O Movimento Meninas Crespas, criado pela professora Perla Santos, surge na EMEF Senador Alberto Pasqualini, após uma das alunas ser vítima de racismo. Em decorrência disso, Perla passou a conversar com as crianças no intervalo sobre cabelo crespo e negritude. Apesar de atualmente lecionar em outra escola, a EMEF Mário Quintana, os encontros acontecem na Casa Emancipa do bairro Restinga .
As alunas decidiram tomar uma atitude para combater as inúmeras “brincadeiras” racistas baseadas na textura do cabelo ou na cor da pele, e sentiram a necessidade de conhecer a história negra para além da escravidão.
Notícias Relacionadas
Lauryn Hill fará show no Brasil em evento da Chic Show que celebra 50 anos da Black Music
'Nossa cultura em primeiro lugar': BaianaSystem leva espetáculo inovador enraizado na cultura brasileira para SP
“Esse processo levou à constituição de um grupo, do qual se aproximaram pais, mães e outros familiares para a promoção de atividades dentro e fora da escola. Tal processo coletivo nos permite trocar experiências, valorizar a nossa estética, nossos crespos, celebrar nossa ancestralidade e elaborar ações e atividades culturais e pedagógicas”, explica Perla.
As principais bases utilizadas pela professora são a estética, a dança negra e o resgate da História Africana e Afro-Brasileira. O projeto visa valorizar o cabelo crespo, resgatar a identidade negra e o poder do feminino.
A partir dos encontros no recreio, foi solicitado à direção da escola uma sala para realizar as reuniões. “Os alunos inscritos no projeto, cerca de 40, entre meninas e meninos, foram divididos em duas turmas: turma Dandara e Malcolm X. Os encontros, que se iniciam sempre por uma roda de conversa, contextualizam situações, analisam fatos e debatem assuntos relacionados à população negra”, conta.
Para as crianças é ensinada dança afro e são criadas as performances que o grupo apresenta em eventos. Também a partir dos encontros, as famílias passaram a se aproximar e participar das oficinas e rodas de conversa.
Os encontros acontecem aos sábados, na Casa Emancipa, onde outras famílias da região são acolhidas. Para atender a comunidade em geral, na qual país e mães fazem parte da diretoria, estão criando o Instituto Meninas Crespas.
“Nas rodas de conversa, de forma coletiva, escolhemos que ações faremos. Estamos com uma biblioteca afrocentrada e comunitária para que as pessoas do bairro tenham acesso à história negra. Também estamos escrevendo cartas de empoderamento para mulheres da Casa Mirabal, um local que acolhe mulheres vítimas de violência doméstica, pois acreditamos na ideia de empoderar-se e empoderar outras, ou seja, só estou bem se estamos bem”.
Para espalhar informações sobre a África e poesia negra, foram confeccionados cartazes para serem fixados no bairro e, assim, multiplicar o aprendizado, além da gravação de um documentário para registro de todo e projeto e histórias.
“Temos aulas de Iorubá, pois defendemos uma educação bilíngue (Português/Iorubá), com um mestre/Griô, aproximando os saberes da educação formal com a informal e valorizando os conhecimentos dos mais velhos (Princípio Africano). As mães também têm aulas de dança, partindo da ideia da dança como autocuidado”, diz a professora.
Tanto os alunos, quanto os pais e parceiros, têm responsabilidades. Um grupo é responsável pela divulgação (Faceboook, email e Instagram), outro grupo é responsável por receber os visitantes e explicar como o projeto se organiza. Nas rodas de conversa, surgem as novas ações do grupo, que se organiza dividindo tarefas.
“Após cada ação, de forma coletiva, avaliamos a atividade, anotamos o que poderia melhorar e cada um faz uma autoavaliação. Também criamos as regras, que por ter sido construída de forma coletiva, faz com que cada aluno se sinta convocado a seguir“.
O projeto é conhecido fora do Brasil. Em 2018, a professora Perla esteve em Portugal, na Escola da Ponte, para um intercâmbio. “Nessa experiência pude apresentar como é nosso trabalho no Movimento Meninas Crespas. Este ano, fui reconhecida pela Marca Boticário, como uma das cinco mulheres que fazem a diferença no Brasil, devido ao trabalho no projeto”, finaliza.
Para saber mais, acesse: https://www.facebook.com/MeninasCrespasRestinga.
Notícias Recentes
Tyler Perry renova contrato com o BET Media Group, assegurando continuidade de 10 séries e lançamento de uma nova produção
Apenas 18% dos negros têm níveis satisfatórios de conectividade, em contraste com 32% dos brancos, revela estudo