Na última quinta-feira, 25, Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha, a intelectual Sueli Carneiro recebeu a Medalha Tiradentes, mais alta honraria oferecida pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.
A homenagem, proposta pelo deputado Professor Josemar (Psol), que preside a Comissão Parlamentar de Combate às Discriminações e Preconceitos de Raça, aconteceu no Palácio Tiradentes, na noite de ontem e contou com a presença da escritora Conceição Evaristo.
Em entrevista para a jornalista Flávia Oliveira, na GloboNews, a ativista revelou estar surpresa com a honraria: “Eu pertenço a uma geração de militantes, ativistas, intelectuais negros, orgânicos do movimento negro, do movimento de mulheres negras que sempre foram execrados por essas atividades que realizávamos. Então é absolutamente surpreendente chegar em um momento da minha vida, da minha trajetória, em que tudo o que era estigma, tudo o que era estereótipo, tudo o que era desqualificado se torna valorizado e isso só tem sido possível pelo compromisso e pela generosidade que novas gerações estão nos ofertando”, disse.
“Estou chocada, emocionada, feliz e gratificada por ter vivido o suficiente para ver os estigmas que sempre nos acompanharam estarem de alguma maneira sendo revertidos”, reforçou. Para a escritora Conceição Evaristo, a honraria é também uma homenagem a todas as mulheres: “É uma prova que nossa vida vale a pena. Essa homenagem que se faz à Sueli, na verdade, é uma homenagem que se faz a todas as mulheres”, afirmou ela à GloboNews.
Em um vídeo divulgado na sexta-feira, 26, o ex-presidente Barack Obama e a ex-primeira-dama Michelle Obama anunciaram seu apoio à candidatura presidencial da vice-presidente Kamala Harris. “Michelle e eu não poderíamos estar mais orgulhosos de apoiá-la e fazer tudo o que pudermos para que você passe por esta eleição e chegue ao Salão Oval”, afirmou Obama a Harris em uma ligação telefônica acompanhada por sua esposa.
Kamala Harris agradeceu aos Obama pelo apoio e falou sobre sua gratidão pela amizade de décadas. “Meu Deus. Michelle, Barack, isso significa muito para mim. Estou ansioso para fazer isso com vocês dois, Doug e eu. E sair por aí, estar na estrada. Mas, acima de tudo, eu só quero dizer que as palavras que vocês falaram e a amizade que vocês deram ao longo de todos esses anos significam mais do que eu posso expressar, então obrigada a ambos. Significa muito. E nós vamos nos divertir com isso também, não é?” disse a vice-presidente.
Michelle Obama também expressou seu orgulho por Harris e destacou a importância histórica da eleição. “Não posso ter esse telefonema sem dizer à minha garota, Kamala, estou orgulhosa de você. Isso vai ser histórico”, disse a ex-primeira-dama.
Em uma declaração conjunta, os Obama elogiaram Harris e listaram suas realizações. “Kamala tem mais do que um currículo”, afirmou a declaração. “Ela tem a visão, o caráter e a força que este momento crítico exige. Não há dúvidas em nossa mente de que Kamala Harris tem exatamente o que é preciso para vencer esta eleição e entregar para o povo americano.”
A declaração também enfatizou a importância da candidatura de Harris em um momento crítico. “Num momento em que os riscos nunca foram tão altos, ela nos dá a todos motivos para ter esperança”, dizia o texto. Obama e Harris têm mantido contato regularmente, com o ex-presidente sendo um grande apoio à atuação política dela, assim como tem feito ao longo dos 20 anos em que se conhecem, segundo uma fonte.
Obama não apoiou Harris imediatamente após o anúncio do presidente Joe Biden no domingo de que ele não buscaria a reeleição. “Tenho uma confiança extraordinária de que os líderes do nosso partido serão capazes de criar um processo do qual emergirá um candidato extraordinário”, disse o ex-presidente em uma declaração na época.
De acordo com a fonte, Obama acreditava que era importante para o Partido Democrata ter um processo legítimo pelo qual os delegados selecionariam seu novo indicado. Um assessor de Obama disse à CNN que o ex-presidente estava adotando a mesma abordagem que adotou durante as primárias democratas de 2020, observando de perto com a intenção de poder unificar o partido quando um indicado fosse escolhido – fosse Harris ou outra pessoa.
Daiane dos Santos, a primeira atleta negra e brasileira, entre homens e mulheres, a conquistar a medalha de ouro no Campeonato Mundial de Ginástica Artística, participará da transmissão da cerimônia de abertura da Olimpíada de Paris 2024 na TV Globo nesta sexta-feira, dia 26, e irá comentar as provas de ginástica.
Alem disso, Daiane também é a entrevistada do segundo episódio da série ‘Negritudes’, do programa Fantástico, apresentado pela Maju Coutinho, no domingo, dia 28. Ela conta como se sente de ser pioneira e como enfrentou o racismo durante sua trajetória no esporte.
“Eu acho que pioneirismo vem pela medalha de ouro. Outras mulheres negras abriram esse caminho antes de mim. Eu sempre cito a Dominique Dawes, uma ginasta americana que era exemplo para mim. Fora do esporte, temos inúmeras mulheres que são referências também, como a Dona Aída dos Santos, Dona Melânia. São duas mulheres pretas que abriram esse espaço para gente”, cita Daiane.
Foto: Divulgação/TV Globo
“Quando a gente fala de preconceito racial, não podemos rotular isso dentro do esporte. A gente tem que entender que isso acontece na vida, em todos os lugares. Mas o que fez diferença para mim foi a minha família. Meu pai sempre trouxe essa consciência de pessoa preta. A gente sempre toca muito nesse assunto. E eu acho que a gente tem que falar, principalmente, como isso tudo foi superado e como isso foi construído para mostrar o brilho que vem lá depois”, destaca.
Parceria com a Plataforma Negritudes Globo, a série ‘Negritudes’ do ‘Fantástico’ traz, em quatro episódios, as narrativas negras para o centro da conversa.
A ginasta brasileira Rebeca Andrade apresentou um vídeo ao Comitê Técnico da Federação Internacional de Ginástica (FIG) demonstrando um novo e inédito salto, o Yurchenko com tripla pirueta (TTY). Caso Rebeca execute este movimento na competição, ele pode ser batizado com seu nome.
O salto TTY é realizado com uma entrada Yurchenko, que inclui uma rondada seguida de flic-flac para a mesa, com a ginasta entrando de costas no aparelho e completando três piruetas (1080 graus). Esse é considerado o salto mais difícil da “família” Yurchenko e foi avaliado pelo Comitê Técnico Feminino como tendo grau seis de dificuldade.
Rebeca Andrade submeteu o Yurchenko Triple Twist (Yurchenko Pirueta Tripla) no código de pontuação pras Olimpíadas.
Isso significa que a brasileira pode (e deve) executar o salto em Paris, e portanto, “batizar” como Andrade, já que será a primeira na história.
Por ser um elemento nunca antes realizado em competições olímpicas, ele ainda não possui uma pontuação oficial ou nome no código de ginástica artística. Se Rebeca conseguir executá-lo, o salto poderá receber seu nome.
Com a homologação do TTY, Rebeca se juntaria a outros ginastas brasileiros que já têm movimentos nomeados em sua homenagem, como Daiane dos Santos.
O Festival Latinidades homenageará cinco mídias negras e jornalistas negras na sexta-feira, 26 de julho, com o “Prêmio Jacira da Silva“, no Museu Nacional, em Brasília, às 15h30. O Mundo Negro, da CEO Silvia Nascimento, será um dos veículos premiados, junto a Revista Afirmativa, Alma Preta, Cultne e Africanize. Basília Rodrigues da CNN, Maju Coutinho da TV Globo e Juliana Cézar Nunes da EBC, serão as jornalistas que receberão o prêmio.
O evento dedicado às vozes das mulheres negras na mídia, iniciará com um debate sob o tema “Mulheres Negras na Mídia: Inovação e Impacto na Comunicação Pública“, que promete ser um marco para a representatividade no jornalismo nacional e internacional, a partir das 14h.
Outras figuras proeminentes também estão presentes no Festival Latinidades, como a jornalista da EBC Luciana Barreto, da TV Cultura Joyce Ribeiro e convidada internacional da Colômbia, a jornalista Mabel Lorena Lara, com mediação de Jéssica Santos, da diretoria de Commbne. Elas compartilharão suas experiências e discutirão como estão moldando e redefinindo o panorama midiático com suas histórias e perspectivas únicas.
“Esse momento é muito importante para nós, pois, iremos não apenas poder compartilhar informações valiosas sobre comunicação pública a partir de mulheres negras potentes da comunicação pública nacional e internacional, como também vamos premiar mídias negras que tem marcado história na comunicação antirracista em um evento que há anos, bravamente, celebra o bem-viver de mulheres negras”, destaca Midiã Noelle, diretora geral do Instituto Commbne.
O tema da edição deste ano do Festival Latinidades é “Vem ser Fã de Mulheres Negras“. “Um chamado para reconhecer e celebrar a força transformadora dessas mulheres, ato que pode ser interpretado como revolucionário em uma sociedade machista e racista como a brasileira”, sublinha Jacqueline Fernandes, diretora-geral e idealizadora do festival.
Nesta edição, o Festival celebra a força e o papel das mulheres negras na sociedade e homenageia a cantora cubana, Rita Marley; a DJ jamaicana, Sister Nancy; a cantora e compositora brasileira,Alaíde Costa; e a artista brasileira, Sandra Sá.
A programação inclui debates, exposições, palestras, shows e apresentações culturais. Destaque para o Debate Trancistas, exposição Afrolatinas – 30 anos em movimento, e o espaço Latinidades Kids.
A EBC fará a cobertura da 17ª edição do Festival Latinidades, que acontece de 25 a 27 de julho, em Brasília. A TV Brasil, a Rádio Nacional e a Agência Brasil acompanharão o evento.
A realização é do instituto Afrolatinas em parceria com o Instituto Commbne (Comunicação baseada em inovação, raça e etnia) e com apoio da Empresa Brasil de Comunicação.
Serviço:
Quando: 26 de julho de 2024, das 14h às 16h
Onde: Museu Nacional – Brasília
Ingressos: Sympla – Debate Mulheres Negras na Mídia
Para mais informações sobre o Festival Latinidades e para adquirir ingressos, visite:
O diretor e cineasta Tyler Perry declarou recentemente que não vai deixar que as críticas “intelectuais” direcionadas aos seus filmes o impeçam de continuar contando histórias para as comunidades negras. Em uma participação no podcast “Baby, This Is Keke Palmer,” ele rebateu crtícias negativas direcionadas aos seus filmes. “Eu sei com certeza que o que estou fazendo é exatamente o que eu deveria estar fazendo”, disse.
Perry destacou a importância de sua obra para o público ao compartilhar o impacto positivo que seus filmes têm na vida de muitas pessoas. “Para todos os críticos, eu tenho milhares de e-mails de pessoas dizendo, ‘Isso mudou minha vida. Oh meu Deus, você me conhece. Oh meu Deus, você me viu. Como você sabia disso sobre minha vida e minha família?’ Isso é o que é importante”, disse o diretor.
O mais recente filme dramático de Perry, “Divorce in the Black”, estrelado por Meagan Good e Cory Hardrict, recebeu críticas severas e obteve uma rara pontuação de 0% no site Rotten Tomatoes. No entanto, a reação do público foi significativamente mais positiva, com o filme alcançando uma pontuação de audiência de 75%.
Durante a conversa com Keke Palmer, Perry explicou que prefere ignorar as críticas de uma minoria elitista e se concentrar em contar histórias que ressoam com pessoas de origens humildes. “Você tem esse negro intelectual que fica todo empinado com o nariz empinado olhando para tudo, e você tem pessoas como de onde eu venho, e eu, que são trabalhadores, que realmente sabem como é, cujas mães eram cuidadoras de crianças brancas, e eram empregadas domésticas, governantas… esteticistas“, disse. “Não desconsidere essas pessoas e diga que suas histórias não importam. Quem é você para ser capaz de dizer qual história negra é importante ou deve ser contada? Saia daqui com essa besteira“, finalizou.
A cantora IZA utilizou seu perfil nas redes sociais para celebrar o Dia Interncaional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, comemorado neste 25 de julho. A estrela destacou a importância da referência de mulheres negras em sua jornada. “Parei pra refletir mais uma vez que sou muito abençoada por ter mulheres negras incríveis como referência na minha vida”, comemorou. “Sou muito abençoada, também, por vocês que me escutam e me assistem terem me acolhido como uma mulher preta”.
Grávida de sete meses, IZA também se mostrou ansiosa para a chegada de sua primeira filha, Nala. “Hoje sei que ocupo esse lugar representando tantas mulheres, mas antes de mim vieram outras que me inspiraram e abriram caminhos“, publicou a cantora. “Meu máximo respeito a elas e aos exemplos maravilhosos que tive dentro de casa, que sempre me disseram que eu poderia ocupar qualquer espaço que eu quisesse! E agora tudo ganha um novo significado, porque falta pouco pra eu colocar mais uma pretinha no mundo. Só espero ser pra ela pelo menos um pouco do que essas mulheres foram pra mim”.
Instituída em 1992 durante o primeiro Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, realizado em Santo Domingo, na República Dominicana, a data de 25 de julho também marca o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra no Brasil.
Tereza de Benguela foi uma líder quilombola que resistiu bravamente contra a escravidão no Brasil durante o século XVIII. Sua história de coragem e liderança é emblemática para a luta das mulheres negras por direitos e reconhecimento.
Liderado pelas executivas Samantha Almeida, Viviane Duarte, Raquel Virginia e Helena Bertho, o videocast “Líderes Brasileiras: O Negócio Delas” é uma iniciativa inovadora focada em promover o empoderamento profissional feminino, especialmente entre mulheres negras no Brasil.
Com estreia na próxima quarta-feira, 31 de julho, a produção contará com oito episódios, disponíveis no YouTube e em plataformas de streaming musical. Para o Mundo Negro, as apresentadoras deram detalhes sobre a criação do videocast e como suas experiências pessoais influenciaram as conversas que serão compartilhadas com o público: “Encontramos o momento perfeito para expor nossas vozes e direcionar mulheres que querem crescer no mercado de trabalho. O nosso desejo em criar o projeto “Líderes Brasileiras” emerge da visão compartilhada de liberação e progresso. Nós queremos construir um espaço onde outras mulheres, principalmente as mulheres negras, possam prosperar”, revelou Samantha Almeida.
O projeto incluirá encontros em eventos interativos e programas de mentoria, proporcionando um ambiente para o desenvolvimento pessoal e empresarial das participantes. Raquel Virginia também compartilhou como suas experiências foram fundamentais para desenvolver o videocast: “A intenção é mostrar que nossas trajetórias, com todas as suas dificuldades e conquistas, são fundamentais para inspirar a próxima geração de líderes. Cada conversa gerada ali é uma oportunidade para discutirmos temas que influenciam diretamente o nosso sucesso e empoderamento, como diversidade, inclusão e estratégias de negócios que funcionam”.
A publicitária e executiva, Raphaela Martins, é a convidada especial do primeiro episódio, intitulado “Socorro, virei chefe!”. “Os temas abordados têm o papel de abrir importantes conversas e trazer perspectivas sobre a jornada de liderança, sendo mulher e mulher negra. Essas conversas podem gerar impacto e inspiração ao trazerem questões como representatividade, empoderamento, desafios no mercado de trabalho, saúde mental e empreendedorismo, discutiremos as experiências únicas e muitas vezes sub-representadas das mulheres brasileiras, que representam a maioria da população do país e 96% das decisões financeiras das famílias”, explicou Helena Bertho, que também integra o videocast “Líderes Brasileiras”.
Fechando o time de executivas negras que apresentam o videocast, a fundadora e CEO da Plano Feminino,Vivi Duarte celebra a novidade e deixa um conselho especial para mulheres negras que estão começando suas jornadas profissionais e empresariais
“Meu conselho é simples, mas poderoso: acredite em você mesma e não tenha medo de se destacar. Procure desenvolver um entendimento profundo do seu mercado e esteja sempre pronta para se reinventar. Construir uma rede de apoio é fundamental; busque mentoras que tenham trilhado caminhos semelhantes e que possam fornecer orientação e encorajamento” disse.
“Cada uma de nós tem uma história única e valiosa. Use suas experiências pessoais como combustível para moldar sua trajetória. Lembre-se de que o fracasso faz parte do processo; é uma oportunidade de aprendizado. Mantenha seu foco em seus objetivos, confie em seu valor e não hesite em ser a voz que representa não apenas você, mas muitas outras mulheres ao longo do caminho. Estamos todas juntas nessa jornada, e quanto mais nos apoiarmos, mais poderosas nos tornamos”, finaliza.
Quando as pessoas entendem que a escolha do que vestir é mais do que uma atitude trivial, sendo uma maneira de estabelecer a própria identidade, passam a poder ter a intencionalidade de escolher uma peça criada por empreendedoras negras de moda autoral.
Além de todo conceito criado em cada coleção lançada e que é integrado à identidade de quem usa, estamos valorizando criadoras que aceitaram viver o desafio de ser mulher, de ser uma pessoa negra, queer e empreender no mundo da moda, comumente liderado por pessoas brancas.
Ao conversar com algumas dessas mulheres, conhecemos suas trajetórias e conselhos para quem deseja se estabelecer nesse universo. Silla Maria Filgueira, baiana, criadora da marca de calçados e vestuário, Sillas Filgueira Brand, Cecília Gouveia, artesã, marisqueira e representante da marca de acessórios de moda Quilombolas de São Lourenço e Karla Batista, fundadora da marca de acessórios Azulerde, compartilharam com o Mundo Negro suas motivações e o que esperam do futuro da moda para mulheres negras.
Motivadas pelo talento e bom gosto
Para Silla Maria Filgueira, o fascínio pela moda começou cedo. “Desde criança, eu já brincava de fazer moda com bonequinhas de palitos de fósforos e roupas de canudos plásticos. Nasci com esse dom, voltado para moda e arte”, lembra a empreendedora que ingressou no mundo da moda trabalhando como auxiliar de estilo em uma fábrica e, após vencer um concurso de novos talentos, lançou sua marca Silla Filgueira.
Cecília Gouveia, artesã e marisqueira de Goiana, Pernambuco, encontrou nos acessórios uma forma de expressão, além de sustento para sua comunidade. “Somos em muitas mulheres e eu gostava muito de acessórios. Nosso intuito era fazer peças artesanais com conchas. Decidimos na mesma hora”, conta. A marca Quilombolas de São Lourenço surgiu dessa iniciativa coletiva.
Karla Batista, bióloga e fundadora da Azulerde, encontrou nos acessórios uma forma de afirmar sua personalidade. “Acho que escolhi acessórios para afirmar minha personalidade através das minhas peças, com o design que eu queria e com o propósito que eu achava correto. Desde o começo da marca, minhas peças foram feitas com resíduos sólidos e isso foi muito importante para toda construção da marca nesses seis anos”, explica.
O desafio de ser ouvida, compreendida e reconhecida
Ao lembrarem os desafios que vivem diariamente como donas de seus próprios negócios, as empreendedoras destacam a dificuldade para obter capital, o reconhecimento profissional e até mesmo a aceitação do design contemporâneo de suas peças.
“O maior desafio, sem dúvida, é obter capital para investir em matérias-primas para o desenvolvimento das coleções. Eu realizo um trabalho na cidade baixa, minha comunidade, onde desenvolvo as peças com amigas costureiras que tiram dessa empreitada a sua fonte de renda. Como mulher negra e transsexual, enfrentei e enfrento diariamente todos os tipos de preconceitos”, destaca Silla.
Cecília também enfrenta barreiras significativas. “Os desafios como empreendedora incluem, principalmente, o reconhecimento profissional. Nós, mulheres afrodescendentes, enfrentamos o preconceito de ter que provar nossa competência. Devemos estar em todos os lugares, e não apenas nos que dizem ser nossos”, ressalta.
Karla menciona os obstáculos na aceitação de seu design contemporâneo e na sustentabilidade. “Acredito que ter um design mais contemporâneo é um deles. Enfrentei múltiplas dificuldades por não ser uma marca preta que utiliza elementos como búzios e estampas mais expressivas. Nesse processo de afirmação de marca, tive que fortalecer muito o branding para que todos pudessem entender a afro-contemporaneidade das minhas criações. Um outro problema imenso que sofro até hoje é permanecer sustentável depois de tanto tempo. Mas, por que eu continuo? Não consigo enxergar minha vida sem esse propósito, todo mês eu estudo possibilidades de futuro que minimizem esse resíduo sólido do meu entorno”, reforçou Karla.
Visões para o Futuro da Moda
Para Silla Filgueira, a evolução da moda para mulheres negras passa pelo caminho da diversidade e da inclusão: “Moda não é só a arte do vestir, a moda é contar, sentir, vestir uma história, uma cultura. Eu imagino que vamos ter mais liberdade com os nossos corpos, nossas etnias e sermos mais plurais… Moda é liberdade”.
Cecília Gouveia espera ver a evolução financeira e o fortalecimento das empreendedoras negras. “Eu imagino todas firmes e lindas e contando suas histórias para outras que estarão seguindo nossos passos! A evolução financeira de todas. Isso é o que desejamos no final”, disse.
Em uma visão atemporal, para Karla Batista, o futuro continuará sendo de união entre mulheres negras: “Claro que fazer negócios crescerem e se desenvolverem não é fácil porque sempre será necessário investimento. Mas não estamos sozinhas, sabe? Temos umas às outras. Eu tenho uma rede maravilhosa que nunca me deixa esquecer disso”, destacou.
Esse conteúdo é fruto de uma parceria entre Mundo Negro e Instituto C&A.
Quando falamos aqui sobre executivas negras, sempre destacamos os grandes feitos profissionais que elas têm realizado, os eventos que participam e movimentos em que estão envolvidas para impulsionar seus negócios e pares, mas pouco paramos para pensar sobre como elas conseguem conciliar a rotina profissional com a vida pessoal.
Uma das vozes mais influentes do universo corporativo e da luta pela equidade racial nesses ambientes, Rachel Maia, fundadora e CEO da RM Consulting, é uma referência. Conhecida por ser a primeira mulher negra a comandar uma grande empresa no Brasil, ela agora dedica sua carreira à consultoria em Diversidade e Inclusão e ao desenvolvimento de lideranças, além de presidir o Conselho do Pacto Global da ONU.
Com tantas atribuições profissionais, equilibrar os pratos para ter tempo para cuidar da vida pessoal, dos filhos, Sarah Maria e Pedro Antônio, além do autocuidado, essencial para a saúde mental e física, pode ser desafiador. Em uma entrevista para o Mundo Negro, Rachel abriu as portas da sua rotina multifacetada: “Eu prezo pelo tempo de qualidade em tudo que me proponho a fazer e isso significa que, em alguns momentos, é preciso abdicar de algumas demandas e prezar pelo redesenho da semana”, contou.
Como é um dia típico na sua vida?
É um dia-a-dia muito corrido e desafiador, eu me desdobro entre uma reunião e outra. São em torno de cinco, seis reuniões por dia. Fora os demais compromissos que como conselheira preciso cumprir, como palestras e entrevistas, atrelado também aos estudos – iniciei há algum tempo um MBA em sustentabilidade – e tempo com os meus filhos e família. No final do dia, há um sentimento de dever cumprido, mas nem sempre é assim e tudo bem.
Quais são os maiores desafios que você enfrenta ao equilibrar suas responsabilidades como mãe, executiva e Presidente Conselho do Pacto Global da ONU?
Eu prezo pelo tempo de qualidade em tudo que me proponho a fazer e isso significa que, em alguns momentos, é preciso abdicar de algumas demandas e prezar pelo redesenho da semana. Ou seja, remarcar uma reunião que em uma lista de prioridades, não ocupa o topo e até mesmo delegar algumas funções, que não precise que eu esteja full time. Já tive momentos em que quis estar 100% à mercê dos meus filhos e das minhas atividades do trabalho ao mesmo tempo, e aprendi que essa dinâmica não era justa com eles e nem comigo.
A lição de casa foi tentar aproveitar as minhas 24h do dia de maneira saudável e consciente, esse foi o maior desafio, sem que os compromissos profissionais engolissem os momentos de lazer com a família e vice-versa. Eu parto muito do princípio que tudo bem errar nos negócios, faz parte, altos e baixos, mas com os meus filhos, Sarah Maria e Pedro Antônio, é sempre um desafio, uma caixinha de surpresa. Quero dar o melhor, surpreender, mas nem sempre é assim.
Como organiza seu tempo para garantir que haja espaço para momentos de lazer e autocuidado? Existe algum ritual ou hábito diário que considera essencial para manter sua produtividade e bem-estar?
Posso dizer ainda que sou uma privilegiada, conto com uma rede de apoio e uma equipe eficiente, que me auxiliam e me ajudam a ter tudo, minimamente, sobre o controle. Inseri na minha rotina agenda e aplicativos que me dão um panorama completo do que precisa ser feito e onde devo focar a minha força e energia, sem comprometer qualidade e a minha saúde, seja física ou mental. Quanto aos rituais, gosto muito de caminhar, viajar e cozinhar, são momentos que eu desligo e humanizo a minha imagem, a mulher que eu sou. Sair para encontrar amigas próximas e o famoso almoço de família também são alguns lazeres, dos quais não abro mão.
Quais são as maiores lições que você aprendeu em sua trajetória e que você aplica diariamente em sua vida e trabalho?
Desde muito nova, os estudos foram postos para mim como algo catalisador, algo que abre portas e mudam vidas. Sigo acreditando nisso e assim como meu pai fez comigo e os meus irmãos, passo isso para os meus filhos – é quase como um legado de família, e que bom que é por essa perspectiva. Alcancei e conquistei grandes oportunidades, e devo isso às formações e muito trabalho duro, me colocando sempre em posição de aprendizado contínuo. Essa é a maior lição que eu poderia ter aprendido em toda a minha vida, estudar nunca é demais, seja para mim, enquanto pessoa física, seja para a Rachel profissional.
Quais livros, autores, leituras ou personalidades te inspiram e por quê?
Me senti muito tocada com a biografia da atriz Viola Davis, e não canso de dizer. É uma história forte, com tantos desafios e conquistas, uma inspiração para mim e para tantas outras mulheres negras, independente da geração. A ex-primeira dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, também é uma referência e posso dizer que sou fã, estou sempre atenta às suas postagens e posicionamentos. Há alguns meses, tive a oportunidade de ouvir, de perto, Oprah, em sua passagem pelo Brasil. Não poderia deixar de citá-la, assim como a Graça Machel, referência na luta pela igualdade de gênero.