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Prefeitura do Rio revoga resolução que incluía práticas afro-indígenas como terapias complementares no SUS

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Foto: Renato Manganello

A Prefeitura do Rio de Janeiro revogou na última terça-feira (25) uma resolução que reconhecia práticas de cura de origem africana e indígena — como banho de ervas, chás e defumação — como terapias integrativas e complementares no SUS (Sistema Único de Saúde). A medida havia sido anunciada apenas sete dias antes, em parceria entre a Smac (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Clima) e a Secretaria de Saúde.

O texto original incluía o reconhecimento de terreiros e casas de santo como “equipamentos promotores de saúde e cura”, além de citar técnicas como escalda-pés, oferendas e o conhecimento das benzedeiras. Em nota, a prefeitura justificou a revogação com o “entendimento de que saúde pública é realizada baseada em ciência” e que “o Estado é laico e não deve misturar crenças religiosas em políticas públicas de saúde”.

A PNPIC (Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares), aprovada em 2006 pelo Ministério da Saúde, inclui terapias como acupuntura, homeopatia e fitoterapia, mas não menciona expressamente rituais afro-indígenas. Estados e municípios, no entanto, têm autonomia para regulamentar suas próprias políticas no âmbito do SUS. A decisão foi criticada por entidades como a Renafro Saúde (Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde), que afirmou que a medida “representa um retrocesso na valorização das práticas de saúde ancestrais” e desrespeita a luta contra a discriminação religiosa.

Atualmente, a rede pública do Rio oferece práticas como medicina tradicional chinesa (com acupuntura e auriculoterapia), fitoterapia e homeopatia. A prefeitura não detalhou se haverá revisão desses serviços após a revogação.

Procurado, o Ministério da Saúde afirmou que os municípios podem implementar PICS (Práticas Integrativas e Complementares) por meio de projetos aprovados pelas secretarias locais ou por leis municipais.

‘Fortalecem a autoestima e geram oportunidades concretas’, Juliana Lourenço explica como redes de apoio fortalecem salões de cabelo natural no Brasil

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Foto: Arquivo Pessoal

Manter um salão especializado em cabelos crespos e cacheados no Brasil envolve desafios que vão desde a falta de profissionais qualificados até os altos custos de capacitação e insumos. Em entrevista, proprietárias de estabelecimentos em Campina Grande (PB) e no Rio de Janeiro relataram as dificuldades que enfrentam no setor e as estratégias que desenvolvem para se manter no mercado.

Para Silmara da Silva Campos, proprietária do Odara Studio, em Campina Grande (PB), a concentração de cursos de especialização no Sudeste do país e os altos custos dificultam que ela e profissionais de outras regiões possam se capacitar constantemente: “As capacitações na área da beleza, em geral, são caras, principalmente se forem cursos presenciais. E, principalmente, são centralizadas no Sudeste, basicamente em São Paulo”, relata. Ela conta que, em Campina Grande, existem apenas 5 salões especializados em cabelo natural, o que aumenta a dificuldade de encontrar mão de obra qualificada.

Já Erica Bello, proprietária de um studio com o mesmo nome na capital carioca, destaca: “Ainda existe uma grande carência de profissionais para o nosso segmento. Os salões tradicionais até ‘oferecem’ alguns serviços para cabelos afro, mas não entregam o que nosso povo necessita. É preciso viver o dia a dia de uma pessoa preta para entender nossas necessidades capilares e oferecer um protocolo assertivo. Eu sou educadora de cabelos afro e formo e qualifico a minha equipe”, explica.

Para a mentora Juliana Lourenço, conhecida como Ju da Conta Delas, as redes de apoio fazem a diferença: “Essas redes criam um ambiente de acolhimento, trocas e crescimento coletivo. Ajudam a romper o isolamento, fortalecem a autoestima e geram oportunidades concretas, como eventos, parcerias e acesso à informação. Quando uma cresce, puxa outra junto. É sobre colaboração, não competição”, afirma.

Juliana explica que, assim como em outros segmentos, o racismo afeta o acesso de empreendedoras negras do setor de beleza a investimentos que poderiam impulsionar seus negócios: “As empreendedoras negras enfrentam racismo estrutural, que impacta diretamente o acesso a crédito, visibilidade e valorização do seu trabalho. Mesmo sendo referência no cuidado com cabelos naturais, muitas vezes essas profissionais não recebem o mesmo reconhecimento ou investimento que salões tradicionais. Além disso, o mercado ainda carrega estigmas sobre o que é considerado ‘profissional’ ou ‘bonito’, o que afeta diretamente o faturamento e a autoestima dessas empreendedoras”.

Para ela, políticas públicas e programas de apoio — como “microcrédito com juros baixos, específicos para empreendedoras negras” — são essenciais para o desenvolvimento dessas empresárias no mercado. “Também é importante oferecer capacitação focada na realidade desses salões, com conteúdos sobre gestão, marketing e finanças, e garantir que políticas de compras públicas incluam salões e serviços de estética liderados por mulheres negras”, reforça Juliana.

Aposta no acolhimento e personalização do atendimento ajuda a fidelizar clientes

Para Erica e Silmara, a concorrência em salões especializados em cabelos crespos e cacheados ainda é baixa, mas o atendimento personalizado é um diferencial fundamental para manter clientes fiéis.

“Procuro oferecer às minhas clientes uma consultoria de cuidados home care. Percebi a frustração de novas clientes ao chegarem ao studio e relatarem que, no salão da colega, saíam com o cabelo finalizado, mas não sabiam como mantê-lo em casa. Uma avaliação precisa conduz a um resultado assertivo. Após o atendimento, entrego um ‘receituário’ com a conduta diária — assim como um médico faria após um protocolo de saúde —, além de um canal para tirar dúvidas (sem custo adicional). Assim, elas sentem que têm alguém que realmente se preocupa com suas dores”, detalha Erica.

Silmara ressalta que muitas clientes chegam ao seu salão após enfrentarem desafios para manter os cabelos crespos ou cacheados naturais: “Meu objetivo é fazer com que o atendimento não seja apenas um serviço de embelezamento, mas também um momento em que a cliente saia se sentindo linda, poderosa e incrível com seu cabelo natural — aquele com o qual ela nasceu. É fazê-la entender que esse cabelo não tem defeito algum”.

“Deixe de ser uma cabeleireira e vire uma empresária!”

A realidade para quem pensa em empreender pode parecer assustadora, mas existem caminhos, como destaca Juliana Lourenço: “Conecte-se com sua história e com a potência do que você representa. Não é ‘só’ um salão — é um espaço de cuidado, identidade e empoderamento. Para crescer, o salão precisa de você em um papel estratégico. Estude gestão, finanças e marketing, e posicione-se como referência da sua marca. Busque conexões poderosas, participe de redes e eventos para empreendedoras negras. Networking é essencial: você precisa estar onde as oportunidades estão. Deixe de ser uma cabeleireira e vire uma empresária!”

Cia AfroOyá leva AFRO-SAPIÊNCIA ao palco com potência, ancestralidade e recorde de público

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Foto: @brumcatarine

Texto: Rodrigo França

Um corpo negro em movimento é um ato político, uma declaração de existência e uma celebração de sabedoria ancestral. É com esse princípio que a Cia de Dança AfroOyá, uma das mais conceituadas companhias de dança do Brasil, reverberando sua arte em palcos nacionais e internacionais, apresenta seu novo espetáculo: AFRO-SAPIÊNCIA. A obra será apresentada nos dias 04, 05 e 06 de abril, no Sesc Santana, em São Paulo, com direção e coreografia de Tainara Cerqueira e Priscila Borges – duas das principais referências da dança afro-brasileira contemporânea.

O nome do espetáculo já diz tudo: sapiência é sabedoria. E quando se fala de povo negro, falar de sabedoria é falar de estratégias de resistência, de criatividade cotidiana, de espiritualidade e memória. Criado a partir da vivência de Tainara Cerqueira, professora, dançarina e pesquisadora, AFRO-SAPIÊNCIA nasceu como uma celebração da inteligência negra em sua forma mais pura – aquela que garante a sobrevivência, reinventa a estética e estrutura o futuro.

“Pensar AFRO-SAPIÊNCIA é validar esse lugar de existência plena e ancestral. É dar nome à sabedoria do nosso povo que foi, por séculos, silenciada ou subestimada. Mas ela está viva, no terreiro, na sala de aula, na roda de samba e, principalmente, no palco”, afirma Tainara.

A potência do espetáculo também se revela na recepção do público. Em sua temporada no Centro de Referência em Dança da cidade de São Paulo, a obra bateu recorde de público, com mais de 300 pessoas em uma estrutura que não comportava tanta gente. Esse impacto direto com o público se deve, em parte, ao profundo enraizamento da companhia em territórios culturais da cidade. Professora em centros como o Centro Cultural Grajaú, Quilombolas de Luz e diversas unidades do Sesc, Tainara e sua companheira de direção, Priscila Borges, formam não apenas bailarinos, mas comunidades inteiras apaixonadas pela dança afro-brasileira.

Dança, teatro, música ao vivo e artes visuais se entrelaçam em cena, sem que um elemento sobreponha o outro. A percussão, comandada por Priscila Borges e Magnata, se harmoniza com a discotecagem afrofuturista de DJ DefBrks. Tudo isso veste o corpo de balé que reverencia, em cada gesto, a presença dos orixás, uma escolha estética e espiritual que também é um posicionamento político: “A dança afro-brasileira é fundamentada na dança dos orixás. Portanto, ela é, por essência, um combate ao racismo religioso”, defende Tainara.

A trajetória das coreógrafas é marcada pela inquietação com o modo como a arte negra é tratada nos bastidores e nos palcos. Ao fundar a AfroOyá, elas decidiram que não esperaria mais por convites que nunca chegavam. Transformaram a inquietude em criação e ofereceram aos bailarinos uma estrutura de valorização, protagonismo e autonomia.

O processo de criação da companhia nasce do cotidiano: dos terreiros, das festas populares, da observação atenta da comunidade. Para Tainara, a Bahia – onde passa três meses por ano – é o grande laboratório da dança afro. “Ali, a dança afro é traço cultural da identidade. Eu volto para me alimentar dessa fonte viva.”

Apesar dos desafios que ainda enfrentam para manter e expandir seus projetos, as conquistas da AfroOyá já podem ser sentidas em São Paulo e Salvador. O avanço é fruto de uma luta coletiva, que inclui companhias e núcleos como o Núcleo AJEUM, o Coletivo Calcâneos e o Desterro Coletivo. “Queremos mais e podemos mais. A dança afro-brasileira constrói a identidade cultural desse país e merece ser tratada com a mesma dignidade que qualquer outra forma de arte”, afirma.

Depois da temporada no Sesc Santana, o objetivo é circular com AFRO-SAPIÊNCIA por outras regiões, incluindo Salvador, além de levar também o espetáculo Xirê de Rua, contemplado pelo fomento à dança. E vem coisa nova por aí: Tainara já planeja o próximo espetáculo. “A gente escreve, se inscreve nos editais da vida, reza pra ser aprovado e segue dançando. Porque dança afro é vida.”

SERVIÇO
Espetáculo: AFRO-SAPIÊNCIA
Dias 04 e 05 de abril, às 20h
Dia 06 de abril, às 18h
Local: Sesc Santana – São Paulo

Ficha Técnica
Direção e Coreografia: Tainara Cerqueira e Priscila Borges
Bailarines: Maiwsi Ayana, Munique Costa, Vick Fonseca, Dalila Leal, Adejatay, David Sena, Wesley Peixinho
Percussionistas: Priscila Borges e Magnata
DJ: DefBrks
Figurino: Maiwsi Ayana
Iluminação: Renato Banti
Dom: Carlos e Guina Theodoro

8 séries que exploram a adolescência com protagonismo negro

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Foto: HBO

Para além de abordagem sobre a misoginia, a recém lançada minissérie “Adolescência”, da Netflix, trouxe um olhar sensível e diverso sobre essa etapa da vida, incluindo a perspectiva das vivências de jovens negros. Inspirado por essa produção que tem levado os telespectadores a refletir sobre diferentes temas que giram em torno dos adolescentes, o Mundo Negro selecionou algumas séries que colocam adolescentes negros no centro da narrativa, abordando questões como identidade, pertencimento, família, saúde mental, desigualdade, entre outros temas.

Veja a lista completa abaixo: 

Bel-Air 

O reboot de ‘Um Maluco no Pedaço’ é uma versão dramática com pouco tom de humor. O personagem principal ainda é Will (Jabari Banks), que vê sua vida mudar completamente, após se envolver numa briga com um criminoso de seu bairro. O adolescente é obrigado a abandonar sua vida na Filadélfia para fugir dos problemas e passa a viver com os tios e primos em uma mansão em Bel Air. A série tem três temporadas, todas disponíveis no Disney+.

Da Ponte pra Lá 

Malu (Gabz), uma jovem preta e periférica, se infiltra na escola mais exclusiva da alta sociedade paulistana em busca de uma resposta: Quem matou o seu melhor amigo Ícaro (Victor Liam), um jovem trans e negro? Ela não acredita em caso de suicídio, como insistem as autoridades. Agora, os novos colegas de Malu, que é rapper e filha do maior traficante da cidade, membros das famílias mais poderosas do Brasil, se tornarão cúmplices, amigos, amantes e suspeitos. A produção tem uma temporada, disponível na Max.

Euphoria 

Estrelado por Zendaya, a série se destaca por sua abordagem realista sobre as dificuldades da adolescência. A trama gira em torno de Rue Bennett, uma jovem que luta contra o vício em drogas enquanto tenta encontrar seu lugar no mundo. Ao longo dos episódios, a série explora temas como saúde mental, identidade sexual, relacionamentos abusivos e a pressão das redes sociais. As duas temporadas estão disponíveis na Max.

Olhos que Condenam 

Dirigida por Ava DuVernay, a minissérie baseada em uma história real, retrata o caso dos Cinco do Central Park, um grupo de adolescentes negros e latinos que foram injustamente acusados e condenados pelo estupro de uma mulher branca em Nova York, no final da década de 80. Com uma abordagem intensa e emocional, denuncia o racismo estrutural e o impacto da injustiça na vida de jovens negras e latinas nos EUA. Disponível na Netflix.

Sangue e Água 

A trama da produção sul-africana segue Puleng Khumalo (Ama Qamata), uma adolescente de 16 anos que suspeita que sua irmã mais velha, sequestrada ao nascer, pode estar viva e estudando em um colégio de elite na Cidade do Cabo. Determinada a descobrir a verdade, ela se infiltra em uma escola e se aproxima de uma uma nadadora popular que pode ser sua irmã. Conforme investiga, Puleng se vê envolvida em segredos familiares, crimes e intrigas no mundo dos ricos e poderosos da África do Sul. A série tem quatro temporadas disponíveis, todas disponíveis na Netflix. 

This is Us 

A série acompanha a família Pearson ao longo de diferentes décadas. Um dos personagens centrais é o Randall (Sterling K. Brown), sendo o filho negro adotado por Jack e Rebecca. O drama explora a vivência dele e dos irmãos na adolescência, em paralelo com o vínculo dele e da esposa Rebecca com suas filhas, Tess, Annie, e Deja, que também passam por desafios enquanto jovens. A família se vê em conflitos que giram em torno de buscas por pertencimento, identidade, racismo, sexualidade, adoção, luto, saúde mental, entre outros temas. As seis temporadas estão disponíveis na Disney+ e no Prime Video. 

Toda Família Tem 

A série brasileira protagonizada por Pedro Ottoni, acompanha o Pê, um jovem que vê sua vida mudar quando retorna com a família para a casa da avó Geni no Rio de Janeiro, deixando para trás seu estilo de vida confortável. Enquanto se adapta às confusões da Família Silva, ele enfrenta seus próprios dilemas e inquietações em busca de autoconhecimento. A comédia explora temas como relacionamentos, redes sociais, educação, entre outros. Com uma temporada, a produção está disponível no Prime Video. 

Todo Mundo Odeia o Chris 

A comédia baseada na adolescência do comediante Chris Rock, acompanha Chris (Tyler James Williams), um garoto negro crescendo no Brooklyn dos anos 1980, lidando com os desafios da época em uma escola de crianças brancas, a família, o trabalho, amizade e relacionamentos. Com humor ácido, a narração sarcástica do Chris Rock aborda críticas sociais sobre racismo e desigualdade. As quatro temporadas estão disponíveis na Globoplay, Paramount+ e Prime Video. 

Quem era o príncipe de Osu, na África Ocidental, que Klimt imortalizou em tela perdida?

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Um retrato há muito considerado perdido do pintor austríaco Gustav Klimt (1862-1918) reapareceu após 85 anos e está sendo oferecido por € 15 milhões (cerca de R$ 80 milhões) na principal feira de arte de Maastricht, na Holanda, a TEFAF. A pintura, que mostra o príncipe William Nii Nortey Dowuona, da região de Osu, onde atualmente fica Gana, foi descoberta por acaso após um casal de colecionadores levá-la — suja e em uma moldura inadequada — à galeria vienense Wienerroither & Kohlbacher, especializada em Klimt.

O príncipe William Nii Nortey Dowuona era um nobre do povo Osu, no atual Gana (então Costa do Ouro, região que foi colônia britânica), e sobrinho do rei Osu, sendo enviado à Áustria em 1897 como líder de uma delegação. Sua vida após o retorno à África permanece um mistério, sem registros detalhados sobre seu destino.

A expedição que Dowuona integrou foi organizada pelo diretor do Zoológico de Viena, que realizou uma exposição que incluía não apenas animais, mas também pessoas de diferentes culturas — uma prática comum na época, mas reconhecidamente racista. Além de Klimt, o pintor Franz Matsch também o retratou — uma tela hoje exposta no Museu Nacional de História e Arte de Luxemburgo.

Retrato do príncipe William Nii Nortey Dowuona feito por Franz Matsch, exposto no Museu Nacional de História e Arte de Luxemburgo.

O retrato que sumiu por 85 anos

A pintura de Klimt, no entanto, desapareceu após ser exibida pela última vez em 1938. Por décadas, historiadores da arte acreditaram que ela poderia ter sido destruída ou permanecido em uma coleção privada desconhecida. Até que, recentemente, um casal de colecionadores levou uma tela suja e em mau estado para a galeria Wienerroither & Kohlbacher, em Viena, especializada na obra do artista.

“Ela estava tão descaracterizada que não parecia ser um Klimt”, disse Alois Wienerroither, diretor da galeria, à DW. Mas após uma minuciosa limpeza, revelou-se não apenas uma obra autêntica do mestre austríaco, mas também um elo perdido em sua transição artística — ainda com traços realistas, mas já com o fundo floral que marcaria seu estilo posterior.

Por que essa pintura é tão especial?

Além de seu valor histórico, o retrato do príncipe Dowuona é uma raridade na obra de Klimt, conhecido sobretudo por seus retratos femininos e dourados, como “O Beijo” e “A Dama de Dourado”. A tela recém-redescoberta mostra um momento de intercâmbio cultural pouco documentado, em que um nobre africano foi imortalizado por um dos maiores nomes da arte europeia.

“É uma peça-chave para entender a evolução de Klimt”, afirma Wienerroither. “E também uma janela para uma história que muitos não conhecem.”

Por que eles têm medo de crianças pretas felizes?

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Foto: Arquivo pessoal

Sou mãe de uma menina preta de 5 anos, e cada dia é um ato de resistência. Criar uma criança negra nesta sociedade não é tarefa para os fracos. Não somos passivos expectadores de uma história que nos foi imposta; somos seus protagonistas reescritos, linha por linha, respiro por respiro.

Sei que criar uma criança não é responsabilidade de apenas duas pessoas. Como nos ensina a sabedoria africana, “é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”. Nossa aldeia é construída com consciência, com escolhas políticas que desafiam a cada segundo a estrutura racista que tenta nos reduzir.

Escolhemos uma escola que não é apenas um espaço educacional, mas um território de acolhimento e transformação. Um lugar onde minha filha não precisa “se adequar”, mas onde ela simplesmente existe em sua potência plena. Onde educadores compreendem que sua presença não é uma concessão, mas um direito.

Educação positiva não é romantismo, é revolução. Recusamos veementemente qualquer método que traduza disciplina como violência. Nossos “não” são explicados, nossos limites são construídos com diálogo. Não esperamos milagres sentados em um engradado de cerveja. Construímos futuro com as próprias mãos, com intencionalidade.

E adivinhem? Esse posicionamento incomoda. E muito.

Incomoda porque quebramos o ciclo de violências institucionais. Incomoda porque nossa filha não será mais um número estatístico de evasão escolar, de violência racial, de sub-representação. Incomoda porque estamos criando uma geração que não vai pedir permissão para existir.

Este artigo não é apenas meu. É de todas as mães e pais que escolhem criar seus filhos negros como ato político de resistência. Que se reconhecem no direito de sonhar, de questionar, de existir em plenitude.

Para todas as mães e pais que estão nessa jornada: sintam-se compreendidos, fortalecidos. Nossa revolução não pede licença. Ela simplesmente acontece.

Crianças pretas em modo revolução

Quando uma criança negra tem acesso a educação de qualidade, alimentação adequada, prática esportiva, desenvolvimento de pensamento crítico e liderança, e cresce em um ambiente de educação positiva sem violência, isso não deveria ser excepcional. No entanto, em nossa sociedade estruturalmente racista, tal realidade é frequentemente vista com estranheza ou como uma ameaça à ordem estabelecida. O lugar socialmente designado para o negro na sociedade brasileira não é o da excelência, do protagonismo ou do sucesso, mas sim o da subalternidade. Quando nos recusamos a ocupar esse lugar, o sistema reage.

Educar crianças negras para o pensamento crítico e a autoconfiança transcende o ambiente familiar; é um posicionamento político que desafia estruturas seculares de subordinação. bell hooks, Lélia Gonzalez e Conceição Evaristo nos ensinam que essa educação representa uma ruptura direta com os ciclos de opressão.

Quando uma criança negra ocupa espaços tradicionalmente reservados à população branca — seja em escolas de qualidade, cursos de idiomas ou atividades esportivas — ela não está “tirando” lugar de ninguém. Simplesmente está exercendo um direito que sempre lhe foi negado.

Estudos indicam que a presença de alunos negros em escolas particulares no Brasil é significativamente baixa. O Censo Escolar de 2020 revelou que, em média, alunos negros correspondem a apenas 10% do corpo estudantil nas instituições privadas de ensino. Além disso, constatou-se que, quanto mais alta a mensalidade e melhor a colocação da escola no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), menor é o percentual de estudantes pretos e pardos matriculados. Em São Paulo, escolas de elite apresentam entre 0,3% e 6% de alunos negros, abaixo da média nacional de 12% em escolas privadas.

Quando educamos crianças negras para questionarem as estruturas sociais, reconhecerem a própria história para além das narrativas eurocêntricas e desenvolverem autoestima elevada, estamos criando indivíduos capazes de romper com ciclos de opressão. Essa ruptura provoca ressentimento em uma sociedade estruturada sobre a premissa da subordinação negra.

Por que dividir privilégios é tão difícil? Porque o privilégio branco se sustenta na invisibilidade de suas vantagens. Quando essa estrutura é questionada pela presença de crianças negras bem-educadas, articuladas e seguras, a reação social é de estranhamento e resistência.

O mito da meritocracia serve como escudo para defender desigualdades históricas. As famílias negras que criam seus filhos com consciência racial, autoestima elevada e ferramentas para enfrentar o racismo realizam um trabalho revolucionário. A presença de crianças negras ocupando espaços com naturalidade, liderando, expressando-se artisticamente e desenvolvendo pensamento crítico representa uma contestação viva às narrativas de inferioridade racial.

O caminho para a equidade racial passa pelo desconforto de quem sempre teve privilégios e agora precisa aprender a dividir. Cada criança negra que cresce com direitos plenos, sem traumas de rejeição, é uma semente de transformação.

Nosso desafio é não recuar. Garantir que crianças negras tenham infâncias livres, saudáveis e potentes é uma revolução silenciosa que ressignifica o futuro. E essa revolução não pede permissão.

Estudo liga discriminação racial e estresse crônico ao agravamento do câncer de mama em mulheres negras

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Foto: Freepik

Um estudo publicado na revista JAMA (Journal of the American Medical Association) em fevereiro associa a discriminação racial a impactos diretos na capacidade do organismo de combater o câncer e no crescimento de tumores. A pesquisa, realizada nos Estados Unidos, aponta que o estresse e o preconceito estão ligados ao aumento da inflamação e ao desenvolvimento de tumores mais agressivos, especialmente no câncer de mama.

Fatores como falta de apoio social e condições de vida desfavoráveis, incluindo morar em áreas de menor infraestrutura, também elevam os níveis de inflamação e enfraquecem o sistema imunológico. De acordo com os dados, mulheres negras são as mais impactadas, apresentando alterações genéticas e imunológicas que podem dificultar o tratamento do câncer.

O estudo acompanhou 121 mulheres ao longo de uma década, sendo 56 negras e 65 brancas. Os pesquisadores analisaram tecidos saudáveis e tumorais, além de exames de sangue. A coleta de dados foi realizada entre fevereiro de 2012 e setembro de 2023, com a análise final concluída em abril de 2024, em dois hospitais de Baltimore, Maryland.

Segundo o Daniel Musse, oncologista do Grupo D’Or, apesar do número limitado de participantes, ele destaca a relevância do estudo. “Cuidar da saúde mental e do bem-estar físico pode ajudar a reduzir riscos associados ao câncer”, diz. O médico ressalta que apenas 10% a 15% dos casos da doença são atribuídos a fatores genéticos, e que o aumento dos diagnósticos está relacionado a mudanças no estilo de vida e a fatores ambientais.

Para a Ana Amélia Viana, oncologista da Rede D’Or e integrante do Comitê de Diversidade da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), “o racismo estrutural determina barreiras de acesso à saúde e isso explica uma parte dos piores resultados de mortalidade nas mulheres negras [nos Estados Unidos]”, diz.

Viana destaca que estudos como esse são fundamentais para compreender os mecanismos por trás dessas desigualdades. “O resultado mostra novamente uma desvantagem da mulher negra”, afirma.

O levantamento também aponta que o apoio social pode fortalecer o sistema imunológico e contribuir para o enfrentamento da doença, enquanto a discriminação racial estimula a liberação de substâncias inflamatórias, como a IL-6 e a MMP12, que agravam o quadro clínico.

Para Musse, o estresse crônico é um fator preocupante, uma vez que a inflamação está diretamente associada ao desenvolvimento de tumores. “Um exemplo disso é a obesidade, que eleva o risco de câncer justamente por aumentar a inflamação”, explica.

Fonte: Folha de São Paulo

‘Mesmo que eu não seja indicado’: Will Smith faz alusão ao banimento do Oscar em música nova

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Foto: Reprodução

Em seu primeiro álbum solo em 20 anos, “Based on a True Story”, Will Smith faz referências ao banimento de 10 anos imposto pela Academia de Hollywood após o tapa em Chris Rock no Oscar 2022. Na faixa “You Lookin’ for Me?”, o astro canta: “Levei muito, estou de volta no topo / Vocês vão ter que se acostumar / Não paro, meu som ainda tá quente / Mesmo que eu não seja indicado.” – um verso que sugere sua exclusão temporária das premiações, mas não de sua relevância na cultura pop.

Apesar da proibição de comparecer a eventos da Academia até 2032, Smith segue elegível para indicações ao Oscar. O trecho, porém, reforça a ironia de sua situação: mesmo após o escândalo, ele estrelou o sucesso “Bad Boys: Ride or Die” (2024), que arrecadou mais de US$ 400 milhões, e mantém projetos no cinema.

O álbum evita confrontar diretamente a polêmica, mas a abre com a provocação “Will Smith está cancelado” na introdução “Int. Barbershop — Day”, onde vozes anônimas criticam o ato. Em outro momento, um verso resgata a frase dita por Will no palco no momento em que ele dá um tapa em Chris Rock“É melhor manter o nome da esposa dele fora da sua boca”.

A Academia não exigiu a devolução do Oscar de Melhor Ator conquistado pelo artista por seu papel em “King Richard” (2022), mas Smith renunciou voluntariamente à sua filiação. Desde então, o astro limitou-se a breves comentários sobre o episódio, como no documentário “Will Smith: The Slap, The Tears and The Redemption” (2023), onde admitiu ter “falhado”.

Com produção de DJ Jazzy Jeff e participações como a de B. Simone“Based on a True Story” marca o retorno de Smith à música após duas décadas.

Sete gerações: Mulheres negras podem levar até 184 anos para comprar casa própria, aponta estudo

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Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Um estudo inédito da ONG Habitat para a Humanidade Brasil revela que mulheres negras podem demorar até 184 anos — o equivalente a sete gerações — para conseguir comprar uma casa própria no país, mesmo em favelas. O dado integra a campanha “Sem moradia digna, não há futuro”, que denuncia como a falta de acesso à habitação adequada reforça desigualdades de gênero e raça, mantendo ciclos de pobreza e violência.

O levantamento “Sem moradia digna, não há justiça de gênero”, baseado em dados coletados ao longo de cinco anos, mostra que 62,6% dos lares em situação de déficit habitacional — que chega a 6,2 milhões de domicílios — são chefiados por mulheres. Outros 26,5 milhões enfrentam inadequações, como falta de infraestrutura ou insegurança fundiária, segundo a Fundação João Pinheiro.

Com salários menores e jornadas sobrecarregadas por trabalhos mal remunerados e cuidados não pagos, as mulheres destinam, em média, 30% da renda ao aluguel. Em um cenário considerado “favorável” pelo estudo — sem imprevistos, lazer ou gastos extras —, uma mulher negra com renda média de R$ 2.745,76 (RAIS 2023) teria apenas R$ 31,62 mensais para economizar. Nesse ritmo, levaria 184 anos para adquirir um imóvel de R$ 69.828,57 (valor médio em favelas).

Mesmo com o auxílio do Bolsa Família (R$ 750), o tempo cairia para 28 anos — ainda uma realidade distante para mães solo, que representam grande parte dessa população. “Sem moradia digna, as mulheres pagam um preço alto: saúde, tempo de vida e a chance de sonhar”, afirma Raquel Ludermir, gerente de Incidência Política da Habitat Brasil.

Racismo estrutural e falta de saneamento
O relatório destaca que a população negra é a mais afetada pela precariedade habitacional:

  • Pessoas negras sem banheiro em casa são 5 vezes mais numerosas que as brancas;
  • Nas regiões Norte e Nordeste, a falta de água, esgoto e coleta de lixo atinge principalmente mulheres negras, maioria nessas áreas;
  • Apenas metade dos brasileiros com três ou mais banheiros em casa são negros.

“O direito à moradia é historicamente negado à população negra, e as ocupações são fruto do racismo estrutural”, diz o texto.

Conexão com violência e saúde
A pesquisa também relaciona a falta de moradia digna a riscos como violência doméstica, problemas de saúde mental e física — especialmente em crianças — e dificuldade de acesso a serviços básicos. A ONG alerta que propostas de corte de benefícios sociais agravam a feminização da pobreza e defende políticas públicas intersetoriais. “Ter o básico precisa ser um direito desta geração — não da oitava. Não há futuro sem dignidade no presente”, conclui Ludermir.

Juliana Oliveira, ex-assistente do SBT, acusa Otávio Mesquita de estupro em vídeo de 2016

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Foto: Reprodução

⚠ Alerta de Gatilho: Este conteúdo aborda temas sensíveis, como violência sexual.

A ex-assistente de palco do programa The Noite, do SBT, Juliana Oliveira, ingressou com uma representação criminal ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP) acusando o apresentador Otávio Mesquita de estupro. O caso teria ocorrido durante uma gravação em 2016 e foi registrado em vídeo, que circula nas redes sociais.

Nas imagens, durante uma participação no programa de Danilo Gentili, Mesquita aparece vestido de Batman, segurando uma corda, e desce ao palco. Ele abraça Juliana, que tenta se soltar, e ambos caem em um sofá. O apresentador continua a agarrá-la enquanto ela demonstra desconforto e chega a dizer: “Ele não para”. O vídeo mostra quando Otávio Mesquita segura Juliana e faz movimentos que simulam uma relação sexual. O advogado de Juliana, Dr. Hédio Silva Jr., afirmou que a vítima inicialmente considerou o ocorrido como assédio, mas depois entendeu a gravidade. Silva Jr. afirmou que a jurisprudência atual reconhece como estupro atos libidinosos sem penetração, como os exibidos no vídeo. Nele, Mesquita toca os seios de Juliana e simula relações sexuais enquanto ela reage com tapas e chutes.

Em vídeo nas redes sociais, Mesquita disse estar “muito triste” com a acusação e afirmou que a cena foi uma “brincadeira combinada” com a produção. “Tudo foi ao ar há quase 10 anos. Como seria possível um estupro com minha ex-mulher e meu filho na plateia?”, questionou. O apresentador admitiu que, “vendo com o olhar atual”, não repetiria a cena, mas negou qualquer crime. “A distância entre o que aconteceu e um estupro é gigantesca.” Ele informou que acionou advogados para defender sua honra.

Silva Jr. destacou que o vídeo é prova suficiente para ação penal. “Ele é agressor, confesso”, disse, citando trechos em que Mesquita comenta ter tocado no corpo de Juliana. O advogado também levantou a questão racial: “Aquilo está na internet há anos. Se fosse uma mulher branca, teria havido repercussão”, afirmou o advogado em entrevista ao portal Terra. Ao Splash do Uol, o advogado reforçou: “Quase quatro minutos de agressão. Ela saiu com a noção de que foi violentada, mas não entendia a gravidade”.

Juliana está afastada de São Paulo e das redes sociais por orientação jurídica, mas fará um pronunciamento em breve. Ela teria buscado apoio do SBT no fim de 2024, sem resposta.

A ex-assistente de palco trabalhou como repórter no Chega Mais em 2024, antes do programa ser cancelado. Ela foi demitida do SBT em fevereiro deste ano. O MP-SP ainda não se pronunciou sobre a representação.

OBS.:  Violência contra a mulher é crime! Se você está em situação de risco, ligue imediatamente para o 190. Para denunciar e buscar apoio, entre em contato com a Central de Atendimento à Mulher pelo número 180. Além disso, delegacias especializadas da mulher podem oferecer orientação e acolhimento. Lembre-se, você não está sozinha e há ajuda disponível 24 horas por dia.

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