Em algumas culturas, o funeral é a celebração da vida de quem morreu. Esta afirmação pode soar estranha, clichê ou se aproximar de certa positividade tóxica. Mas vamos pensar acerca das múltiplas formas de viver e de morrer presentes na história da humanidade.
Vamos pensar também no tamanho do mundo e nos seus quase 8 bilhões de habitantes, com isso em mente, há muitas e diversas formas de encarar a morte. Todos os povos ritualizam a morte. As Ciências Humanas em geral e a Antropologia em particular tem se dedicado a investigar este evento para diferentes povos.
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FOTO 3X4: Rudson Martins – Produtor de Elenco
O que chamo aqui de ritual fúnebre pode ser qualquer ato organizado, com etapas definidas, com apresentação de diferentes papéis sociais e símbolos. Ritual aqui não é sinônimo de festa, mas também a inclui. O ritual pode ser brevemente definido como um ato que se estende para além de si e possui traços simbólicos.
O choro contido, o uso de roupas pretas, o silêncio são formas de expressar a morte. Contudo, isso que parece (só de longe) universal é muito específico, possuem limitações de tempo e espaço. É uma forma atual e ocidentalizada de representar a morte. Entretanto este texto é um convite para novos olhares de um antigo fenômeno.
Em diferentes lugares no continente africano, mas não apenas ali, os funerais são verdadeiras festas, com muita música (bandas e corais), dança, comida e louvações. É um fenômeno coletivo. Em países como Gana, África do Sul, Congo e Angola apenas para citar alguns, o sujeito que morre torna-se um ancestral e essa transformação precisa ser marcada e celebrada com suntuosidade. Para diferentes povos, o ancestral é parte constituinte da vida da comunidade. Não é uma concepção individualista da morte e do morrer.
Os lugares no qual há um número expressivo de descendentes de africanos também podem herdar formas parecidas de conceber a morte. A ilha fictícia localizada em algum lugar no Pacífico onde passa a história do filme Guava Island poderia ser um desses lugares. O filme de 2019, estrelado por Glover e Rihanna como atores principais conta a história de uma população negra cuja mão de obra é explorada.
A obra passa em apenas um sábado, dia marcado para o festival local. O dono da principal fábrica quer impedir a participação dos trabalhadores no evento por temer que no dia seguinte o trabalho não flua. O dono da fábrica também comanda uma espécie de milícia.
O personagem de Glover, cantor desobedeceu a ordem que o impedia de cantar no festival e por isso é assassinado pela quadrilha. A cena final é o ritual fúnebre do cantor que leva música, dança e um cortejo belíssimo pelas ruas da cidade esvaziando a fábrica e enchendo as ruas com um coro. Chama atenção na cena os trajes coloridos e refinados. O funeral é a vitória do voto contra a tirania do capital.
Olhar para a morte é sempre olhar para a vida.
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