No início do mês de outubro, Raimundo José, jornalista quilombola e um dos fundadores da TV Quilombo Rampa, canal no Youtube que transmite para o mundo a rotina, lutas, tradições e conquistas dos moradores da comunidade no Maranhão, levou a pauta da mídia popular e quilombola ao Japão.
Durante quatro dias, à convite da ONG ARTIGO 19, Raimundo acompanhou e palestrou na Conferência Internacional IGF2023 (Fórum do Governança da Internet) em Kyoto, ao lado da jornalista brasileira Gizele Martins, do Complexo da Maré (RJ). “Abordamos como a falta de acesso à internet nas comunidades de uma forma geral se configura em racismo digital e se traduz em um grave problema social”, disse o comunicador quilombola, em entrevista ao Mundo Negro.
Notícias Relacionadas
Beyoncé supera recorde histórico e é a artista feminina mais premiada pela RIAA
Vini Jr. é eleito o melhor jogador do mundo no prêmio Fifa The Best
Raimundo também relatou como foi a experiência de conhecer o Japão pela primeira vez. “Acostumado com a comida tradicional quilombola, passar dias provando a culinária japonesa foi um choque de realidade”, entretanto, ele também descreve como uma “experiência maravilhosa”.
Leia a entrevista completa abaixo:
Recentemente você participou da Conferência Internacional IGF2023 em Kyoto, no Japão. Quais pautas relacionadas às comunidades negras no Brasil vocês abordaram no evento?
As pautas abordadas na conferência foram várias. Muitas secções acontecendo ao mesmo tempo, durante os quatros dias de evento. Eu juntamente com a Gizele Martins, da ilha da Maré (RJ), abordamos pautas da nossa realidade, eu enquanto quilombola e ela quanto favelada, levamos pontos da nossas realidades de comunidades que conversam entre si.
Como o evento era sobre internet, abordamos como a falta de acesso à internet nas comunidades de uma forma geral se configura em RACISMO DIGITAL, e de como nesse mundo moderno e digitalizado, não ter acesso à internet de qualidade se traduz em um grave problema social, que vai desde a falta de acesso à comunicação e a falta de oportunidades na educação, por exemplo.
Sem uma conexão adequada, as comunidades tanto da zona rural, quanto da cidade, ficam distantes dos grandes e necessários debates. A notícia chega tarde, as comunidades ficam vulneráveis a muitas situações. Entre elas, ficam sem conseguir fazer denúncias em tempo rápido contra as mais diversas violações de direitos que sofrem. Levamos também a pauta das nossas realidades de como foi enfrentar uma pandemia com acesso limitado ao sinal de internet e em outros casos, sem acesso à internet e de como as comunidades sofrem na realidade sem esse acesso que deveria ser democrático.
Falamos também de como a comunicação popular quilombola, indígena, favelada e periférica, precisam de uma internet democratizada e de qualidade para contribuir na luta por direitos respeitados na atualidade moderna.
Durante os oito dias de viagem, você conseguiu se adaptar bem com a comida regional? Teve um alimento que você gostou mais e outro que gostou menos?
Não consegui me adaptar bem ao fuso horário no início, mas depois de 3 dias melhorou. Quanto à comida, pra mim foi um desafio a parte. Acostumado com a comida tradicional quilombola, passar dias provando a culinária japonesa foi um choque de realidade. O sushi eu não gostei não, agora um arroz frito com caranguejo e o yakissoba, gostei muito. Um desafio também foi comer com hashi. Foi uma experiência maravilhosa pra minha vida.
Quanto ao clima, você achou muito diferente do Maranhão, onde mora?
Fui em uma época em que a temperatura estava mais ao menos. Quanto ao clima não sofri muito, pois no quilombo tem uma época que fica a mesma temperatura, agora quanto ao fuso horário foi tenso, ficar acordado quando era pra eu estar dormindo e vice versa.
Notícias Recentes
Sueli Carneiro se torna a primeira brasileira reconhecida como cidadã beninense
Iza anuncia lançamento de música e clipe em homenagem à sua filha, Nala