Para estar mais perto dos filhos ou para ganhar um dinheiro extra, o fato é que as mulheres pós maternidade querem empreender. O livro “Minha mãe é um negócio”, de Patricia Travassos e Ana Claudia Konichi, que aborda a relação das mães e empreendedorismo, por meio de uma entrevista com 35 mulheres, mostra que 67% das entrevistadas começaram o negócio depois de terem seus filhos e 75% se sentem mais realizadas profissionalmente depois de abrirem sua própria empresa.
Como a maioria das mães da pesquisa, eu trabalhava fora até me tornar mãe. Tive três filhas em um intervalo de 5 anos e por ter uma grande demanda doméstica, achei que minha renda (complementar já que meu marido assumiu as contas quando parei de trabalhar) teria que vir de algum trabalho que me desse flexibilidade. Eu já tinha uma empresa aberta por conta de outros trabalhos, mas ela começou a ser ativa de forma efetiva, depois da maternidade onde comecei a ter renda por meio de anúncios no meu site Mundo Negro e como jornalista freelancer.
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Através de um grupo de mães negras no WhatsApp, descobri que há muitas como eu e outras que querem ser suas próprias patroas e neste último final de semana do Mês das Mães, decidimos nos encontrar em um evento organizado por mim e minha amiga Clelia Rosa, uma educadora engajada nas questões de maternidade tanto quanto eu, para conversamos sobre maternidade negra e empreendedorismo.
O depoimento vindo dessas mulheres durante o evento me trouxe vários cenários a serem estudados. O empreendedorismo negro vem em grande parte como uma alternativa à falta de emprego. Ou seja, não encontro trabalho, portanto, preciso por conta própria, gerar renda. Se sou mãe, a demanda financeira é ainda mais maior.
Apesar de inciativas crescentes de apoio à negros empreendedores, os espaços de negócios, quando discutem a questão de gênero ainda não são sensíveis à relevância de criar eventos específicos para mães empreendedoras. Eu mesma já tentei participar de alguns, mas desisti por conta dos horários que não eram amigáveis com que tem filhos pequenos.
E se temos mais dificuldades de crédito por sermos negras, imagine quando se é mulher e com filhos?
Também ficou evidente no encontro a vontade dessas mulheres trabalharem com negócios relacionados à negritude. Seja por meio de consultoria em suas áreas de formação, como Direito, Educação e Psicologia, seja oferecendo cuidados estéticos específicos entre outras formas de prestação de serviço, como eu que produzo conteúdo especializado em diversidade étnica.
Ser mãe negra e empreendedora é tão poderoso quanto complexo. Há barreiras que mães brancas não encontrarão, como a questão de crédito e por não sofrerem com racismo na captação de clientes. Sim, se sofremos preconceito na entrevista de trabalho, quem garante que não há esse risco como prestadora de serviços?
Mesmo dentro de um panorama com muitas dificuldades, sou uma otimista. Se muitos de nós temos famílias comandadas por mulheres, que muitas vezes são a única renda da casa, eu vejo que no futuro muitas mães negras gerarão além de renda, emprego e terão o reconhecimento da sua contribuição para e economia à frente de negócios bem-sucedidos, mas para isso ainda falta orientação, incentivo e crédito. Força de vontade, garra e criatividade já está em nosso DNA e a maternidade potencializa nossas virtudes.
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