Um episódio de agressão e racismo numa escola pública da cidade de São Paulo causou indignação e revolta. O ocorrido na escola Adelina Issa Ashcar, localizada no bairro Cambuci, foi denunciado por Thamires Rosa, ao relatar que sua filha de 6 anos foi agredida e xingada, com termos racistas, sofrendo uma série de hematomas nos olhos, quadril, membros e na região das costelas. A mãe expôs o descaso por parte dos profissionais da instituição pública que, segundo ela, não informaram registros das câmeras de segurança e agiram com negligência perante o caso.

A agressão aconteceu envolvendo a criança de 6 anos e outros dois meninos com idades próximas. A filha de Thamires esbarrou em um deles e, logo em seguida, foi surpreendida com um soco em cada olho. A menina tentou correr, mas outro menor de idade lhe segurou para que ela apanhasse ainda mais do primeiro menino. “Seu cabelo é feio e você é feia, viu sua urubu”, disseram as crianças, que eram brancas.

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“Eu como mãe estou despedaçada pelo fato das lesões da minha filha serem tão cruéis, dentro da escola. Levou um soco em cada olho, lesão na costela que ainda se encontra inchada, lesão na virilha esquerda e direita, braços com hematomas, além do trauma psicológico pois ela é uma criança que não costuma se queixar de nada, é extremamente forte“, lamentou Thamires através das redes sociais.

A mulher destacou que passou a frequentar a escola depois da agressão, buscando por respostas, mas não obteve sucesso e se sentiu constrangida pela forma como foi tratada pelos funcionários da instituição. “Passar por isso não é fácil. A gravidade das lesões me fez ir atrás da escola, e simplesmente a cada ida que fiz até a escola eu me senti constrangida pela forma que a administração diretoria agiu ao se posicionar a respeito da minha filha, e por mim, mulher preta, mãe buscando, justiça para que isso não ocorra mais com outras crianças“, revelou ela.

Descaso da escola

Thamires relata que fez um boletim de ocorrência na Polícia Civil do Estado de São Paulo e que em vários momentos observou negligência por parte da escola Adelina Issa Ashcar. Uma das inspetoras da instituição chegou a declarar que o episódio de agressão era algo ‘normal’. “Nenhum ato deve ser visto como normal quando se diz respeito a agressão, e a omissão da escola em não ter noção da gravidade desse ocorrido só [mostra] quanto estão despreparados para lidar com esses acontecimentos, cadê a preparação diante desses fatos, o discernimento e sabedoria para lidar com esse fato“, lamentou ela. “Minha filha chegou da escola com vida, mas vejo tantas mães e pais, que não conseguem ter a mesma sorte que eu tive, e na diretoria de educação novamente mais desrespeito“.

Após várias tentativas sem sucesso na escola, a mãe também procurou o conselho regional de educação de São Paulo, mas foi aconselhada a falar mais uma vez com o diretor da instituição pública. Esse, por sua vez, declarou que não estava sabendo do episódio de agressão. Thamires foi obrigada a mostrar os ferimentos da filha ao diretor e a todos os presentes na sala. Os representantes declararam que não estavam vendo as lesões.

No último dia 10 de maio, Thamires retornou à escola Adelina Issa Ashcar e foi surpreendida ao descobrir que o diretor se recusou a atendê-la. Uma vice-diretora foi responsável por conversar com a mãe, que precisou explicar todo o ocorrido mais uma vez. O advogado responsável pelo caso, Aguinaldo Benedito de Oliveira, declarou que os responsáveis e os órgãos competentes serão notificados. “Onde a mãe esteve, a mãe não teve a sua conduta respeitada em momento algum e a filha principalmente foi exposta negativamente, uma criança de 6 anos”, disse ele em conversa com o MUNDO NEGRO. O advogado disse que entrará com uma ação criminal e cível contra a escola. “Hoje nós temos uma forma administrativa de, principalmente, que essas pessoas de órgãos públicos respondam também administrativamente”, revelou o profissional.

Em nota, a Secretaria de Estado da Educação declarou que é ‘veementemente contra qualquer tipo de violência e discriminação, seja dentro ou fora das escolas’. “A equipe gestora instaurou uma apuração interna para identificar as supostas agressões e avaliar a conduta da equipe gestora sobre o caso. Além disso, convocou a responsável da estudante para uma reunião de definição das medidas restaurativas junto ao Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (Conviva-SP), que garanta o acolhimento da estudante no ambiente escolar“, declarou a Secretaria em nota.

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