O festival Liberatum, que atua em defesa da diversidade, igualdade e inclusão, estreou nesta sexta-feira (3), no Centro de Convenções de Salvador, no bairro da Boca do Rio, reuniu, no painel sobre cultura afro diaspórica, um dos mais esperados pelo público, os atores Viola Davis, Julius Tennon e Taís Araújo e a empresária Melanie Clarck, com mediação de Maurício Mota
Com falas potentes, Viola Davis ressaltou que ainda há histórias que precisam ser contadas, principalmente sobre as mulheres pretas. “Queremos aprender com os ancestrais, e isso é importante, mas a tarefa do artista é também a rebeldia. Porque mesmo quando contamos a nossa história, é sob o olhar do colonizador […] Precisamos do poder, da autoridade e da coragem para contar histórias de quem somos, sem pedir desculpas”.
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A atriz, que obteve mais destaque em sua carreira quando fez a série americana “How To Get Away With a Murder”, divulgada em diversos países, não tinha noção desse alcance. No decorrer do painel, Viola ainda desabafou sobre a opressão e sexualização sofrida por mulheres negras na TV e no cinema, onde sempre são vistas como complicadas e confusas.
“Você acaba percebendo que tudo o que te disseram sobre ser uma atriz negra é mentira. As limitações sobre as histórias, sobre o que as pessoas querem ver, eu chamo essas coisas de opressão internalizada. Quando o mundo diz para vocês que apenas uma certa parte da população, da história, é importante. Eu sempre acreditei que quando você faz algo como artista, que é honesto, as pessoas querem ver, e isso me empoderou”.
Ao lado da atriz, a empresária criativa, Melanie Clark, também integrou a mesa e declarou que é uma honra adaptar “O Beijo no Asfalto”, do escritor Pernambucano Nelson Rodrigues, através da JuVee Productions, produtora de Viola e seu companheiro, Julius Tennon. A história virou livro e já foi encenada nos teatros.
“É a história de um homem que se encontra em uma série de mal-entendidos. É uma história importante. Para ser possível fazer o que a gente da JuVee Productions pode fazer, não basta ter dinheiro, é necessário ter a capacidade de mostrar a história para todo o mundo”, disse Clark.
A empresária ainda enfatizou que as visões colonialistas dizem que a única verdade que importa é a dos colonizadores, mas não é. “Eles não entendem o poder da diáspora porque é vasto, diverso, rápido e ainda é guiado pelo poder antigo dos ancestrais. Os conquistadores tentam destruir nossa história mas eles não conseguem e é por isso que estamos aqui”.
A mesa contou com a presença de Taís Araújo, que falou sobre a importância de um evento como o Liberatum e que ações como essa precisam começar em Salvador, passar pelo Brasil e, quem sabe, por todo o mundo, destacando a Bahia como polo cultural.
“Uma cidade como essa, que é tão hospitaleira, que é tão linda, sou suspeita pra falar porque não casei com baiano por acaso. Acho que é muito atrativo ser aqui, não só pela beleza, mas porque a Bahia, como um todo, é um polo cultural muito importante para o Brasil”, afirmou.
Junto com sua esposa, Julius Tennon lançou em Salvador, na tarde de ontem (2), a produtora de audiovisual “Axé”, que promete ser uma ponte entre Hollywood e o Brasil. Durante a coletiva, Julius disse estar muito feliz de estar em Salvador.
“Estou olhando agora para cima, positivo. Nós temos o objetivo de estar juntos e nos conectar com o Brasil. A gente acha que é uma grande oportunidade de trabalharmos juntos, com uma comunidade. Todo mundo está apoiando esse novo momento de conteúdo do Brasil”, disse.
O Liberatum conta com ciclos de palestras em diversos pontos da capital baiana e ainda terá eventos exclusivos para convidados, como um jantar em um tradicional restaurante do bairro do Comércio, em homenagem à cantora maranhense Alcione. O festival acontece até o próximo domingo (5).
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