Texto: Rodrigo França
Nesta coluna, cada texto será um retrato literário de vidas que ultrapassam molduras e inspiram pelo simples ato de existir com coragem e propósito. Um convite a conhecer histórias que transformam passos comuns em revoluções, revelando que, ao enxergar o outro, encontramos reflexos de nós mesmos.
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Nelson Silva de Oliveira: mestre da transformação
Na Baixada Fluminense, onde o asfalto quente e os becos estreitos guardam histórias de resistência, Nelson Silva de Oliveira ergueu um espaço que transcende muros. Nascido em São João de Meriti, filho de José Ezequiel de Oliveira, um vitrinista, e Noemia da Silva de Oliveira, dona de casa e vendedora. Havia o sonho de educar, de transformar vidas e dar sentido ao que a palavra escola deveria significar.
Licenciado em História pela UFRJ, Nelson iniciou sua trajetória docente em escolas particulares, mas foi nas ruas de sua cidade natal que seu verdadeiro propósito tomou forma. Na década de 1990, enquanto coordenava um pré-vestibular comunitário, percebeu que ensinar era mais do que transmitir conteúdos: era abrir portas, iluminar caminhos e, acima de tudo, acreditar nas potências de cada indivíduo.
Quando assumiu a direção do CIEP 175, José Lins do Rego, ele não se limitou a liderar uma escola; ele a reinventou. Sob sua gestão, os corredores se tornaram espaços de diálogo e construção coletiva. Nelson implementou um Projeto Político Pedagógico que colocou a comunidade escolar no centro das decisões. Escutar deixou de ser um gesto protocolar e tornou-se um exercício de pertencimento. Com ele, professores, alunos e pais passaram a ser protagonistas de uma jornada que transformou o CIEP em uma referência de educação democrática.
Mas o trabalho de Nelson não se resume à organização de calendários ou à gestão de turmas. Ele lidera um movimento de conscientização e valorização da identidade. As reflexões sobre negritude, a celebração da força das mulheres, a discussão sobre meio ambiente e saúde não são eventos pontuais; são práticas enraizadas no cotidiano escolar. Com isso, ele fez mais do que ensinar história: ele deu protagonismo à história viva de seus alunos.
Os resultados de sua atuação são visíveis em cada projeto que colocou em prática. Parcerias com universidades, como UFRJ e UERJ, trouxeram reforço escolar, formação continuada e a luta por diversidade para dentro da sala de aula. Com o INCA, ele introduziu a prevenção do câncer no Ensino Fundamental; com o SESC, filosofias inteiras foram ressignificadas. Nelson soube unir saberes acadêmicos e populares, criando um mosaico que reflete a riqueza cultural e social da Baixada Fluminense.
Para além da escola, sua militância é um testemunho de que educação e transformação social caminham juntas. Ativista do movimento negro, das Comunidades Eclesiais de Base e do movimento sindical, Nelson compreendeu que a luta por equidade começa nas escolhas diárias, como garantir que um aluno tenha voz ou que um professor tenha apoio. Sua passagem pela ONG ODARA, com projetos que uniam educação e cultura, é apenas mais uma evidência de seu compromisso com a construção de um futuro mais justo.
Nelson é um homem de sonhos grandes e gestos firmes. Casado com a também educadora Ana Cristina da Matta e pai de Luíza Odara, ele carrega consigo o desejo de perpetuar um legado: que a autonomia da comunidade escolar seja uma realidade que ultrapasse sua própria gestão. E, mesmo com uma carreira consolidada, ele ainda sonha em voltar a estudar, porque sabe que o aprendizado é um processo contínuo.
Em um país que insiste em ignorar suas desigualdades estruturais, Nelson Silva de Oliveira é uma resistência viva. Ele personifica a força de quem transforma as margens em centro e de quem acredita que a educação pode ser, sim, a maior revolução. Entre as paredes do CIEP 175, ele não apenas inspira vidas; ele ressignifica o futuro, provando que a genialidade não está em grandes gestos heróicos, mas na persistência de pequenas mudanças diárias, feitas com paixão e coragem.
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