No próximo dia 9 de maio, estreia nos cinemas brasileiros o filme “Diálogos com Ruth de Souza”, que traz detalhes e memórias sobre a trajetória da artista na dramaturgia brasileira. O lançamento acontece quase 80 anos depois da estreia de Ruth de Souza no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, no dia 8 de maio de 1945, com a peça “Imperador Jones”, de Eugene O’neil, marcando história ao lado do Teatro Experimental do Negro (TEN), o primeiro grupo de artistas negros a se apresentar no local.
A estreia também acontece próximo à celebração dos 103 anos do nascimento de Ruth de Souza, que nasceu há 103 anos no dia 12 de maio de 2024. Produzido pela Preta Portê Filmes, este é o primeiro lançamento da Preta Play, o braço de distribuição da produtora idealizada por Juliana Vicente, cineasta que dirige o longa.
O filme não é apenas um registro, mas uma experiência nas últimas décadas da vida da lendária atriz brasileira, com conversas íntimas e preciosas memórias compartilhadas entre Ruth e Juliana, duas mulheres que representam diferentes gerações de talento e resiliência na arte.
O encontro entre as duas ocorreu em 2009 e desencadeou uma jornada de uma década até a partida de Ruth, em 2019, aos 98 anos. Juliana Vicente, ao descrever sua experiência, revela: “Tinha uma ideia pré-concebida dela como uma diva, mas quando cheguei, obviamente encontrei uma pessoa, e num momento bem específico da vida, já com algumas limitações impostas pela idade”. O filme é, portanto, um tributo à humanidade e à vulnerabilidade por trás da figura pública, uma celebração da vida e da trajetória de uma das maiores estrelas da dramaturgia nacional.
Além das conversas e reflexões registradas, “Diálogos com Ruth de Souza” mergulha em um vasto material de arquivo, entrelaçando a narrativa com elementos do universo mitológico africano, em particular, como Yabás, orixás femininas. Essa abordagem transcende o convencional, oferecendo uma interpretação ficcional e espiritual da vida de Ruth, com as atrizes Dani Ornellas e Jhenyfer Lauren dando vida à personagem em diferentes fases de sua jornada.
O elenco é composto por nomes notáveis, como a artista visual Rosana Paulino, a mãe de santo Iya Wanda De Omolu, a cantora, compositora e atriz Lívia Laso, além de outras personalidades como Mirrice De Castro e Luísa Dionísio. Destaca-se ainda a relação de longa data entre Juliana Vicente e as atrizes Dani Ornellas e Jhenyfer Lauren, ambas presentes desde o primeiro curta-metragem da diretora, “Cores e Botas”. Dani, aliás, teve um papel crucial ao apresentar Juliana a Ruth, dando início a esta jornada cinematográfica única.
A trajetória de Ruth de Souza é marcada por pioneirismo e conquistas notáveis. Com uma carreira que se estende por mais de sete décadas, ela foi a primeira brasileira a concorrer a um prêmio internacional de cinema, em 1954, no Festival de Veneza, pelo seu trabalho em “Sinhá Moça”. Além disso, a história fez ao ser a primeira atriz negra a protagonizar uma novela na TV Globo, em “A Cabana do Pai Tomás” (1969).
Juliana Vicente é a cineasta por trás de trabalhos como “Racionais: Das Ruas de São Paulo pro Mundo” e “Cores e Botas”.
Como honramos nossa essência em um mundo corporativo regido por padrões
Texto: Por Juliane Sousa, com a colaboração de Adila Nascimento
Esta diversidade de imagem que projetamos reflete a complexidade das nossas identidades e da infinidade de papéis que desempenhamos na sociedade.
Encontrar este equilíbrio entre atender às expectativas externas e permanecer fiel à nossa essência nos desafia constantemente.
A imagem que transmitimos às pessoas influencia como elas nos interpretam.
Como esta imagem é construída socialmente, o desafio está em não limitarmos a percepção da nossa identidade apenas às atividades que exercemos na sociedade, que tenta nos moldar o tempo todo.
Superado este, nos é desafiador assumirmos nossa singularidade onde quer que estejamos, pois, apesar de o julgamento alheio não nos definir, ainda há resistência, especialmente quando não estamos alinhados aos padrões estéticos eurocêntricos estabelecidos na sociedade, muito influenciados pelo colonialismo.
Todos estes desafios estão, sobretudo, na construção da nossa imagem como profissionais, em conformidade com as normas culturais e organizacionais definidas.
Cada um de nós é único, e nossas identidades, nossos valores e experiências moldam como desejamos ser percebidos também no nosso mundo profissional.
Se, por um lado, conseguimos nos adaptar àqueles parâmetros tidos como tolerados pelas empresas, por outro, todo este conflito entre se conformar às expectativas externas e manter nossa autenticidade nos desperta para diversas reflexões.
Uma delas é como podemos expressar realmente quem somos por meio das nossas roupas, por exemplo.
A segunda é até que ponto nos sentimos confortáveis cumprindo um código de vestimenta e comportamental que nos foi determinado, mas que pouco ou nada representa as nossas próprias escolhas.
Além disso, como podemos transmitir a nossa essência e os nossos propósitos de modo a preservar nossas verdades quando nos relacionamos com outras pessoas.
Todas estas questões são pontos de partida para construirmos a nossa própria imagem, inclusive, profissional, alicerçada na mensagem que queremos levar para o universo do trabalho e para o mundo.
Neste cenário, precisamos adotar estratégias para que possamos estar nestes espaços, termos visibilidade, sermos reconhecidas e valorizadas.
Adaptar-nos pode ser necessário e até aceitável conforme o ambiente, mas desde que nos sintamos confortáveis e nos faça algum sentido esta adaptação.
É esta a margem de segurança que nos manterão conscientes de que este contexto está desconectado com quem somos, mas corresponde a uma estrutura social de estética que ainda prevalece na nossa sociedade.
Podemos nos alinhar à expressão externa ao mesmo tempo em que valorizamos quem somos e honramos as nossas origens e as nossas histórias que nos formam como profissionais, cidadãos e pessoas únicas que somos.
Para acolhermos e preservarmos a nossa essência, é importante trilhar uma jornada de construção contínua de autoconhecimento, autoconfiança e auto aceitação.
Nesta jornada de construção e reconstrução da nossa própria imagem profissional, é fundamental que nos respeitemos e reconheçamos o valor genuíno da nossa autenticidade.
Dessa forma, estaremos colaborando com o desenvolvimento da agenda da diversidade, da equidade e da inclusão, em especial, nos ambientes corporativos.
* Juliane Sousa é Coordenadora de Comunicação do Sistema B Brasil, e Adila Nascimento, Gerente Financeira e de Operações Estratégicas da mesma Organização.
Foi divulgado na manhã desta quinta-feira, 2, o primeiro teaser do filme “O Auto da Compadecida 2”. Anunciada como uma das atrizes a compor o elenco, Taís Araújo pode ser vista no vídeo caracterizada como Nossa Senhora, personagem interpretada por Fernanda Montenegro no primeiro filme, lançado no ano 2000.
Com data de estreia prevista para o dia 25 de dezembro de 2024, o longa dirigido por Guel Arraes e Flávia Lacerda, e considerado um clássico do cinema nacional, trará de volta os icônicos personagens Chicó e João Grilo, vividos por Selton Mello e Matheus Nachtergaele. O nome de Taís foi anunciado pela produção do filme em 2023.
Ainda não foram divulgadas muitas informações sobre o elenco. O que se sabe até agora é que o ator Luis Miranda fará o papel do Major Antônio do Amor, que foi interpretado por Paulo Goulart no primeiro filme. Os atores Eduardo Sterblitch, Humberto Martins, Fabiula Nascimento, também estarão no filme, além disso, Virginia Cavendish permanece como Rosinha e Enrique Diaz como Joaquim Brejeiro.
Em novo endereço, o Festival Feira Preta, que acontece entre os dias 3 e 5 de maio, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, terá uma programação especial para os empreendedores negros. Realizada na próxima sexta-feira, 3, a programação acontece no a programação acontece no Palco Ayo e terá painéis com convidados como a empreendedora do ramo da moda e criadora de conteúdo, Ana Paula Xongani e da Administradora e Orientadora Financeira, Nath Finanças. Além da primeira mulher negra a se tornar vice-presidente da República da Costa Rica em 2018, Epsy Campebel.
Com uma agenda diversificada e enriquecedora, o Festival Feira Preta oferecerá palestras, debates e sessões práticas voltadas para o fortalecimento e valorização do empreendedorismo afro-brasileiro. Nath Finanças, conhecida por compartilhar conteúdos nas redes sociais focados em finanças pessoais e investimentos fará parte de um bate-papo voltado sobre “Prosperidade Preta: Finanças para Empreendedores”, com participação de Dina Prates, Gabi No Front, Mari Ferreira (Tostão Furado). Já a influenciadora e empreendedora no ramo da moda, Ana Paula Xongani, estará no painel sobre “A experiência de ser Empreendedor de si”.
Além disso, as atividades desta sexta incluem debates sobre o panorama do empreendedorismo negro na América Latina, com a participação da primeira mulher negra a se tornar vice-presidente da República da Costa Rica em 2018, Epsy Campebel, além de promover conversas sobre estratégias para fornecer para grandes empresas e o uso da transformação digital e inteligência artificial nos negócios de pequeno e médio porte. A programação também vai abranger tópicos como acesso a crédito, estratégias para fornecer para grandes empresas, transformação digital nos negócios , oferecendo oportunidades únicas de aprendizado e networking para os participantes.
Confira a programação completa do primeiro dia de Festival Feira Preta:
9h30 – A força do Empreendedorismo Negro na América Latina com Sophia Otto (Schwab Foundation), Eddy Bermudez (CAF América Latina), Estefanía Laterza (CAF Brasil) e Epsy Campebell (Costa Rica).
10h30 – MOVER Apresenta: Como fornecer para as grandes empresas.
11h30 – Transformação Digital: Inteligência Artificial para pequenos e médios negócios com
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Pedro Afonso Oliveira (Atomcore Studio) + Kety Kim Farafina.
13h15 – Investimentos: Como acessar Linhas de Crédito para o Meu Negócio com Aline Odara (Fundo Agbara), Fernanda Leôncio (Conta Black), Rodrigo Ferreira (Grupo Gaia) Mariane Salvador (Estímulo), Marcelo Rocha (ANIP), Marcos Nascimento (BNDES) e Jessica Rios (Black Win).
15h15 – Prosperidades Preta: Finanças para Empreendedores com Nath Finanças, Dina Prates, Gabi No Front, Mari Ferreira (Tostão Furado).
16h30 – Movimento LED e Festival Feira Preta apresentam: Motivação, Inspiração e Realização: A experiência de ser Empreendedor de si. Jordana Araújo (Globo/SporTV), Luiz Medina Guarani, Fred Nicácio, Ana Paula Xongani.
Patrícia Santos e Samara Felippo (Fotos: Reprodução)
Toda prática de racismo deve ser combatida! Porém, quando se trata deste crime contra crianças negras, cujas mães são brancas e famosas, a comoção do público é sempre mais forte.
Nos últimos dias, os brasileiros acompanharam a denúncia da atrizSamara Felippo sobre o ataque racista que a filha sofreu em uma escola de elite na capital paulista. E recentemente, prestes a completar um ano do ataque que os filhos da atrizGiovanna Ewbank sofreram em Portugal, o Ministério Público do país enfim aceitou a denúncia contra a racista. Vale lembrar, que o racismo e a injúria racial ainda não são reconhecidos como crime pelo país europeu.
Embora seja muito importante que mães brancas exponham essas situações em combate ao racismo, precisamos entender o quão as pessoas realmente se importam com a causa ou apenas quando se tratam dos filhos de mulheres brancas e famosas que fazem as denúncias.
Enquanto isso, o que mais vemos, são mães negras derramando lágrimas por filhos que não apenas sofrem ofensas raciais, como também são violentados fisicamente ou são mortos. Mas essa dor não comove o suficiente para fazer o país parar por mais respeito e direitos à infância e juventude negra.
Um estudo realizado em 2023, pelo Instituto de Referência Negra Peregum (IPEC) em parceria com o Projeto SETA, revelou que 64% dos jovens consideram o ambiente escolar como o local em que mais sofrem racismo.
Em novembro do ano passado, um vídeo viralizou com o áudio de um menino de 7 anos, vítima de racismo na instituição de ensino Fundação Fito, localizada em Osasco, na Grande São Paulo. Ele pedia para os pais negros, que expusaram o caso, uma escola que fosse “boazinha” com ele. Apesar de ainda haver uma boa divulgação do ocorrido na escola, também não gerou tanta comoção.
Na época, Patrícia Santos, fundadora da EmpregueAfro, também havia acabado de expor que seu filho de 12 anos tinha sofrido racismo na EMEF Ângelo Raphael Pellegrino, em São Caetano do Sul (SP), pela quarta vez na mesma unidade escolar. Mesmo levando o caso para público, não houve uma melhora no acolhimento com o jovem e a mãe solicitou a transferência para outra escola.
Além dos casos de racismo na escola, há outras situações em que até chegaram a ter mais alcance midiático, mas que ainda não houve uma resolução necessária na Justiça.
Desde 2020, Mirtes Renata continua lutando pela prisão de Sarí Corte Real, responsável pela morte de seu filho Miguel Otávio, um menino de 5 anos, que caiu do nono andar de um prédio de luxo em Recife, onde trabalhava. Enquanto Rafaela Coutinho Matos foi televisionada em prantos enquanto enterrava seu filhoJoão Pedro, de 14 anos, morto por policiais civis em São Gonçalo (RJ), com tiros de fuzil, pelas costas. Mas também não houve a prisão dos três réus pelo crime.
Mas apesar da frustração, não há o que surpreenda de um estado racista. Afinal, da mesma forma que a sociedade continua a violentar crianças negras, também violentam mães negras.
Texto: Danielle Marques – Fundadora e CEO do Silêncio ao Silício
No dia 4 de abril, desembarcamos em São Francisco, nos Estados Unidos, para uma imersão de dez empreendedores negros no epicentro da tecnologia mundial, com o projeto Do Silêncio ao Silício. Durante dez dias repletos de atividades, participamos de uma das maiores conferências brasileiras no Vale do Silício e mergulhamos na região da Universidade de Stanford e em algumas das gigantes tecnológicas que moldam nosso mundo hoje.
A frase que abre este artigo, dita por Eliane Cavalheiro, uma das principais referências do movimento negro e da educação no Brasil, ressoou profundamente durante o período em que estivemos lá. Eliane, atualmente professora convidada pela Universidade de Stanford, na Califórnia, nos recebeu para uma conversa inspiradora sobre políticas públicas e futuro.
Em 2022, visitei o Vale pela primeira vez com um grupo de 70 brasileiros, sendo a única pessoa negra da turma. Essa experiência foi minha motivação para criar iniciativas que democratizassem o acesso a espaços como esse, por isso a frase de Eliane teve tanto impacto em mim e nestes jovens que estavam ali sendo e realizando sonho ao mesmo tempo.
O Vale do Silício, na Califórnia, é onde se concentram as maiores empresas de tecnologia do mundo, como Google, Meta, Apple, entre outras. A região é famosa por sua mentalidade disruptiva e por suas inovações que revolucionaram completamente o modo como vivemos. É conhecida também por sua dualidade: enquanto São Francisco enfrenta desafios sociais e de saúde pública, a tecnologia segue avançando, podemos ver pela cidade carros autônomos cruzando as ruas e robôs preparando nosso café nos aeroportos. É uma mistura tão desconcertante que nos faz sentir como se tivéssemos entrado em um filme de ficção científica.
Foto: Do Silêncio ao Silício/Divulgação
Nosso primeiro dia por lá foi marcado por atividades físicas e networking, com uma caminhada que permitiu nos conectarmos com outros participantes da conferência. Ter a oportunidade de conhecer a Universidade de Stanford em meio a um grupo de pessoas negras foi uma realização tanto pessoal quanto coletiva. Foi um choque cultural que nos impulsionou a vislumbrar novas oportunidades e horizontes.
Nos dias seguintes, participamos do Brazil at Silicon Valley, um movimento que busca conectar os brasileiros mais influentes ao Vale do Silício. Nossos fellows tiveram a chance de participar de uma conferência de dois dias, repleta de palestras sobre inteligência artificial e futuro.
“Qual será a próxima invenção a transformar o mundo? Para onde caminha o futuro? Como posso implementar mudanças em meu negócio?”. Estas foram algumas das perguntas que permearam nossas conversas nos intervalos e almoços. O Vale do Silício dita as tendências tecnológicas que continuam a moldar nosso mundo, e todos estavam ansiosos para descobrir qual seria a próxima grande novidade.
Foto: Do Silêncio ao Silício/Divulgação
A partir do quarto dia, visitamos grandes empresas. A primeira foi a Circuit Launch, um centro de desenvolvimento de hardware eletrônico e educação em robótica. Tivemos uma aula com Alex Dantas, CEO da empresa, que conversou conosco sobre empreendedorismo, tendências e IA. Seus insights complementaram o que já havíamos absorvido nos dias anteriores. Ele demonstrou, por meio de gráficos e estudos, o impacto da tecnologia nas gerações, a importância de aprender a captar investimento, de vender e de pensar coletivamente sobre o futuro.
Em diversos momentos me questionei até que ponto estamos construindo esse futuro de forma conjunta e considerando todos os grupos, ou se apenas sofremos os impactos do que é criado nesses centros de inovação. Quantas dessas tecnologias ou informações estão alcançando nossas comunidades?
Essa foi a reflexão que me acompanhou durante toda a viagem: Como podemos discutir inteligência artificial, carros autônomos e carros voadores em São Francisco quando nas periferias do Brasil ainda enfrentamos problemas básicos de infraestrutura?
Foto: Do Silêncio ao Silício/Divulgação
O mais intrigante é perceber que as tendências do Vale já estão entre nós, moldando nosso cotidiano. De uma forma ou de outra, todos nós estamos sendo impactados pelo que é criado lá. Os desafios que enfrentamos hoje e com os quais vamos nos deparar no futuro demandarão muito de nós. Por isso promovemos essa iniciativa de levar mais pessoas para aprenderem como implementar transformações em seus negócios e democratizar aqui no Brasil o que foi aprendido lá .
Esse intercâmbio de conhecimento tem um valor imensurável e pode impactar positivamente nossas vidas. Este futuro que está sendo construído precisa ser pensado dentro das periferias e favelas do Brasil, lugares que também são grandes pólos de inovações no país e que possuem um poder gigante de gerar grandes transformações. Nosso maior exemplo, que elenco abaixo, são os empreendedores que levamos para o Vale, fundadores de startups em diversos segmentos, como saúde, educação, beleza, hardware, ESG.
Lucas Lima construiu a primeira impressora 3D feita de sucata na favela do Alemão, no Rio de Janeiro. Adriele Menezes, de Salvador, criou o primeiro absorvente biodegradável do Brasil. Roseane Moreira, também de Salvador, criou o “Na Minha Cesta“, que distribui cestas básicas usando tecnologia. Igor Rocha, de Salvador, criou uma plataforma que conecta profissionais negros da saúde a pessoas negras que estão em busca desses profissionais. Thamiris Arruda, de Campinas, no interior de São Paulo, usa a tecnologia para desenvolver cosméticos para pele negra. Pâmela Cavalcante, de São Paulo, tem uma software house e também emprega jovens em situação de vulnerabilidade. Irwin Gomes, de São Paulo, tem um SaaS (software as a service) que ajuda microempreendedores a venderem mais. Gabrielle Rodrigues, de Brasília, ensina jovens em situação de vulnerabilidade a atuarem na área de tecnologia.
O principal insight e aprendizado que tivemos foi que ninguém sabe dizer quais são os verdadeiros impactos das inteligências artificiais no nosso futuro. O conselho que mais ouvimos por lá foi: aprenda a usar essas novas ferramentas, elas estarão cada vez mais presentes no nosso cotidiano. A IA pode ter um impacto consideravelmente maior nos mercados emergentes do que nos mercados desenvolvidos. Neste momento confuso, é importante voltar aos princípios básicos dos negócios: contratar as pessoas certas, encontrar um problema e deixar seus clientes felizes.
Foto: Do Silêncio ao Silício/Divulgação
Três frases importantes para essas reflexões foram:
“A corrida da inovação em que estamos inseridos é marcada pelo constante surgimento de novas tecnologias. Nesse cenário, não há vencedores ou perdedores definitivos, mas aqueles que conseguirem aproveitar de forma eficaz as tecnologias emergentes estarão à frente”. – Cristiano Amon, Qualcomm.
“As empresas podem sofrer danos monetários se não considerarem a ética nos seus negócios, especialmente com IA. Portanto, é importante desenvolver soluções antecipadamente, pensar em quaisquer dificuldades futuras que você possa ter e tentar resolvê-las”. – Gabriel Bayomi, Cofundador e CEO, Openlayer.
Minha maior lição durante essa experiência foi compreender que o futuro se constrói no presente. Portanto, sejamos hoje a mudança que desejamos ver no futuro, até porque “nada sobre nós, sem nós”. – April D’Aubin
Algumas pessoas negras podem até negar ter experienciado o racismo no mercado de trabalho. Mas é bastante improvável escaparmos da desumanização e preconceito, devido à nossa origem, quando estamos no mesmo ambiente que pessoas brancas. Comigo aconteceu – já – no primeiro emprego.
Eu estava com quatorze anos quando fui contratado para trabalhar em uma fábrica de móveis. Os meus pais ficaram bastante contentes. A sensação de alívio transbordava no semblante de minha mãe. Também vibrei muito. Era o meu primeiro registro na carteira de trabalho, e isso é muito significativo para um moleque preto da periferia. Mas eu não tinha a clareza de que a inserção prematura de jovens no mercado de trabalho resultava do histórico de injustiça social. Impactando muito mais nas famílias negras. Todos os membros dessas famílias são essenciais para compor a renda e contribuir com as contas básicas; mas, deixo registrado que um dos efeitos negativos é o aumento da evasão escolar pelos jovens negros. Em textos futuros podemos abordar com profundidade essa lamentável questão.
A empresa contratante fabricava mesas, estantes, gabinetes para cozinha e guarda-roupas. Eu entrei no setor que lixava os móveis. O ambiente era temeroso, insalubre, havia pó de madeira suspenso no ar e cheiro forte de verniz. A empresa nem se preocupava em fornecer equipamentos de proteção individual, apenas doses diárias de leite. Conforme o encarregado, era uma maneira de aliviar a intoxicação, porém, eu nunca soube se realmente tinha fundamento. No setor trabalhavam – mais ou menos – dez pessoas. Não me recordo o número exato. E como estímulo, a empresa oferecia dinheiro extra conforme a produtividade individual. Por isso, o pessoal almoçava rapidinho para ganhar tempo e aumentar a produção. Era uma loucura! Os móveis, após lixados, eram carregados para o setor de pintura. O problema é que alguns modelos precisavam de pelo menos duas pessoas para carregá-los, mas ninguém queria parar o que estava fazendo para ajudar o companheiro. Daí o pessoal me elegeu o capacho do setor “hei, neguinho, me dá uma força!”. Eu não tinha sossego. Nos primeiros dias, encarei de forma positiva, acreditava que sendo prestativo seria uma maneira de estreitar as amizades.
Mas aquilo, aos poucos, começou a me incomodar. Notei que o pessoal abusava e, além de tudo, estava atrasando a minha produção. Na terceira semana, o encarregado geral até questionou a baixa produtividade. Eu expliquei sobre as interrupções frequentes, e mesmo assim ele alertou-me do risco de não passar na experiência de três meses. Depois da conversa, resolvi não ser mais o capacho dos brancos. Eles não gostaram nem um pouco. No entanto, quando completei um mês na empresa, demitiram-me. No trecho da rescisão de contrato: inadequação à política da empresa e descomprometimento com o trabalho em equipe.
Após esse episódio, trabalhei em diferentes empresas e adquiri considerável experiência profissional. Aprendi que não importa qual a posição profissional que o negro ocupa dentro das empresas. Do chão de fábrica aos cargos mais altos, os negros sempre estarão sujeitos a encontrar pessoas brancas buscando se aproveitar de todas as nossas qualidades.
O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania pediu que a Secretaria de Segurança Pública do Estado São Paulo (SSP-SP) investigue a morte do senegalês Serigne Mbaye, de 36 anos. Ele morreu durante operação da Polícia Militar na região central da capital paulista, no dia 23 de abril.
“Segundo registros da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos do MDHC, as razões que levaram Mbaye a óbito são consideradas suspeitas. Ainda de acordo com as denúncias, a ação policial teria ocorrido sem mandado judicial de busca e apreensão, o que resultou em questionamentos sobre o uso da força pelos agentes de segurança, que utilizaram balas de borracha e gás lacrimogêneo contra os moradores”, escreveu o ministro Silvio de Almeida em uma rede social nesta terça-feira (30). O pedido foi feito à SSP-SP no último sábado (27).
Almeida disse ainda que determinou à ouvidora nacional de Direitos Humanos, Luzia Cantal, o acompanhamento e monitoramento do caso e a tomada de providências para a correta apuração sobre os procedimentos adotados pelos oficiais que, “ao entrarem no edifício sem autorização judicial, desrespeitaram a Constituição Federal e agiram de forma violenta contra os residentes”.
O caso
Serigne Mbaye, conhecido como Talla, morreu após cair do sexto andar de um prédio, durante uma ação de policiais que, no dia 23, entraram na construção sem autorização judicial. Segundo relatos de senegaleses que testemunharam o fato, os policiais entraram no prédio da Rua Guaianazes, abriram várias portas de apartamentos até chegarem à casa de Mbaye. Quando a vítima percebeu que os policiais estavam forçando e que abririam a porta, ele correu para a janela.
“O outro rapaz esperou um pouco, a polícia entrou, mobilizou ele, e foi atrás do Talla. E aí esse é o momento que a gente não sabe exatamente o que aconteceu, mas que todos os senegaleses que estavam lá [no ato] estão me dizendo que não tinha nenhuma dúvida que o Talla jamais se jogaria e jamais se colocaria em risco a ponto de cair, porque ele tem dois filhos e porque essa é uma situação mais ou menos corriqueira [na região]”, contou à Agência Brasil a antropóloga Amanda Amparo.
O ato a que Amanda se refere é uma manifestação no último dia 25, na qual os participantes pediram a investigação e punição dos policiais militares envolvidos na morte do imigrante. Segundo os manifestantes, a perseguição aos imigrantes senegaleses na região central é recorrente. Eles rebatem a versão de que o senegalês estivesse envolvido em algum crime.
“Eles estão sendo muito perseguidos já, muito antes desse fato acontecer, eles já vinham sendo muito perseguidos pela polícia. Há muitas semanas, a polícia está invadindo o prédio, subindo de maneira bem aleatória, procurando os apartamentos, abrindo as portas, invadindo alguns apartamentos”, afirmou a antropóloga que esteve no ato e recebeu relatos de familiares e pessoas próximas à vítima.
O grupo presente no protesto cobrou ainda que a morte de Mbaye não seja investigada de forma isolada, porque, segundo os manifestantes, está relacionada ao modelo de opressão que a comunidade vem sofrendo. “É importante que se levante o problema, até porque o medo deles é que outros senegaleses sejam mortos”, alertou a antropóloga.
Em nota, a SSP informou que “policiais militares faziam o patrulhamento no local [rua Guaianases] e constataram que, em um prédio na região, era realizado o comércio de celulares roubados. Em diligências, os policiais viram um homem com diversos celulares, no 6° andar e deram ordem de parada ao suspeito, que desobedeceu, mas foi detido”.
Com o homem, teriam sido apreendidos 44 celulares e mais oito aparelhos eletrônicos, no entanto, a SSP não respondeu se os equipamentos eram resultados de roubo ou furto. O rapaz foi liberado pelo delegado. Segundo a SSP, “um segundo homem tentou fugir pulando pela marquise do prédio”, mas morreu após a queda. O caso foi registrado como receptação, desobediência e morte acidental no 2° DP (Bom Retiro).
O Tribunal de Justiça condenou uma estudante do curso de Medicina da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) por fraudar o sistema de cotas. A aluna, identificada como Sarah Regina Pereira de Matos, além de perder sua vaga na universidade, foi condenada a pagar cerca de 8,8 mil reais por danos materiais e 20 mil reais por danos morais. A ação foi movida pelo Ministério Público Federal, que apurou as irregularidades.
Em 2017, Sarah se inscreveu no sistema de cotas para pretos e pardos, que também considera candidatos de escolas públicas com renda bruta de até 1,5 salário mínimo. Ela alegou na sua autodeclaração possuir traços genotípicos pretos do bisavô paterno e ascendência parda materna. No entanto, segundo o Ministério Público Federal, a estudante não atendia aos requisitos necessários e foi considerada fenotipicamente branca.
Também foi constatado que o padrão de vida e o patrimônio da família da estudante eram incompatíveis com o perfil socioeconômico declarado para acessar a vaga pelo sistema de cotas.
O Rock In Rio anunciou nesta última segunda-feira (30) um dia de festival exclusivo para celebrar a música brasileira. Porém, o evento foi criticado por deixar de fora artistas e talentos do norte do país. “Dói ver isso aqui em 2024 e perceber que mesmo com tanta luta, esforços e mesmo tantos destaques ultimamente, a arte nortista segue sendo INVISÍVEL pra resto do país. Muito bacana mas pra mim esse Dia Brasil não existe enquanto não lembrarem que o Norte também é Brasil”, publicou um usuário no X.
Nesta terça-feira (30), Gaby Amarantos se manifestou sobre a falta de representantes nortistas no festival. “Querem ouvir nossa música mas não querem nos levar para cantar lá?”, questionou ela compartilhando um desabafo da cantora Fafá de Belém. “O maior festival de música do país tem um DIA BRASIL nos coloca da porta para fora”.
Durante a coletiva de imprensa, Zé Ricardo, vice-presidente artístico do Rock in Rio, contou sobre a decisão do Dia Brasil. “A campanha do Rock in Rio esse ano é Rock in Rio 40 anos e pra sempre. Por isso a gente resolveu homenagear vários estilos da música brasileira. Estilos que a gente acredita que tem a ver com o festival. E estilos novos que nós estamos abrindo a porta pra entrar no festival”, disse.
Entre os destaques negros da line-up, estão confirmados grandes nomes como Ludmilla, Zeca Pagodinho, Alcione, Jorge Aragão, Xande de Pilares e Gloria Groove, no palco Sunset. Mc Carol, Tati Quebra Barraco, Buchecha, Kevin o Chris, Livinho, Mc Dricka, Orquestra Sinfônica Brasileira Jovem, entre outros no Espaço Favela.