*José Rezende
O filme “King Richard: Criando Campeãs”, produzido pelo diretor afro-americano Reinaldo Marcus Green, retrata a extraordinária história da família Williams em busca do sucesso no mundo esportivo do tênis e joga luz em temas como racismo, a priorização da educação e a importância da saúde mental. Além de evidenciar a trajetória das tenistas campeãs Vênus e Serena Williams, a superprodução debate temas tão reais e contemporâneos, que a ficção, por vezes, fica quase documental.
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Já é conhecido que o tênis é um esporte que possui uma técnica elevada e refinada, exigindo uma grande carga de horas praticadas e uma alta disciplina por parte do atleta. Isso torna a história da família Williams ainda mais rara: uma família afro-americana, com baixo poder aquisitivo, que consegue proporcionar técnica e preparo para, não só uma, mas duas filhas atingirem prestígio e reconhecimento dentro de um esporte predominante branco e elitista.
O que transformou a história dos Williams em filme foi a determinação e resiliência do clã em busca de um sonho. O sucesso foi uma consequência do comprometimento de todos os membros e, principalmente, da base sólida e segura que eles tinham como estrutura familiar. Porém a trajetória não foi nada fácil, tanto Serena como Vênus tiveram que vencer as dificuldades do esporte para aperfeiçoarem a técnica e se tornarem as melhores do mundo. Treinar a mente foi fundamental para que se mantivessem aptas e preparadas para as competições.
É comum vermos a sobrecarga mental como um dos fatores que podem ocasionar casos de ansiedade, estresse e depressão em esportistas. Com isso, ter uma dependência do resultado positivo no esporte, faz com que jovens atletas não se mantenham na carreira por questões envolvendo a sua saúde mental.
Nas Olímpiadas de Tóquio em 2020, o tema foi destacado quando a tenista japonesa, Naomi Osaka, decidiu deixar duas competições importantes para a modalidade do tênis: Roland Garros e Wimbledon. O motivo foi o seu bem-estar mental que foi afetado por conflitos com a imprensa e crises de depressão que ocorreriam desde 2018. Outro caso emblemático aconteceu com a ginasta olímpica Simone Biles que desistiu de participar da final de duas categorias para priorizar o cuidado com a sua saúde mental.
Falar sobre o autocuidado com a saúde mental não é mais uma grande novidade entre os atletas de alto rendimento. A saúde mental e o preparo físico se equilibram e caminham juntos rumo a um bom rendimento e uma boa performance. A falta desse cuidado e equilíbrio podem gerar consequências desde a formação destes atletas até o decorrer de toda a sua carreira.
“King Richard” mostra o quão árdua pode ser a vida de um atleta de alto rendimento, considerada uma das profissões mais exigentes do mundo. A necessidade de disciplina, determinação e principalmente controle emocional é determinante para que seja alcançado o resultado desejado. Um autoconhecimento físico e mental é o divisor de águas no desempenho de um esportista. Permitindo ao atleta diferenciar excitação de ansiedade, podendo se relacionar com os estímulos de forma motivacional ao invés de um fator inibitório. Tendo isso em vista, esse controle e domínio emocional com um acompanhamento adequado e plural se faz fundamental durante toda a trajetória.
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas por Richard e Brandi Williams, desde questões racias a financeiras, eles aparentam fazer um bom trabalho no desenvolvimento de Vênus e Serena. Incentivando as filhas a encontrar diversão e podendo viver a infância como crianças, nunca deixando de estimular o lado esportivo e competitivo das irmãs. O filme mostra que a família, o estudo formal e o comprometimento as formaram como são.
*José Rezende é Psicólogo Clínico e Esportivo (adulto e infantil) e Analista de Projetos da Condurú Consultoria.
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