Texto: Rodrigo França
O show de Larissa Luz no AFROPUNK – uma das melhores apresentações da edição 2024, realizada no último final de semana – foi um turbilhão de intensidades que ecoou como um manifesto vivo, onde dança e música se entrelaçaram para criar uma manifestação visceral da cultura afro-brasileira. Na atmosfera carregada de energia e expectativa do evento, Larissa conduziu o público a um universo de canções inéditas, trazendo à tona uma performance que revelou a potência de cada movimento, cada batida, cada nota.
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A coreografia, magistralmente conduzida por Tainara Cerqueira e Elivan Nascimento, foi um espetáculo visual por si só, capturando o espírito do AFROPUNK em uma narrativa que honrou as raízes ancestrais, ao mesmo tempo que dialogou com a modernidade. Os bailarinos — Jéssica Santana, Preto Brasa, Lipe Silva, Paulo Arth, Dudé Conceição, Talita Lima, além dos próprios coreógrafos — deram vida a uma linguagem coletiva através de seus corpos, uma expressão compartilhada que foi além da dança e se transformou em resistência e celebração à diversidade preta. Cada gesto, cada salto, cada deslocamento tornou-se uma reverberação de força e beleza, ressoando a complexidade e a resiliência da experiência negra. O palco se tornou um espaço ritualístico, onde o movimento era sagrado, e o público, cúmplice dessa experiência transformadora.
Com faixas produzidas por Rafa Dias e sob a direção musical de Pivet Panda, que se apresentou também nos teclados, a banda encontrou uma sintonia com uma conexão orgânica, como se cada nota tivesse sua própria vida. As guitarras, nas mãos de Jad Ventura e do convidado Chibatinha, criaram uma textura sonora ao mesmo tempo densa e libertadora, enquanto a percussão de Dedê Fatumma e Rian Mourthé adicionou ritmos e nuances que remetiam às batidas ancestrais e às celebrações contemporâneas. A bateria de Lipe Bandeira, firme e precisa, agiu como o coração pulsante da performance, sustentando o espetáculo e concedendo-lhe uma cadência que hipnotizou e convocou à ação. Cada músico ocupou seu lugar com presença e intensidade, transformando o palco em um lugar de comunhão, onde cada som era uma forma de comunicação e um convite para o público se entregar por completo àquele momento. Vale sinalizar que todas vez que o arranjo nos conduzia ao rock, ratificava que o gênero é nosso.
No AFROPUNK, Larissa Luz (assina o roteiro e direção) encontrou o palco perfeito para expressar a subversão, a resistência e a inovação que constituem a essência desse festival global. Mais do que um evento musical, o AFROPUNK é um movimento cultural que celebra a negritude em suas múltiplas formas, proporcionando um espaço onde a arte negra não apenas existe, mas é exaltada e respeitada. O festival, que atraiu milhares de pessoas, se configurou como um ponto de encontro para indivíduos que compartilham o desejo de transformação e reconhecem na cultura negra uma força catalisadora de mudanças sociais. No meio dessa multidão, o show de Larissa Luz se ergueu como um grito de autenticidade e liberdade. Cada membro da equipe — desde os bailarinos até os músicos, passando por todos os responsáveis pela produção técnica — contribuiu para criar um espetáculo que foi muito mais do que entretenimento; foi uma experiência que tocou o público, levando-o a questionar, refletir e se engajar.
Ao final, o show de Larissa Luz no AFROPUNK foi uma celebração da potência negra em todas as suas nuances. Uma apresentação que não apenas entreteve, mas inspirou e provocou, convidando o público a participar de uma viagem sensorial e emocional. A coreografia e a música se entrelaçaram para criar uma experiência ao mesmo tempo ancestral e contemporânea, que honrou o passado ao mesmo tempo que construiu o futuro. Um ponto importante foi a lembrança que a justiça deve ser feita no caso da Vereadora Marielle Franco. No palco, Larissa tornou-se um farol, uma guia que conduziu o público em uma jornada de autodescoberta e conexão, reafirmando a importância da cultura afro-brasileira e sua capacidade de inspirar e transformar o mundo ao seu redor. O AFROPUNK, como cenário, tornou-se a metáfora perfeita para essa vivência: um espaço de resistência, de orgulho e de expressão, que permitiu que o potencial de cada artista — bailarino, músico, coreógrafo, técnico — se revelasse em sua máxima potência, criando um espetáculo inesquecível que permanecerá vivo na memória de quem o presenciou. Um show internacional.
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