Axten Caxias do Sul não constatou a prática de discriminação em suas dependências, e levou o fato ao conhecimento das autoridades públicas por meio de registro de ocorrência policial e seguirá colaborando para a correta elucidação do episódio. A rede Travel Inn repudia e não autoriza a prática de qualquer tipo de discriminação, trabalha com a inclusão social e o respeito à diversidade.
A Direção.
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