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Justiça condena professora que afirmou que cabelo de estudante negra estava ‘cheirando mal’

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Foto: Carlos Trinca/EPTV

A Justiça condenou a professora Lucélia Aparecida Angelotti e a Escola Quarup, localizada em Sertãozinho (SP), a indenizarem em R$ 30 mil uma estudante negra de 10 anos, vítima de racismo em sala de aula. O episódio ocorreu em junho de 2023, quando a docente, após cheirar os cabelos da criança diante da classe, afirmou que ela estava “cheirando mal”. A fala gerou constrangimento e fez com que os colegas zombassem da menina.

O caso começou quando a professora se queixou de um cheiro ruim na sala de aula e, ao passar pela estudante, perguntou se ela usava algum produto químico, já que o odor lhe causava alergia. A criança explicou que havia passado creme no cabelo, mas a professora não se limitou a isso: chamou três funcionárias para cheirar os cabelos da aluna, que não relataram nenhum cheiro. O episódio resultou em humilhação pública, com os colegas fazendo piadas sobre a situação.

Após o incidente, a mãe da estudante informou à polícia que a escola não havia comunicado o ocorrido. Ela soube do caso por meio da mãe de uma colega, que a avisou ao dar carona para a filha após a aula. A família moveu uma ação por dano moral, alegando que o episódio afetou emocionalmente a criança, prejudicando sua autoestima e desempenho escolar. A estudante pediu, inclusive, para ser transferida para outra escola.

Em sua defesa, a professora e a escola alegaram que não houve qualquer intenção discriminatória e que o procedimento foi realizado com a intenção de verificar um possível problema de saúde, sem intenção de constranger a aluna. A escola também afirmou que a situação foi um mal-entendido.

No entanto, ao julgar o caso no fim de novembro, a juíza Daniele Regina de Souza Duarte, da 1ª Vara Cível, considerou que as testemunhas confirmaram o relato da vítima e apontou falhas nas justificativas apresentadas pela defesa. A magistrada destacou que a professora liberou a turma para o recreio sem comunicar os responsáveis ou a direção sobre o possível risco, além de questionar a alegação de que a motivação era o zelo pela saúde dos alunos. Ela ainda afirmou que o comportamento da professora indicava evidências de preconceito racial, considerando o fato de a aluna ter cabelo afro e ter usado creme, o que, segundo a juíza, pode ter sido a verdadeira razão para o incidente.

A Escola Quarup, em nota, lamentou o episódio, mas afirmou que recorrerá da decisão. A instituição negou que a atitude da professora tenha sido discriminatória e ressaltou que o inquérito policial foi arquivado pelo Ministério Público. A escola também enfatizou que investe em programas sobre diversidade e igualdade racial para promover um ambiente seguro e acolhedor para todos os alunos.

A$AP Rocky é homenageado no FNAA Awards e celebra com Rihanna em noite de glamour e sintonia

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Foto: Cindy Ord/WireImage

A$AP Rocky foi um dos grandes destaques da 38ª edição do FNAA Achievement Awards, premiação considerada o ‘Oscar dos Calçados’, realizada nesta terça-feira, 4, em Nova York, nos Estados Unidos. O rapper recebeu o prêmio de “Colaboração do Ano” por sua parceria com a Puma, celebrando o marco ao lado da companheira Rihanna, em uma noite que uniu estilo e conexão.

Rihanna acompanhou o parceiro em grande estilo, usando um vestido branco de gola alta, com uma fenda frontal. Complementando o look com joias brilhantes e maquiagem impecável, a cantora reafirmou sua posição como ícone da moda global. Já Rocky apostou em uma jaqueta oversized de couro e um cinto com a inscrição “LOVE”.

A noite foi marcada por momentos de carinho entre o casal, que compartilhou risadas e demonstrações de afeto no tapete vermelho. A cumplicidade chamou atenção tanto dos fotógrafos quanto dos fãs nas redes sociais, que elogiaram a química entre os dois.

O FNAA Achievement Awards, conhecido como o “Oscar do Calçado”, reconheceu os maiores nomes da indústria em 2024, celebrando talentos, inovação e impacto global. A parceria entre A$AP Rocky e a Puma é marcada por lançamentos como o modelo Mostro, que incorporou tecnologia de impressão 3D, refletindo o espírito inovador da colaboração.

Conheça o festival de Salvador que hackeou o sistema

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Foto: Divulgação

Festival Afrofuturismo se consolidou unindo ancestralidade, resistência e a construção do futuro negro

Sigo reverberando toda a experiência que fui exposta no Festival Afrofuturismo – Ano VI, que, agora em 2024, se ergueu como um marco de resistência e celebração da cultura negra. Nos dias 29 e 30 de novembro, Salvador testemunhou a sexta edição do festival, que trouxe como tema central “Adinkras – O Código Fonte da Liberdade”, uma homenagem aos símbolos originários do povo Asante, em Gana.

Em um ano marcado por desafios para a realização de eventos afrocentrados por falta de patrocínio, fez  acender um alerta para quem trabalha na área, e com a pauta racial, mas o FAF reafirmou sua relevância ao promover uma celebração transformadora da cultura negra, como um espaço essencial para a valorização da ancestralidade africana, discutindo caminhos para um futuro mais inclusivo e representativo.

Com uma programação diversificada, o festival ocupou o coração da capital baiana, distribuindo suas atividades por locais emblemáticos como a Casa Vale do Dendê, o Museu Eugênio Teixeira, o Teatro Sesc Pelourinho e a Casa do Olodum. Cada espaço simbolizava a fusão entre o passado e o futuro, entre tradição e inovação.

O tema escolhido, “Adinkras – O Código Fonte da Liberdade”, trouxe à tona a profundidade filosófica dos símbolos africanos, que carregam significados ligados à espiritualidade, ética e governança. Essa reflexão permeou todas as atividades, conectando a ancestralidade africana às inovações contemporâneas em tecnologia, arte e educação.

Os debates foram o ponto alto do festival, reunindo especialistas, ativistas e lideranças negras em mesas de conversa que abordaram questões como racismo estrutural, representatividade e inovação. Destaques incluíram:

“Ancestrais do Futuro: Construindo uma Nova Cosmovisão para o Amanhã”, com Grazi Mendes, reconhecida como uma das 100 futuristas negras mais influentes do mundo.

“A Influência Digital no Combate ao Racismo”, explorando a tecnologia como ferramenta de transformação social.

“Construindo uma Escola de Marketing Antirracista – Unilever Brasil”, que apresentou estratégias corporativas para transformar práticas de comunicação sob uma ótica inclusiva e diversa.

Esse último debate, promovido pela Unilever, contou com a presença de Vinícius Araújo e Ana Carolina Valentim, destacando iniciativas práticas para a promoção da equidade racial no setor corporativo. Ainda temos muito o que falar sobre isso.

Ainda sobre marcas, novidades deste ano foi a Casa Dove, um espaço que uniu cuidado pessoal, representatividade e autoestima. Localizada no coração do festival, a Casa Dove promoveu oficinas de autocuidado, workshops sobre padrões de beleza e discussões sobre como a estética pode ser um ato de resistência. Mas isso é pauta para um outro artigo.

Foto: Divulgação

Arte e cultura afrocentradas

O festival não apenas educou, mas também encantou com uma programação artística e musical diversa. Performances como o espetáculo “Koanza no Futuro”, de Sulivã Bispo, e apresentações de dança do Projeto Marias trouxeram ao público o impacto visceral da cultura afro-brasileira. Cada performance foi uma celebração da história negra, mas também um grito de resistência e orgulho.

O sucesso do Festival Afrofuturismo, por outro lado, evidenciou que, com o apoio adequado, iniciativas afrocentradas podem não apenas sobreviver, mas prosperar. A parceria com instituições como a Unilever, a Prefeitura de Salvador e o SEBRAE foi fundamental para viabilizar o evento, mas também ressaltou a urgência de mais empresas e órgãos públicos apoiarem essas iniciativas.

O evento não é apenas um acontecimento cultural – é um movimento que une inovação, ancestralidade e resistência. Sob o tema “Adinkras”, o festival propôs reflexões profundas sobre liberdade e identidade, usando os símbolos do povo Asante como fio condutor.

Prêmio AYA: Uma noite de celebração e homenagens

O Prêmio AYA, realizado na cerimônia de abertura, simbolizou o ponto de partida do Festival Afrofuturismo 2024. Inspirado no símbolo Adinkra que representa independência, resiliência e perseverança, o prêmio destacou personalidades que preservam e fortalecem o legado cultural afro-brasileiro.

A cerimônia, realizada na Casa das Histórias de Salvador, contou com a presença de autoridades, artistas e lideranças culturais. Paulo Rogério Nunes, cofundador da Vale do Dendê e do festival, abriu o evento enfatizando seu crescimento e impacto ao longo dos anos.

Os homenageados da noite foram:

Categoria Griô

Abena Busia: Embaixadora de Gana no Brasil por sete anos, ovacionada por sua contribuição às relações culturais e diplomáticas.

Tamoase Dantas (Sr. Escurinho): Líder cultural do Centro Histórico de Salvador.

Mário Nelson: Pioneiro no afroempreendedorismo.

Categoria Artística

Regina Casé: Atriz e apresentadora, reconhecida por sua contribuição à valorização da cultura negra no audiovisual.

Categoria Executivo Destaque

Grazi Mendes: Futurista e autora do livro Ancestrais do Futuro, lançado durante o festival.

Samantha Almeida: Executiva da Rede Globo, reconhecida por sua liderança no setor criativo.

Regina Casé emocionou o público ao destacar a importância de integrar passado e futuro, afirmando que Salvador é um exemplo vivo dessa conexão. Já Abena Busia, em sua despedida como embaixadora, reforçou o papel de iniciativas que conectam o legado africano às diásporas.

O legado do Festival Afrofuturismo

O Festival Afrofuturismo 2024 não foi apenas um espaço de celebração, mas também um grito de resistência e um chamado à ação. Em tempos de retrocessos e desafios, ele reafirmou a importância de preservar e promover a cultura negra como um motor de inovação e transformação social.

Como disse Pedro Tourinho, Secretário de Cultura de Salvador:

“Para a cidade, é obrigação apoiar, mas é uma inspiração também. O Festival Afrofuturismo e a Vale do Dendê inspiram muito a nossa cidade.”

Que o sucesso desta edição seja um lembrete da força da cultura negra e da necessidade de mais apoio a eventos que, como o Festival Afrofuturismo, têm o poder de transformar o presente e projetar um futuro onde a liberdade e a ancestralidade negra sejam celebradas em toda sua plenitude.

Em suas palavras e ações, o Festival Afrofuturismo encarnou o espírito de seus ancestrais: resistência, resiliência e criatividade. Que essa celebração seja também um chamado para que a sociedade brasileira invista mais no presente e no futuro da sua maior riqueza – a cultura negra.

Filho do rapper Rael sofre racismo no mercado Pão de Açúcar

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Foto: Divulgação

Em um breve desabafo nas redes sociais, na noite desta quarta-feira (4), o rapper Rael relatou que seu filho de 12 anos foi alvo de racismo no mercado Pão de Açúcar, na unidade do bairro Aclimação, em São Paulo.

O artista disse que o filho foi sozinho ao mercado fazer uma compra para ele, mas como não coube tudo na mão, colocou no bolso da mochila, em seguida foi até o caixa e pagou tudo. Mesmo assim, o adolescente depois foi parado pelos seguranças.

“Pediu para ele abrir a mochila e coagiu o moleque. Ele ligou pra nós. Se você acha que alguém roubou por lei, você chama a polícia ou chama os pais, já que é de menor, não pode pedir forçar ela abrir”, critica Rael. “Eu quero uma posição do Pão de Açúcar”, reforça.

Essa não é a primeira situação de racismo que o filho do cantor sofre. No vídeo, ele também relata rapidamente que a criança foi discriminada na antiga escola. “Meu filho estudava na escola Viva, sofreu racismo. Os moleques começaram a zoar ele. Ele falou que estavam zoando porque era preto. Tirei ele de lá, coloquei em outra escola”, disse.

Capoeira antes tratada como crime agora é de ensino obrigatório

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Foto: Divulgação/São Gonçalo

A capoeira, expressão cultural afro-brasileira que mistura luta, dança e música, percorreu uma trajetória histórica marcada pela resistência e pela busca por reconhecimento. Criminalizada pelo Código Penal de 1890 como símbolo de insubordinação negra, a prática enfrentou décadas de repressão e estigmatização antes de ser celebrada como Patrimônio Cultural do Brasil e da Humanidade. Até ganhar, um novo capítulo com a obrigatoriedade do ensino da capoeira nas escolas, uma conquista que reflete a força e a persistência de seus mestres e praticantes em transformar uma herança de luta em instrumento de educação e cidadania.

Veja a cronologia abaixo:

Aprovado dois anos depois da abolição, o Código Penal de 1890 punia a capoeira com pena de até três anos de prisão. Se o capoeirista fosse estrangeiro, a pena era de deportação.

Cerca de 1824 (Pintura: Augustus Earle)

Em 1932, com a aprovação da Consolidação das Leis Penais, a capoeira continuou sendo tratada como delito, ao lado da mendicância, vadiagem e desordem.

Foto: Divulgação

Vista como uma forma de insubordinação e sublevação negra, a capoeira sempre esteve associada à religiosidade de matriz africana, inclusive pelo uso de atabaque, ritmos, cantigas etc.

Foto: Divulgação

Em 1940, com a aprovação do Código Penal vigente, a capoeira deixou de ser crime. Foram mantidas as infrações penais de mendicância e vadiagem.

Foto: Lita Cerqueira

Em 2008, como resultado da heroica e incessante luta dos mestres de capoeira, a “Roda de Capoeira” foi reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil.

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Também em 2008 o Estado brasileiro reconheceu o “Ofício dos Mestres de Capoeira” como Patrimônio Cultural do Brasil.

Foto: Bruna Laja/Divulgação

Em 2014 a UNESCO/ONU elegeu a “Roda de Capoeira” como Patrimônio Cultural da Humanidade

Foto: Casa Mestre Ananias

Em 2015 os tribunais brasileiros decidiram que o “Instrutor de Capoeira” não precisa de registro nos Conselhos de Educação Física

Foto: Prefeitura do Rio

Em 2021 o município de São Paulo aprovou uma lei tornando obrigatório o ensino da capoeira e a contratação de mestres de capoeira para ministrarem a disciplina.

Foto: Marcello Casals Junior/Agencia Brasil

Há muito a ser feito até que leis como essa tenham validade na prática. Mas isso não invalida o que disse Caetano Veloso: “o grande vencedor, se ergue além da dor!!!”

Foto: Rede de Capoeira

Texto: Hédio Silva Jr., Advogado, Doutor em Direito, fundador do Jusracial e Coordenador do curso “Prática Jurídica em casos de Discriminação Racial e Religiosa”



Brasil reduz pobreza em 2023, mas desigualdade racial ainda é alarmante

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Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O Brasil registrou, em 2023, os menores índices de pobreza e extrema pobreza já registrados pela Síntese de Indicadores Sociais, pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) desde 2012. Apesar da queda, a desigualdade racial permanece evidente: enquanto 17,7% dos brancos viviam na pobreza, as taxas entre pardos e pretos foram de 35,5% e 30,8%, respectivamente. A disparidade também se reflete na extrema pobreza, com apenas 2,6% dos brancos vivendo nessa condição, em comparação com 6% dos pardos e 4,7% dos pretos.

Os dados, divulgados nesta quarta-feira (4), mostram que 58,9 milhões de pessoas ainda enfrentavam condições de pobreza, e 9,5 milhões estavam em extrema pobreza. A pesquisa considera como pobres aqueles com rendimentos inferiores a US$ 6,85 por dia (R$ 665 mensais), e como extrema pobreza, os que vivem com menos de US$ 2,15 por dia (R$ 209 mensais), critérios estabelecidos pelo Banco Mundial.

A proporção de brasileiros na extrema pobreza terminou em 4,4% no ano passado, contra 5,9% em 2022 e 6,6% em 2012. Isso significa que 3,1 milhões de pessoas deixaram essa condição no último ano. Já a pobreza atingiu 27,4% da população, uma redução em relação aos 31,6% de 2022 e aos 34,7% registrados em 2012. Nesse intervalo, 8,7 milhões de brasileiros superaram a linha de pobreza.

Mulheres e jovens também se destacam nos dados levantados. Mulheres apresentam maior incidência de pobreza (28,4%) e extrema pobreza (4,5%) em comparação aos homens (26,3% e 4,3%).

Entre crianças e adolescentes de até 15 anos, 44,8% vivem em condições de pobreza, taxa muito superior à média nacional de 27,4%. Entre jovens de 15 a 29 anos, o índice é de 29,9%. Por outro lado, idosos com mais de 60 anos têm os menores índices de pobreza (11,3%) e extrema pobreza (2%), reflexo do acesso a aposentadorias e pensões vinculadas ao salário mínimo.

Governo lança plano inédito para comunicação antirracista e fortalecimento das mídias negras

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Foto: Vitor Vasconcelos

O Governo Federal apresentou, nesta terça-feira (3), o Plano de Comunicação pela Igualdade Racial (PCIR), uma iniciativa pioneira para combater o racismo e promover a inclusão racial na administração pública federal. O lançamento, realizado na sede do Ministério da Igualdade Racial (MIR), em Brasília, contou com a presença da ministra Anielle Franco, do ministro-chefe da Secretaria de Comunicação do Governo, Paulo Pimenta, e outras autoridades.

O plano, elaborado ao longo de sete meses por um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), é resultado de um processo de escuta qualificada que envolveu movimentos sociais, especialistas e consulta pública. Com 19 ações prioritárias, o PCIR foca em seis eixos principais, como diversidade na publicidade, combate ao racismo digital, fortalecimento das mídias negras e capacitação em relações étnico-raciais para agentes públicos.

A ministra Anielle Franco destacou o caráter transformador do plano, ressaltando sua importância para uma comunicação mais justa e representativa. “Produzir uma comunicação para a igualdade racial na administração pública é essencial para fortalecer a democracia e o respeito a partir da comunicação. Esse plano é ponto de partida fundamental para avançarmos numa comunicação que seja mais igualitária e nos represente, que mostre a realidade do nosso país, a diversidade, nossa máxima potência”, declarou.

Um dos destaques do PCIR é o fortalecimento das mídias negras, incluindo a criação de uma incubadora de tecnologia, apoio financeiro e capacitação técnica para o registro no Mídiacad. O Mundo Negro, principal portal de notícias sobre a população negra na América Latina, foi citado como um dos participantes do processo de escuta.

Outro ponto estratégico do plano é o combate ao racismo digital, com medidas para fortalecer mecanismos de denúncia e promover a educação midiática. O ministro Paulo Pimenta reforçou o compromisso do governo em enfrentar essas questões: “Estamos desenvolvendo práticas de respeito à diversidade étnico-racial dos brasileiros e brasileiras e esse plano tem a equidade como premissa de cidadania. Também reafirma o compromisso com o combate ao discurso de ódio, ao racismo e outras formas de discriminação”, afirmou.

O PCIR não só busca transformar a comunicação governamental, mas também valoriza a participação ativa da sociedade civil. A criação de um Comitê de Acompanhamento para monitorar a implementação do plano foi anunciada, assegurando que as vozes da população negra sejam centrais na formulação de políticas públicas de comunicação. “Esse é um passo importante para que as vozes da população negra sejam ouvidas e consideradas na formulação de políticas públicas de comunicação”, concluiu a ministra.

A violência de Estado e a barbárie cotidiana no Brasil

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Imagens: Reprodução

Texto: Rodrigo França

As cenas de um policial militar jogando um homem negro de uma ponte em Carapicuíba, São Paulo, e o assassinato de um motociclista em Pernambuco após um policial se recusar a pagar R$ 7 por uma corrida de aplicativo revelam a brutalidade e o desprezo pela vida que sustentam a política de segurança pública no Brasil. Esses casos, longe de serem “excessos” ou desvios, são sintomas de uma estrutura historicamente forjada para reprimir, controlar e exterminar pessoas negras. Como bem apontou Abdias do Nascimento em seu clássico “O Genocídio do Negro Brasileiro”, vivemos sob um Estado que naturaliza e promove o extermínio da população negra, num processo que combina racismo estrutural, desumanização e indiferença social.

A criação da Polícia Militar no Brasil remonta ao período imperial, com a formação de milícias voltadas para conter levantes de escravizados e proteger as elites agrárias. Com o fim da escravidão, em 1888, e a abolição formal do regime escravocrata, a estrutura policial foi reconfigurada para manter a ordem racial e social. A repressão mudou de forma, mas não de objetivo: os antigos escravizados e seus descendentes foram lançados à marginalização e vistos pelo Estado como inimigos em potencial. Durante a ditadura militar, a PM foi consolidada em sua lógica bélica, sendo concebida não para proteger cidadãos, mas para sufocar insurgências, principalmente as das classes populares e racializadas.

Hoje, o Brasil tem uma das polícias mais letais do mundo. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que, em 2023, mais de 80% das pessoas mortas por agentes policiais eram negras. Entre os jovens assassinados no país, 77% também são negros, segundo o Atlas da Violência. Essa violência, endossada por discursos que legitimam o “uso da força”, é especialmente estimulada por governadores como o de São Paulo, que tem adotado uma retórica ostensivamente belicista. A ideia de que “bandido bom é bandido morto”, que permeia a sociedade e o poder público, traduz-se em execuções sumárias e abusos como os de Carapicuíba. O bandido, ou o suposto bandido que merece ser morto, quase sempre é o negro. Já o criminoso de colarinho branco é amplamente protegido por um sistema que o favorece, desde a abordagem policial até as instâncias jurídicas, perpetuando a seletividade da justiça e reafirmando o racismo.

A naturalização da violência é um dos maiores triunfos do racismo. A sociedade brasileira aprendeu a aceitar, e muitas vezes a aplaudir, a morte de pessoas negras, especialmente quando mediada por uma farda. O genocídio da população negra não é apenas físico, mas também simbólico. Ele se manifesta na criminalização da pobreza, na exclusão dos espaços de poder e na desumanização cotidiana. Vidas negras são descartáveis, como exemplificam os casos recentes. No Brasil, a vida de uma pessoa negra, seja ela um homem jogado de uma ponte ou um trabalhador executado por causa de uma dívida irrisória, vale menos que o custo de um almoço. Tal lógica genocida também se expressa no encarceramento em massa. Jovens negros são as maiores vítimas de um sistema penal que pune seletivamente. O Brasil possui a terceira maior população carcerária do mundo, com mais de 835 mil presos. Destes, 66,7% são negros. A prisão, assim como o assassinato, é mais uma ferramenta de controle, reafirmando a herança colonial que criminalizava a presença negra nos espaços públicos após a abolição.

A violência policial e o genocídio não se sustentam sem o apoio, direto ou velado, da sociedade. Grande parte da população brasileira foi condicionada a acreditar que a segurança pública é sinônimo de repressão, e não de prevenção. O caso em Pernambuco, em que um policial militar assassinou um trabalhador por R$ 7, é uma demonstração crua de como a banalidade da perversidade opera em todos os níveis da vida cotidiana. Não foi apenas um ato individual, mas a culminação de um sistema que legitima o uso da força como resposta para qualquer conflito, mesmo os mais triviais.

Esses episódios escancaram a falência ética e moral de uma sociedade que tolera, quando não incentiva, a barbárie. Chegamos ao ponto em que uma corrida de aplicativo pode custar uma vida, e em que a violência se torna o principal mediador das relações humanas. É urgente denunciar essa lógica, que, como já apontava Abdias do Nascimento, não é um acidente, mas uma política deliberada de extermínio.

A transformação passa pelo desmonte desse modelo de segurança pública genocida e pela construção de um sistema que proteja todas as vidas, em vez de destruí-las. Isso exige enfrentar o racismo que permeia as instituições brasileiras e reimaginar o papel da polícia na sociedade. Não é uma tarefa fácil, mas é indispensável. Enquanto o Estado e a sociedade permanecerem indiferentes, a lista de vítimas continuará a crescer, não haverá democracia e a brutalidade será a regra, não a exceção.

Deputado Pastor Henrique Vieira critica onda de violência policial no Brasil: “Fracasso ético civilizatório”

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Foto: Reprodução

Em audiência na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, o deputado federal Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) fez duras críticas à escalada de violência policial no Brasil. Durante sua fala, na última terça-feira, 3, o parlamentar descreveu episódios recentes de abuso de força por agentes do Estado como “barbárie” e “fracasso ético civilizatório”, alertando para os riscos de naturalização da violência na sociedade brasileira.

As críticas do deputado ganharam destaque diante do episódio em que um policial militar foi flagrado arremessando um homem de uma ponte em Diadema, Grande São Paulo, na segunda-feira, 2. O caso foi repudiado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), que anunciou a abertura de investigações para apurar as circunstâncias e responsabilizar os envolvidos.

Henrique Vieira condenou a banalização de discursos que justificam ações violentas como essa. “Estamos a um passo da barbárie quando opiniões que legitimam execuções extrajudiciais começam a ganhar espaço no debate público. Isso é a banalização do mal e um retrocesso civilizatório sem precedentes”, afirmou.

Dados divulgados recentemente apontam para um aumento alarmante nas mortes causadas por policiais militares em São Paulo. De acordo com o portal g1, entre janeiro e novembro de 2024, 673 pessoas foram mortas por PMs no estado, uma alta de 46% em relação ao mesmo período de 2023. O número reflete uma média de duas mortes por dia, das quais 85% foram causadas por policiais em serviço.

Casos de violência policial registrados nos últimos meses chamaram atenção pela brutalidade e repercutiram negativamente junto a entidades de direitos humanos. Entre os episódios recentes estão a execução de um jovem negro em frente a um mercado, o assassinato de um estudante de medicina durante abordagem e a morte de uma criança de 4 anos durante troca de tiros.

O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, sob gestão de Macaé Evaristo, reiterou que as forças de segurança devem atuar em conformidade com protocolos que garantam o respeito aos direitos humanos. Em nota, o órgão reforçou que qualquer desvio de conduta precisa ser investigado com rigor para assegurar a confiança na polícia e a proteção da sociedade.

O MDHC também destacou a importância do canal de denúncias Disque 100, que acolhe relatos de violência institucional de forma anônima e gratuita. A iniciativa busca garantir que casos como o de Diadema não fiquem impunes e que sejam adotadas medidas para coibir abusos futuros.

Ao concluir sua fala, o Pastor Henrique Vieira cobrou do Ministério da Justiça e da Segurança Pública ações mais efetivas no controle externo das forças policiais. “Precisamos proteger os bons policiais e combater a organização criminosa que, muitas vezes, cresce dentro das próprias corporações”, pontuou.

“Meu nome não é Liniker à toa”, cantora celebra conquistas históricas no Prêmio Multishow 2024

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Foto: Reprodução/Multishow

Na noite da última terça-feira, 3, o Prêmio Multishow consagrou Liniker como grande destaque da edição 2024, realizada no Rio de Janeiro. A cantora de Araraquara, interior de São Paulo, levou quatro prêmios, incluindo os cobiçados Álbum do Ano, por Caju, e Artista do Ano, além de vencer nas categorias MPB e Capa do Ano, confirmando seu protagonismo na música brasileira.

Em seu discurso ao receber o prêmio de Artista do Ano das mãos de Kenya Sadee e Tony Tornado, Liniker emocionou ao destacar a luta por reconhecimento: “Eu agradeço imensamente pela possibilidade de ser ouvida na realidade de um país que silencia e amordaça de forma transparente tantas pessoas, sentimentos, realidades, como a que molda o que eu sou, e que sempre só pensou em sonhar e poder se nutrir do próprio sonho, mesmo sendo o Brasil essa imensidão potente e explosiva que somos, ser reconhecida como uma vencedora nessa categoria, com esse disco que eu sonhei primeiro sozinha e depois construí com tantas outras mãos, aponta não só ao futuro, mas brinda o presente com o melhor que eu pude fazer para mim no resgate de acreditar em quem eu sou e me permitir existir”.

A cantora agradeceu à equipe que contribuiu para a produção de Caju e celebrou as pessoas que se reconhecem em suas músicas. Ela também comemorou o impacto de seu trabalho agradecendo também à Orixá Oyá pela vitória: “Obrigada Multishow e principalmente Oyá por me renascer de novo para acolher com dignidade tudo que plantei e me lembrar todos os dias que meu nome não é Liniker à toa. Viva Caju!”

Outro momento marcante foi a performance de Liniker com “Veludo Marrom”, acompanhada por orquestra e coro, arrancando aplausos de pé do público.

Anitta foi outro nome forte da cerimônia, vencendo Melhor Clipe TVZ, com Mil Veces, e Funk do Ano, com Joga Pra Lua. A artista ainda recebeu o inédito Troféu Vanguarda, em homenagem à sua trajetória. Ivete Sangalo, ao lado de Ludmilla, levou o prêmio de Axé e Pagodão, com o hit Macetando.

Gloria Groove venceu em Samba/Pagode, com Nosso Primeiro Beijo, enquanto Lauana Prado conquistou dois troféus com Escrito nas Estrelas. Viviane Batidão também marcou presença ao vencer a categoria Brasil, com uma celebração à cultura paraense.

Confira a lista completa de vencedores:

Instrumentista: Amaro Freitas
Capa: Liniker
Produção Musical: Pretinho da Serrinha
Arrocha: Só Fé (Grelo)
MPB: Liniker, por Caju
Melhor Clipe TVZ: Mil vezes (Anitta)
Funk: Joga pra Lua (Anitta, Dennis e Pedro Sampaio)
Brega: Daqui pra sempre (Manu Bahtidão e Simone Mendes)
DJ: Alok
Rock: Do tamanho da vida (Barão Vermelho e Cazuza)
Show do Ano: Super turnê/Rock in Rio (Jão)
Hit do ano: Escrito nas Estrelas (Lauana Prado)
Samba/Pagode: Nosso primeiro beijo (Gloria Groove)
Brasil: Viviane Batidão
Sertanejo: Escrito nas Estrelas (Lauana Prado)
Forró e Piseiro: Casca de Bala (Thullio Milionário)
Revelação: Zaynara
Axé e Pagodão: Macetando (Ivete Sangalo e Ludmilla)
Música Urbana: A dança (MC Hariel e Gilberto Gil)
Pop: São Amores (Pabllo Vittar)
Gospel: Benções que não têm fim (Isadora Pompeo)
Álbum: Caju (Liniker)
Artista: Liniker
Troféu Vanguarda: Anitta

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