Por Silvia Nascimento – Diretora de Conteúdo do Site Mundo Negro
“Nossa mamãe, esse lugar é lindo, mas não tem negros”. Essa foi a sensível constatação da minha filha Carolina, na época com 6 anos , sobre a ausência de pessoas como ela em um Resort em Florianópolis no verão de 2014. Eu observei com atenção sua voz expressão facial enquanto ela expunha sua inquietação e uma felicidade cresceu dentro de mim ao notar que ela tinha sim a sensação de pertencimento , que não se sentia “fora da caixinha” por ser, junto com suas irmãs Maria Helena (10 anos) e Julia (5 anos), as únicas crianças negras de um hotel famoso e lotado em alta temporada. As minhas três meninas circulavam onde bem entendiam, de cabeça erguida e nem percebiam alguns olhares tortos, para o seus cabelos armados e tranças.
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Maria Helena, a mais velha de 10 anos já me ensinou muito, até antes de nascer. Em lojas de decoração infantil, fica difícil de achar temas que se alinhem a ideia de um quarto de uma criança negra, em meio a tantas princesas de pele alva e anjos de cachos dourados. Mas o desafio vale a pena. E hoje, apesar de ela ter largado as bonecas, todas negras, até seus aplicativos no tablet e celular tem sempre uma personagem negra.
Estaria eu criando crianças racistas por só comprar bonecas e brinquedos estampados por crianças negras? Não até porque sabemos que racismo inverso não existe. O que acontece é que em gerações anteriores, como a minha e dos meus pais a indústria de brinquedos ignoraram de forma absoluta a existência de crianças não brancas. Até bonecas de cabelo escuro eram a minoria.
Gosto e preferências são fatores construídos socialmente e como mãe negra que crê que tão importante quando uma boa educação e plano de saúde é a o carinho e atenção que garantam que a criança se ame da maneira que ela é. Vejo que elas irão aumentar sua autoestima, assistindo aos desenhos com crianças negras, brincando com bonecas que se pareçam com elas, e claro, folheando livros com personagens negros.
A minha caçula, Julia, é como dizem por aí, do tipo que samba na cara da sociedade. Ela detesta cabelo preso e ama seu “black” bem armado e “fofinho”. Faixinhas no cabelo e até turbante ela gosta. É lindo também vê-la mostrando imagens de outras crianças negras na Internet ou TV e perguntando o que eu acho do cabelo ou das roupas delas.
Amar a si mesmas e respeitar as diferenças. E essa a lição que os adultos, familiares, professores, de todas as etnias devem ensinar as crianças. Gostar do que você é, não significa detestar o outro. E esse é isso que as minhas pequenas têm me ensinado.
O que a gente curte em casa:
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