Por Mauro Baracho
Ontem, o Ministério Público de São Paulo decidiu pela retirada de um show de stand up do comediante Léo Lins das plataformas digitais. Além disso, proibiu que ele mantenha, transmita e encaminhe qualquer conteúdo depreciativo a minorias. Nesta última terça-feira (16), o também comediante, Fábio Porchat, saiu em defesa de Lins chamando de “vergonha” e “censura” a decisão do Ministério Público de São Paulo. No texto, Porchat chega a dizer que não gostar de uma piada, não é motivo para extingui-la e,pasmem, piadas com minorias podem ser feitas, pois não há nenhum problema legal nisso.
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Para quem não conhece Léo Lins cabe uma breve apresentação. Ele se auto intitula o “rei do humor negro” e, frequentemente, faz piadas depreciativas com pessoas trans, gordas, negras, gays. Inclusive, chegou a ser processado pela influenciadora Thaís Carla por usar uma foto dela, de forma a ridicularizá-la, na divulgação de um de seus shows. Léo Lins também ama fazer piadas de teor racista. Certa vez, disse em uma apresentação que não entendia “negão de tatuagem”, pois para aparecer a tatuagem deveria ser feita com corretivo. Em outra apresentação fez uma piada que “explicaria” a pouca presença de negros na F1. Segundo Lins, os negros não correm na F1 porque seriam parados pela policia.
Eu diria para Fábio Porchat, que já declarou ser um “racista em desconstrução”, que vergonha é apoiar e defender o direito de um sujeito como Léo Lins degradar minorias e insuflar violência contra elas. Porchat no seu texto raso e mal escrito desconsidera que o humor é político, e seu uso indevido consolida as imagens estereotipadas de pessoas negras na sociedade. Não é sobre liberdade de expressão, como alegam ambos, é sobre fazer valer o texto da CF, em seu artigo 5º que criminaliza a prática do racismo. Portanto, humor que perpetua hierarquias raciais não é humor, é crime.
Vamos lembrar da importante reflexão do professor Adilson Moreira de que o humor é um produto cultural. Logo, piada com negros só produz graça, porque estas pessoas foram historicamente humilhadas e subjugadas no Brasil. É típico de humoristas brancos, diante de uma situação dessas, o uso do argumento de que agora eles não podem falar mais nada. Entendemos a partir disso que a única linguagem da branquitude é a linguagem da violência contra grupos minoritários, pois é assim que eles perpetuam sua hegemonia. Por fim, devo dizer que dentro do canal porta dos fundos, Porchat é um excelente humorista. Mas fora dele é só mais um homem branco medíocre que só tem o sucesso que tem porque seu fenótipo também é um produto cultural. Por isso, as pessoas têm facilidade em alçar Fábios e Léos Lins ao estrelato.
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