Cria do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, a humorista e influenciadora digital Thamirys Borsan acredita estar vivendo o melhor momento de sua carreira até o momento. Aos 28 anos de idade, ela concilia o trabalho como criadora de conteúdo nas redes sociais, com o universo da publicidade e, agora, de atuação para plataformas de streaming.
Nesta quarta-feira (13), a atriz anunciou que viverá a personagem Rubria, em uma nova série de comédia da Netflix. Esse mundo de agenda lotada e trabalhos na publicidade e no humor fazia parte de sonhos que a atriz de 28 anos nutria para o futuro, mas que encontraram solo fértil na sua realidade atual.
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Em entrevista exclusiva para o Mundo Negro, Thamirys falou sobre seus sonhos profissionais, sobre o poder de transformação de realidades que está contido na comédia e sobre os custos de defender pautas ligadas às questões raciais. Confira!
Como você define o momento atual da sua carreira?
Eu tô realizando sonhos. Quando eu entrei para a internet, era isso que eu queria. Ser vista, mostrar minha capacidade intelectual, meu carisma, mostrar que eu tinha capacidade como as pessoas brancas, de estar ocupando esses espaços. Sempre fui atriz, sou formada em teatro, nunca tive visibilidde ou um sobrenome que me colocasse em situações favoráveis. Então, eu falei, bom, eu preciso entrar nesse meio e ser vista de alguma forma. E foi nesse intuito que eu entrei para a internet, mas eu acabei descobrindo um mundo que eu nunca imaginei estar. O mundo da influência digital, e eu tô gostando também.
Estão começando a surgir oportunidades para mim que são sonhos, mas ainda me sinto muito ligada a esse afeto que eu construí com as pessoas que me seguem. Eu passei por um momento difícil no ano passado, quando perdi a minha mãe, e eu dei uma estagnada na produção de conteúdo. Mas aí, começaram a surgir trabalhos que não dependiam do meu criativo, que eu só precisa estar, precisava mostrar o meu talento com atuação, com comunicação. E eu me joguei, agradecendo aos céus que esses trabalhos surgiram, porque eu não sei como eu estaria agora, se não fossem essas oportunidades.
Esto vivendo as coisas que eu sempre sonhei e que eu sempre quis estar, mas com muita culpa ainda, porque deixei de fazer as coisas que eu estava fazendo antes, mas estou me descobrindo e tentando achar esse meio termo.
O que você quer realizar ainda daqui por diante?
Eu quero fazer shows de humor. Ir pro teatro, ter conexão com as pessoas. Estou estudando e me preparando para isso ser da melhor forma. Eu quero viver da comédia, seja ela na internet, na TV, nos streams, apresentando, ou seja nos stand-ups, nos palcos. Quero estar na comédia de todas as formas. Uma pessoa me perguntou se eu conhecia uma mulher negra comediante, de meia idade. Foi um parto para pensar, mas a gente sabe que tem, mas com visibilidade são pouquíssimas. Depois de um tempão pensando, eu falei: eu vou ser uma, tá? Então, tô nessa construção, de ser uma comediante de meia idade preta.
Estamos saindo de um grande burburinho com o Will Smith e Chris Rock no Oscar e isso levantou uma questão em torno dos limites do humor. O que você pensa sobre essa relação entre humor e temas considerados sensíveis?
Eu abomino esse tipo de humor, até porque eu sou uma mulher preta, gorda, de periferia, totalmente fora do padrão e que sou alvo de várias piadas de shows por aí, e eu não vou fazer de mim piada para alguém. Então, eu abomino esse tipo de humor e não acho graça, na real. Acho que isso já foi, ficou no passado e a gente tem que aceitar isso e avisar aos comediantes que ainda estão nessa: “E aí, galera! Que tal dar uma repaginada nesse humor?”. A minha ideia é essa, mostrr que é possível ser engraçado sem ficar zoando o outro, a quinta série precisa passar.
Você se posicionou em relação a situações que envolveram o Nego do Borel e o racismo em relação a ele. Tem custos para você se poscionar diante de temas polêmicos?
Tem vários. Olha, o caso do Nego do Borel foi um dos mais punks, eu já esperava, mas sem esperar tanto. Meu público é pequeno, e é um público muito engajado, Mas a proporção que esse vídeo furou a bolha, foi bizarra. Eu fiz o vídeo pouca semanas antes de ele entrar pra Fazenda e meu vídeo foi envelhecendo como vinagre. Não por conta dele, mas por conta do que as pessoas transformaram e o negócio foi ganhando uma proporção ensurdecedora. Eu me posiciono porque eu preciso, senão eu não aguento.
O Nego do Borel foi um marco pra mim. Não era um vídeo de defesa dele, mas acabou sendo levado para esse lugar. E quando eu vi que tava indo pra esse lugar, eu tirei o vídeo do ar. Mas eu pretendo retornar com esse vídeo, porque ele é um símbolo da construção do relacionamento interracial, e do que isso pode causar na vida de homens pretos, principalmente. É sobre isso que eu falo no vídeo: a pessoa pode te amar agora, estar tudo muito bonito, mas se vocês se separarem e ela te odiar, você pode morrer, você pode ser preso, pode acabar a sua carreira, você pode ser linchado por coisas que você provou que não aconteceram e mesmo assim, as mídias não dão voz para essas coisas.
Tudo bem ela mentir falando que o dinheiro dele era de tráfico, tudo bem ela associar a imagem de um homem preto mais uma vez com um traficante, que você tem um fuzil em casa. Mas quando ele prova que o dinheiro dele era proveniente do trabalho dele, quem repercutiu? Quando uma mulher que viveu com ele, diz que o dinheiro dele veio do tráfico, as pessoas vão acreditar, porque como é que um homem preto que veio do Borel pode ganhar dinheiro com os hits de sucesso dele, não é mesmo?
Ele continua sendo problemático em várias situações, mas traficante ele não é, e isso precisa ser dito. É um homem preto que conseguiu dinheiro com muita honra.
Olhando para as suas realizações atuais e para o seu futuro, qual é o legado que você pretende deixar?
Cara, eu sou da comédia porque eu acho que a comédia é um jeito leve de aprender e de levar a vida, sabe? Eu acho que a comédia é uma professora mesmo, e ao mesmo tempo, sabe aquela professora que te explica da melhor forma? Tem professores que fazem música pra ajudar a grudar a matéria na cabeça, e essa professora pra mim é a comédia. E ela me salva direto. É esse legado que eu quero levar, tenho isso desde que nasci e quero que isso fique. Que a gente ria e aprenda. Quando a gente tá conversando com um amigo e quer impor o próprio pensamento, a pessoa para de te ouvir na hora.
Tipo Bolsominions versus Lulistas, ninguém se ouve. Com a comédia, você começa a fazer piada, a pessoa ri e fala: “Pô, eu era assim” e pensa, já era, já me transformei. E é esse legado que eu quero, o poder de transformação. Com o riso, é muito mais fácil, mais eficaz do que com tiro, com soco, com agressão. Eu, mulher preta que vim da favela, que tenho que lidar com tiro com agressão o tempo todo, ainda assim, nasci com isso, de ensinar e aprender com riso, é tão significativo. As pessoas pretas ainda somos a maioria por causa disso, Porque a gente ressignifica as paradas, e temos uma vontade de viver que eu acho que se fosse com eles, já estavam dizimados há muito tempo.
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