Família negra: O ódio a campanha do Boticário também é culpa da Globo

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Família negra: O ódio a campanha do Boticário também é culpa da Globo

A campanha do Boticário com uma família 100% negra causou alvoroço em pleno 2018. Eu que nasci em uma família negra de classe média e hoje e formei uma nos moldes parecidos com o da campanha, senti um misto de tristeza, raiva , mas confesso que tive que conter o riso ao ler alguns comentários negativos sobre o vídeo que foi publicado no canal da marca no Youtube.

Por que nossa felicidade incomoda tanto?

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Não irei aqui reproduzir falas racistas e nem mesmo ficar elogiando a campanha do Boticário por fazer o que toda marca que estuda o Brasil demograficamente deveria fazer, há uma grande atraso nesse tipo comercial, vamos combinar?

Pais, mães, filhos, adolescentes, senhores negros e negras, compõe mais da metade da parcela da população brasileira. Mostrá-los em sua campanha não é um ato digno e “lacrador” da agência de publicidade por trás do filme, é um ato de coerência, até porque negros movimentaram o ano passado 1,6 trilhões de reais. Porém, tenho certeza que essa campanha fará com que a marca seja uma forte opção de compra para o Dia dos Pais para comunidade negra, porque é assim que a roda gira.

Famílias negras, contemporâneas e com dinheiro chocam e incomodam pessoas racistas, porque para quem não gosta de negros, nos ver felizes e dirigindo carrão é inaceitável, mas também pelo fato que elas ( famílias negras) são um unicórnio midiático. Não vemos nas propagandas, nos filmes nacionais e nas novelas e quando aparecemos sorrindo celebrando a vida, vira um assunto, em pleno século XXI

Quando a comunidade negra se manifestou contra a novela Segundo Sol da Rede Globo, era justamente para que pessoas e famílias negras aparecessem de forma não estereotipada em um canal que alcança milhões de pessoas todas as noites. Um núcleo família integralmente pessoas negras, pai, mãe e filho, é praticamente inexistente nas obras ficcionais da TV.

A família baiana da Rede Globo (Reprodução Instagram)

Escravos, moradores da comunidade, empregados, bandidos, filhos adotados problemáticos, são algumas das formas que a comunidade negra é representada educando os olhos da massa a ver qualquer pessoa negra como alguém próximo desse perfil.

Se nós negros somos confundidos com empregados no prédio que moramos, ou perseguidos por policiais e seguranças até dentro de sorveteria é por contado adestramento mental, que nos faz a ver o mundo por padrões criados pelos veículos de massa e no Brasil, o maior é a Rede Globo, onde somos sempre algo negativo.

Para que famílias negras felizes e bem sucedidas não se tornem em “polêmica”, é necessário que as vejamos mais na TV e na Internet.

A única família negra nos moldes do filme do Boticário que eu vi na televisão, foi na novela A próxima Vítima de 1995. Elas existem, são muitas, muitas mesmo. E olha não estou falando de famílias ricas, falo de pessoas que tem um padrão de vida razoável e consomem, movimentando e economia do Brasil.

Pessoas brancas racistas que perdem seu tempo criticando a campanha na Internet são patéticas não só pelo racismo, mas pela falta de inteligência ao perceber que 95% da publicidade é totalmente branca, porém felizmente, a comunidade negra cala seus  chiliques racistas dando sua opinião sobre a campanha e elevando a sua avaliação positiva e fazendo racistas comerem poeira.

Para Nadja Pereira, Analista de social data e pesquisadora, o movimento feito pelos micro-influenciadores para avaliar a campanha positivamente, foi muito importante para mostrar a força da comunidade negra

“Vários influenciadores negros convocaram seus seguidores pra darem like em massa no vídeo e reverteram os número em poucas horas”, explica a pesquisadora sobre o fato do filme, com mais de 6 milhões de visualizações, ter muitos comentários negativos e milhares de pessoas clicaram no botão não gostei.

É lamentável que gente como negro, não possa se divertir com uma publicidade bacana, sem ter que lidar com o mimimi de pessoas racistas, mas isso é parte do processo da normatização da diversidade. Resta agora que a nossa dramaturgia deixe de ser preconceituosa e mostre as famílias negras como elas são: iguais as outras.

 

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