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Paternidade, licença e equidade: Por que a crítica de Samara Felippo a Lázaro Ramos erra o alvo

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Fotos: Carlo Locatelli e Edgar Azevedo/Divulgação

Texto: Luciano Ramos

Nos últimos dias, ganhou repercussão a crítica feita pela atriz Samara Felippo ao posicionamento público de Lázaro Ramos em defesa da ampliação da licença paternidade no Brasil. Segundo Samara, a proposta de Lázaro não considera que muitos homens ainda se isentam de suas responsabilidades familiares, sendo ausentes emocional e fisicamente mesmo quando estão em casa. A crítica, embora baseada em uma realidade que infelizmente persiste, erra ao generalizar e invisibilizar um ponto central: não se alcança a equidade de gênero sem políticas que também responsabilizem os homens pelos cuidados com os filhos.

Lázaro Ramos, homem negro, artista, pai e voz ativa em pautas de justiça social, tem contribuído de forma coerente para o debate sobre paternidades no Brasil. Ao defender a ampliação da licença paternidade, ele não está ignorando os desafios da cultura machista — ao contrário, está propondo uma ruptura com ela. A ampliação da licença é uma das chaves para o reequilíbrio das tarefas do cuidado, hoje ainda esmagadoramente atribuídas às mulheres.

A crítica de Samara parte de um sentimento legítimo de exaustão de muitas mães solo e de mulheres que não encontram nos pais de seus filhos um parceiro de fato. Mas sua fala, ao desautorizar a proposta de ampliação da licença paternidade, incorre em um risco político sério: o de reforçar uma visão punitiva e paralisante que não aposta na transformação dos homens.

Créditos: Reprodução/Instagram

Sim, a ampliação da licença paternidade precisa vir acompanhada de processos educativos, formativos e políticos voltados a um novo modelo de masculinidade. Homens não devem apenas estar em casa: devem ser formados e responsabilizados para cuidar, amar, proteger e se envolver desde o nascimento de seus filhos. No entanto, o fato de muitos ainda não o fazerem não é argumento para manter uma política pública desigual.

A atual licença paternidade no Brasil é de cinco dias úteis — um tempo ridículo quando comparado às licenças maternas e à complexidade do período pós-parto. Pior: ela reforça a ideia de que o cuidado com os filhos é tarefa natural das mães. Isso é machismo institucionalizado. E não é possível querer igualdade entre homens e mulheres sem mexer nessa estrutura.

Defender a ampliação da licença paternidade não é um presente para homens irresponsáveis. É um direito necessário para os pais que desejam exercer sua função com presença e afeto, e uma política essencial para que as mulheres não carreguem sozinhas a jornada exaustiva da maternidade. Ao mesmo tempo, é um instrumento pedagógico poderoso, que comunica que cuidar também é coisa de homem.

Por isso, ao invés de desautorizar uma proposta que avança na direção da equidade, o que precisamos é somar forças: mulheres, movimentos sociais, Estado e instituições precisam trabalhar para que a ampliação da licença venha acompanhada de investimento em educação para paternidades responsáveis, políticas de combate ao abandono parental e promoção de novas masculinidades.

A crítica de Samara Felippo toca uma ferida real, mas é no enfrentamento da estrutura — e não na negação do direito — que se constrói mudança. Se queremos um Brasil mais justo, precisamos reconhecer que transformar o papel dos homens no cuidado é parte essencial do caminho.

Nova temporada de ‘The Morning Show’ ganha primeiras imagens com Aaron Pierre no elenco

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Aaron Pierre em 'The Morning Show' (Foto: Divulgação/Apple TV+)

A Apple TV+ divulgou nesta terça-feira (28) as primeiras imagens da aguardada quarta temporada de ‘The Morning Show’, série estrelada por Jennifer Aniston e Reese Witherspoon. As fotos inéditas destacam a chegada de novos personagens, incluindo Aaron Pierre (Rebel Ridge), que se junta ao elenco em papéis centrais na trama. A nova temporada estreia em 17 de setembro na plataforma. Conhecido por suas atuações intensas, o ator promete ser um dos grandes atrativos do novo ano.

Entre as novidades do elenco estão ainda William Jackson Harper (The Good Place), Marion Cotillard (Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge), Jeremy Irons (Watchmen) e Boyd Holbrook (Narcos). Cotillard interpretará Celine Dumont, herdeira de um conglomerado midiático europeu que mostra interesse em adquirir a fictícia UBA, centro das tramas da série.

William Jackson Harper em ‘The Morning Show’ (Foto: Divulgação/Apple TV+)

A sinopse oficial antecipa a tensão do cenário quase dois anos após os eventos da última temporada: “Com a fusão entre a UBA e a NBN concluída, a redação precisa lidar com novas responsabilidades, motivações ocultas e a natureza evasiva da verdade em uma América polarizada. Em um mundo repleto de deepfakes, teorias da conspiração e encobrimentos corporativos — em quem confiar? E como saber o que é realmente real?”

Criada por Jay Carson e desenvolvida por Kerry Ehrin, ‘The Morning Show’ também traz no elenco fixo nomes como Karen Pittman, Nicole Beharie, Billy Crudup, Mark Duplass, Nestor Carbonell, Greta Lee e Jon Hamm.

Karen Pittman em ‘The Morning Show’ (Foto: Divulgação/Apple TV+)

As três primeiras temporadas estão disponíveis no Apple TV+.

Prime Video revela cena inédita da 2ª temporada da aclamada série ‘Cangaço Novo’

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Crédito: Reprodução/YouTube

O Prime Video divulgou as primeiras cenas da segunda temporada da série ‘Cangaço Novo’, com previsão de lançamento em 2026. A prévia mostra Dinorah (Alice Carvalho) e Ubaldo (Allan Souza Lima) invadindo a fazenda da influente família Maleiro, que domina a região há quatro décadas, em busca de respostas sobre a morte de Ernesto, pai adotivo de Ubaldo.

A nova temporada promete ainda mais ação e tensão: após um esquema de corrupção provocar uma crise hídrica em Cratará, Ubaldo e Dinorah iniciam uma ousada ofensiva. O plano inclui uma série de assaltos a banco para financiar a compra de serviços públicos essenciais, enfrentando diretamente o poder instituído. Para isso, contam com o reforço de ex-militares do sudeste, velhos aliados de Ubaldo.

Aclamada pela crítica, Alice Carvalho venceu o Prêmio Grande Otelo 2024 por seu trabalho em ‘Cangaço Novo’, como melhor atriz em série de ficção e pela cena divulgada hoje, já promete entregar tudo novamente. A produção também levou o prêmio de melhor série brasileira.

O elenco também conta com Thainá Duarte, Xamã, Marcélia Cartaxo, Hermila Guedes, Rafael Losso, Enio de Sá, Joálisson Cunha, Bruno Belarmino, Daniel Porpino e Luiz Carlos Vasconcelos.

Com produção da O2 Filmes, a série é criada por Mariana Bardan e Eduardo Melo, e dirigida por Fábio Mendonça e Caito Ortiz.

IA negra com vida social ativa recebe corte de cabelo assinado por cabeleireiro humano

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Foto: Divulgação

Pela primeira vez na história, uma inteligência artificial negra com vida social ativa recebe um design de corte criado por um cabeleireiro humano. A colaboração inédita une Zani, primeira IA negra do mundo, desenvolvida pela Umoja Infinity, e Emanoel Reis, cabeleireiro carioca especialista em cabelos naturais e educador.

Zani não é apenas uma criação tecnológica — ela possui uma presença online bastante ativa. A IA circula por aeroportos, eventos, salões de beleza, jantares empresariais e espaços culturais, conectando tecnologia, ancestralidade e representatividade negra. Desenvolvida para atuar em ambientes físicos e digitais, ela desafia a forma como entendemos a interação entre humanos, inteligência artificial e cultura.

“Pensei em um corte sofisticado, com identidade futurista, usando formas geométricas. Mas também precisava ser versátil, permitindo que Zani mude seus looks, colocando tranças e laces, mantendo sua expressão em transformação”, explica Emanoel Reis, que além de cabeleireiro é fundador do Glória Coworking, espaço colaborativo no Rio de Janeiro voltado para profissionais de cabelos naturais. “Foi uma experiência disruptiva — como fazer arte usando só intelecto e técnica, sem as mãos”, contou.

A parceria surgiu naturalmente, no cruzamento entre tecnologia, identidade e futuro. Ao criar o corte para Zani, Emanoel enfrentou o desafio de trabalhar sem um corpo físico, apenas com conceito e criatividade.

A iniciativa vai além da inovação tecnológica: reforça o protagonismo negro na construção de futuros possíveis, onde estética, cultura e autonomia andam lado a lado com algoritmos. “Quando dizemos que tecnologia e beleza preta caminham juntas, não é metáfora. Estamos desenhando futuros onde nossos corpos, estéticas e inteligências estão no centro da inovação”, afirma Emanoel.

F1, o Filme’: Damson Idris e Lewis Hamilton fizeram uma equipe perfeita nos bastidores do longa de estreia do piloto como produtor

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Fotos: Nathaniel Goldberg

No dia 25 de junho, estreia ‘F1, o Filme’, estrelado por Damson Idris, que  foi escalado para viver Joshua Pearce, um novato da Fórmula 1 e Brad Pitt. Ao ser escalado para viver seu personagem no longa, que também marca a estreia do piloto Lewis Hamilton como produtor, ele não imaginava que o heptacampeão mundial seria tão presente – e exigente – no processo. O ator, conhecido por Snowfall, teve seu personagem ajustado após feedback direto de Hamilton, que insistiu: “Ele é um novato, deveria ser mais nerd, não tão descolado”. A resposta de Idris, porém, conquistou o piloto.

Em entrevista para a revista GQ France, Idris justificou a personalidade de seu personagem, “Joshua tenta imitar o Hamilton – é por isso que ele parece tão confiante”, explicou o ator ao diretor Joseph Kosinski. A justificativa fez Hamilton revirar os olhos, mas aceitar: “É… tá, isso faz sentido”, riu o britânico, em um momento que sintetiza a dinâmica entre os dois durante as filmagens.

Enquanto Hamilton revisava cada cena de corrida para evitar erros – Ninguém ultrapassa ali, mas aqui sim” –, Idris encarou outro desafio: dirigir de verdade. “Perguntei se usariam CGI, e disseram: ‘Não, você vai pilotar’”, contou. O ator treinou em pistas como Silverstone e Yas Marina, virando “o núcleo emocional” das cenas de ação.

Eles contam ainda que não faltou competição, especialmente com Brad Pitt (que vive seu mentor no filme). “Queria vencê-lo toda vez”, admitiu Idris. “Ele saía da garagem como um piloto de verdade. Eu, como um Prius.”

A parceria entre Hamilton e Idris refletiu-se também na busca por diversidade. A matéria conta que Hamilton se envolveu no trabalho de personagens e na seleção de elenco. O piloto e produtor queria garantir que “o elenco fosse diverso e refletisse o mundo exterior, na esperança de que as crianças se vissem representadas”. Para Idris, a experiência foi “um curso intensivo de F1 com o maior de todos os tempos”.

‘Se ponha no seu lugar’: Ministras negras enfrentam machismo e racismo no exercício do poder

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As ministras Marina Silva (Meio Ambiente) e Macaé Evaristo (Direitos Humanos e Cidadania), duas mulheres negras em posições de destaque no governo Lula, são alvos de ataques machistas e racistas sofridos durante exercício de suas funções. Nesta terça-feira (27), Marina reagiu a ofensas em audiência no Senado, enquanto Macaé contou em um evento que sofre ataques cotidianos nas redes sociais. Os casos, que não são uma novidade na política, mostram o desrespeito das instituições e do público com as mulheres e, sobretudo, com mulheres negras que estão na luta por causas fundamentais para a vida em sociedade.

“Se ponha no seu lugar”, disse o senador Marcos Rogério (PL-RO), à Marina Silva enquanto a ministra tentava defender seu ponto de vista durante a discussão na Comissão de Infraestrutura do Senado sobre pavimentação na Amazônia. Alvo de provocações e interrupções, ela também teve o microfone desligado pelo senador, que também era presidente do colegiado. Já Macaé Evaristo falou sobre violência online no Power Trip Summit, em Salvador: “Recebo xingamentos todos os dias, desde ‘é terrível olhar para mim’ até ofensas ao meu corpo, cabelo e sorriso”, disse.

Os recentes acontecimentos, que não são casos isolados, trazem de volta às reflexões de Lélia Gonzalez sobre como a mulher negra é vista na sociedade brasileira. No livro Por um Feminismo Afro-Latino-Americano, que reúne diálogos e reflexões da intelectual, ela lembra como a opressão racista confina mulheres negras a estereótipos degradantes, mostrando que o racismo e o sexismo as colocam no “nível mais alto de opressão”. À exemplo das violências que sofrem nossas ministras, quando são silenciadas e subestimadas, não por sua trajetória política, mas porque há um incômodo em ver suas imagens negras, politizadas e insubordinadas ocupando lugares de autoridade.

“A dimensão racial nos impõe uma inferiorização ainda maior”, diz Lélia no livro, mas aqui sabemos que é necessário resistir, como sempre resistimos em nome de nossa existência. Marina incomodou ao resistir: “Eles gostariam que eu fosse uma mulher submissa. E eu não sou”, disse ela em entrevista após o episódio da última terça-feira.

Enquanto Macaé Evaristo destacou a resistência de mulheres negras no poder: “Nosso país é racista, machista e patriarcal. Precisamos construir uma irmandade para nos proteger”.

No livro “Discursos de ódio contra negros nas redes sociais”, escrito pela jornalista Luciana Barreto, ela mostra que mulheres negras são as maiores vítimas dos discursos de ódio na internet. “Uso no livro uma pesquisa do professor Luiz Valério Trindade que mostra que 81% dos discursos de ódio racistas são direcionados às mulheres negras com características semelhantes a minha: profissional com curso superior, cabelo crespo etc”, afirmou em entrevista ao Mundo Negro. Ela ainda completa:” Tem uma intencionalidade muito evidente quando analisamos estes casos: o hater quer minar o emocional, quer atingir e distrair a vítima. De certa maneira, o hater quer “eliminar” a vítima daquele espaço, daquele local que ele julga não pertencer a ela. Brinco quando falo sobre isso: “não vou dar este gostinho ao hater”.

Nós sabemos que resistir pode ser muito difícil, mas isso para nós, mulheres negras é a garantia da nossa sobrevivência.

‘Olhos de Wakanda’: série animada do Disney+ ganha imagens inéditas e diretor revela detalhes da trama

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Crédito:Marvel Animation

Prevista para estrear em agosto no Disney+, ‘Olhos de Wakanda’, a nova série animada da Marvel Studios que promete mergulhar na história da nação fictícia de Wakanda a partir da perspectiva de diferentes guerreiros ao longo dos séculos, ganhou imagens inéditas nesta semana.

A ideia original da série surgiu do artista de storyboard Todd Harris, que também atua como showrunner e diretor da animação. Fã de quadrinhos desde a infância e estudante de História, Harris buscou unir suas duas paixões, explorando o que chama de “a interconectividade da Marvel com a interconectividade da história, juntamente com a interconectividade da história humana”, disse em entrevista ao Entertainment Weekly. “Eles me deixaram enlouquecer”, brincou.

“Gostei muito da ideia da visão de cada um sobre a história”, disse o diretor. “A história começa no final da Idade do Bronze Ocidental, e essa faísca dá início a uma gigantesca história de espionagem que reverbera através do tempo… Você tem um James Bond com a qualidade de Wakanda, e às vezes uma Jane Bond, com o pano de fundo de toda a grandiosidade que é Wakanda”, explica Harris.

Crédito: Marvel Animation

Entre os principais elementos da trama estão os Hatut Zaraze, traduzidos como “Cães de Guerra”, uma força de elite wakandana semelhante à CIA. Eles são responsáveis por localizar e recuperar artefatos de Vibranium que caíram em mãos erradas. “Quando um incidente desencadeia a liberação de algumas dessas coisas na natureza, eles precisam, em segredo, garantir que elas não se transformem em um problema maior. Vimos o que aconteceu quando um disco caiu nas mãos de um Super Soldado — mudou o curso do mundo”, revelou.

A atriz e cantora Anika Noni Rose, famosa por dublar Tiana em ‘A Princesa e o Sapo’, participa da produção. Harris destaca que sua personagem desempenha um papel central na narrativa. “Ela é uma das personagens com as quais eu mais quero um brinquedo. Ela chegou como um arcanjo e simplesmente arrasou”, comentou.

Outro destaque do elenco é Steve Toussaint, conhecido por seu papel em ‘A Casa do Dragão’. Ele interpreta um agente veterano, descrito por Harris como um personagem autoritário, mas com profundidade emocional. “Ele interpreta um agente cansado, cansado por todos os motivos certos. Ele acredita no seu trabalho, está aqui pela família e é muito dedicado à causa, mas às vezes os princípios superam o dever. [Toussaint] é muito bom em encontrar o equilíbrio entre o duro e o mole”.

Crédito: Marvel Animation

O elenco de vozes também inclui Cress Williams (Raio Negro), que interpreta um personagem chamado Leão, e Winnie Harlow (America’s Next Top Model), que dá voz a Noni. Outros nomes confirmados são Patricia Belcher, Larry Herron, Adam Gold, Lynn Whitfield, Jacques Colimon, Jona Xiao, Isaac Robinson-Smith, Gary Anthony Williams e Zeke Alton.

‘Olhos de Wakanda’ será estruturada como uma antologia. Cada episódio abordará um período diferente da história do país, mas todos estarão conectados por uma narrativa contínua. A proposta é mostrar como Wakanda evoluiu ao longo dos séculos e quais valores sustentam sua estabilidade como nação.

Segundo Harris, o foco da série não está apenas em ancestrais de personagens já conhecidos do universo Marvel, mas em discutir os princípios que moldam a sociedade wakandana. “Que tipo de princípios sólidos os mantêm no caminho certo, nesse equilíbrio que é tão difícil para todos os seres vivos?”, pontua.

Crédito: Marvel Animation

Além dos personagens wakandanos, a série trará figuras de outras culturas e regiões, como revelado anteriormente na D23 Expo. Entre elas, destaca-se a presença do personagem Punho de Ferro e uma guerreira inspirada em uma donzela escudeira viking.

Para Harris, a diversidade cultural da série reforça a ideia de que a história da humanidade é mais conectada do que parece. “Há algumas surpresas, porque parte da oportunidade aqui é espalhar pequenos pedaços da história e dizer: ‘Eu não sabia que isso tinha acontecido’. Parte disso é colocar um espelho diante de algumas teorias históricas, alguns fatos históricos e alguns preconceitos históricos.”

‘Cozinhando Histórias’: espetáculo idealizado pela chef Deni Correa celebra a gastronomia e a cultura quilombola

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Chef Deni Correa (Foto: Rosano Mauro Jr.)

O espetáculo “Cozinhando Histórias”, idealizado pela chef de cozinha e griot Deni Correa, será apresentado nos dias 20 e 21 de junho, às 10h e 16h, no Centro Cultural Casa de Vó, em Chapada dos Guimarães (MT). A proposta une culinária, contação de histórias e música em uma experiência cênica e sensorial que celebra os saberes da comunidade preta local, com ênfase nos descendentes do Quilombo Lagoinha de Baixo.

Filha de Vó Chica — parteira e benzedeira falecida aos 108 anos e reconhecida como patrimônio imaterial de Mato Grosso — Deni Correa transforma receitas, memórias e histórias em dramaturgia. A ideia é criar conexões entre o público e as tradições afro-brasileiras por meio da comida, da palavra e da ancestralidade.

As artistas chapadenses Paula Biul e Jenifer Costa assinam a dramaturgia e atuam como contadoras de histórias. Amigas desde a infância, as duas iniciaram suas trajetórias artísticas lado a lado e agora se reencontram no palco com esse projeto, reafirmando os laços entre irmandade, memória coletiva e arte preta.

O processo de criação durou seis meses e envolveu pesquisa, laboratórios e ensaios, culminando em quatro apresentações gratuitas que combinam contação de histórias, cozinha ao vivo e música. Todas as sessões acontecem no Centro Cultural Casa de Vó.

Todo o espetáculo contará com tradução simultânea em Libras, realizada pelas próprias contadoras de histórias. Os ingressos gratuitos estarão disponíveis a partir do dia 10 de junho na plataforma Sympla. Mais informações podem ser acompanhadas pelos perfis no Instagram: @denicorrea_ e @casadevocentrocultural.

Além do espetáculo, o projeto também realiza a oficina “Cozinhando Sonhos”, voltada para estudantes, educadores e profissionais da educação. Inspirada na tradição dos griots africanos, a atividade propõe reflexões sobre letramento racial, valorização da oralidade e práticas pedagógicas antirracistas. A oficina será realizada em uma escola da periferia de Chapada dos Guimarães e oferecerá 20 vagas, com prioridade para pessoas pretas, LGBTQIAPN+ e PCDs.

Toda a trajetória será registrada no documentário “Cozinhando Histórias, Panela Preta”, que acompanha os bastidores do projeto e os relatos coletados ao longo das ações, ampliando a preservação e a visibilidade da cultura alimentar e afetiva da comunidade preta local.

O projeto “Cozinhando Histórias” foi contemplado pelo edital “Identidades”, da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso (Secel).

Empresa organizadora dos festivais Rock in Rio e The Town é incluída na “lista suja” por trabalho escravo

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Foto: Hermes de Paula/Agencia O Globo

A Rock World, empresa responsável pela organização dos festivais Rock in Rio e The Town, foi incluída na “lista suja” do Ministério do Trabalho e Emprego, que reúne empregadores responsabilizados por submeterem trabalhadores a condições análogas à escravidão.

A inclusão ocorre após a conclusão de processo administrativo aberto a partir de uma operação realizada em setembro de 2023 por auditores da Superintendência Regional do Trabalho no Rio de Janeiro, com apoio do Ministério Público do Trabalho. Na ocasião, 14 pessoas foram resgatadas em condições degradantes durante a montagem do Rock in Rio.

Segundo os fiscais, os trabalhadores — contratados por meio da empresa terceirizada FBC Backstage Eventos — eram submetidos a jornadas exaustivas, chegando a trabalhar 21 horas seguidas e dormir apenas três. Dormiam no chão, sobre papelões, usavam mochilas como travesseiros e tinham acesso precário a banheiros e alimentação. Parte das mulheres tomava banho com caneca no banheiro feminino, sem porta com maçaneta, para impedir a entrada de homens.

Foto: MTE

Os resgatados atuavam na carga e descarga de equipamentos, montagem de estruturas e limpeza. Receberiam diárias entre R$ 90 e R$ 150, mas parte dos valores não foi paga.

Auditores lavraram 21 autos de infração contra a FBC Backstage e 11 contra a Rock World, que foi responsabilizada por não fiscalizar adequadamente as condições oferecidas pela contratada, como exige a legislação trabalhista.

A chamada “lista suja” não prevê punições diretas, mas é usada por bancos e empresas para avaliação de risco. Por isso, é considerada referência internacional no combate ao trabalho escravo contemporâneo pelas Nações Unidas.

Em nota enviada ao UOL, a Rock World afirmou repudiar “as acusações de trabalho análogo à escravidão e qualquer forma de trabalho que desrespeite a dignidade do trabalhador e a legislação vigente”. Alega ainda que os problemas foram causados exclusivamente pela terceirizada, já incluída na lista em abril, e que teria tomado providências assim que soube do caso.

A empresa também afirmou colaborar com as autoridades e reforçou que, em mais de 40 anos de atuação, sempre zelou por padrões rigorosos de contratação, gerando “impacto positivo na economia” e cerca de 20 mil empregos diretos e indiretos.

Essa não é a primeira ocorrência de trabalho análogo ao escravo em festivais organizados pela Rock World. Em 2013, 93 trabalhadores foram resgatados no Rock in Rio em ação envolvendo o Bob’s, que usava mão de obra terceirizada em condições precárias para vender bebidas. Dois anos depois, 17 pessoas que vendiam batatas fritas também foram resgatadas em situação semelhante, com dívidas superiores ao que recebiam.

Na época, a organização do Rock in Rio afirmou que a contratação de funcionários era de responsabilidade dos operadores de alimentos e que tomava providências ao ser notificada.

Designer quilombola da Bahia leva coleção inspirada em ancestralidade para passarela em Moçambique

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Foto: Jorge Garcia

O artista e designer Dih Morais, criador da marca homônima que une referências da cultura afro-brasileira a técnicas artesanais, se prepara agora sua estreia internacional no Fancy Africa 2025, evento que ocorrerá de 22 a 27 de setembro deste ano, em Maputo, Moçambique. Natural do Quilombo Barro Preto, em Jequié (BA), ele organizou uma campanha de financiamento coletivo para ajudá-lo a pagar os custos da viagem.

O convite surgiu após o sucesso de seu desfile autoral na Brasil Eco Fashion Week no ano passado, onde apresentou a coleção “Quilombo Barro Preto”. A proposta, que mistura moda e arte decorativa com elementos das religiões de matriz africana, chamou a atenção de curadores do evento africano, que tem como tema central a filosofia Ubuntu – “Eu sou porque nós somos”.

Foto: Marcelo Soubhia / Agência Fotosite

Para custear a viagem e a produção necessária, Morais iniciou uma campanha de financiamento coletivo. Em suas redes sociais, ele reforça o significado simbólico da participação: “Levar nossa coleção para Moçambique é contar nossa própria história a partir de nossas raízes”, escreveu. O link da vaquinha, que busca arrecadar recursos para passagens, hospedagem e logística, está disponível em:https://www.vakinha.com.br/vaquinha/dih-morais-em-mocambique.

A marca Dih Morais Brand, criada em 2016, tornou-se um espaço de afirmação identitária, valorizando saberes tradicionais e o trabalho de mãos negras. “Queremos inspirar outros jovens de quilombos e periferias a verem que seus sonhos são possíveis”, afirmou o designer.

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