Fazer parte de um grupo minoritário e viver no Brasil tem ficado cada dia mais perigoso. A nova, é que depois de uma onda de assaltos em Copacabana, região nobre do Rio de Janeiro, um grupo de moradores, quase todos brancos, decidiram formar um grupo de “justiceiros”. O objetivo é caçar suspeitos de assaltos na região. Nós, que somos negros, já sabemos no que vai dar. Eu conto ou vocês contam?

A ideia presente no conceito do racismo institucional é a de que as instituições são racistas, porque a sociedade é estruturalmente racista. Em resumo, as instituições refletem a sociedade. Deste modo, podemos pensar no judiciário e nas forças de segurança como instituições impregnadas de indivíduos moldados pelas forças de uma sociedade fundamentalmente racista.

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O que quero dizer é que qualquer formação de instituição por membros de uma sociedade estruturalmente racista vai dar em mais reprodução de racismo. Neste caso, falamos da instituição do linchamento, do justiçamento que, alias, é ilegal. O nome disso é grupo paramilitar, ou milícia. A branquitude acrítica, aquela que negligencia o racismo, tende a se orientar por repelir e punir o diferente. Afinal, Narciso acha feio o que não é espelho. Qualquer pessoa negra, principalmente homens negros, que vá caminhar por Copacabana será entendida como uma possível suspeita.

Vale muito lembrar o caso de Matheus Ribeiro, o jovem que foi acusado de roubar a própria bicicleta elétrica por um casal de pessoas brancas. Por um acaso, Mateus é negro. Por “coincidência” este “equívoco” aconteceu em um bairro da zona sul do Rio, o Leblon. Infelizmente, Quando se é negro, inverte-se a ordem do processo penal. Aqui, você é culpado até que você mesmo prove o contrário.

Um outro ponto que devemos levar em consideração é que as pessoas tendem a generalizar pessoas negras. Se uma pessoa negra se envolve em um assalto como autor, para os brancos todo negro será um potencial assaltante. Somando isso ao sentimento punitivista racista do brasilieiro médio, teremos algo parecido com o período dos linchamentos no sul dos EUA durante a segregação racial. Obviamente, esta ação criminosa ganhou apoio e diversos adeptos. Pessoas que sabem que, por serem brancas, estão fora do estereótipo procurando pelos milicianos.

Aliás, devemos nos atentar às formas de se falar em raça sem mencionar a raça. Quando se fala em “cidadão de bem” e “suspeitos/bandidos” há uma dictomia entre negro/branco, assim como “asfalto/ favela”. Uma dicotomia que se materializa nos dados estatísticos como, por exemplo, na maior parte da população carceraria ser formada por negros. Materializa-se no número expressivo de vítimas negras da violência policial. Estas estatísticas são resultado de um processo histórico que construiu os negros como inimigos do bem estar dos brancos.

Parece clichê, mas, provavelmente, estamos diante de mais um caso de pele alva caçando pele alvo. O cenário não é nada bom. Se a polícia militar, que é uma das forças de segurança legalizada, comete diversos erros contra nosso povo, imagine do que serão capazes os grupos militares que agem à margem da lei. 

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