Você tem que agir como se fosse mudar radicalmente o mundo. E você tem que fazer isso o tempo todo.
– Angela Davis
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Não suporto mais as queixas contra o racismo inundando as redes sociais. É desproporcional quando comparadas às atitudes que deveriam ser tomadas no aspecto coletivo. Diversas páginas e perfis de influenciadores “antirracistas” aproveitam as notícias trágicas para se tornarem mais populares. Ainda assim, se pensarmos somente nas pessoas que realmente ficam indignadas e sonham com mudanças, chegaremos a seguinte conclusão: há muitos especialistas em reclamações. As ações antirracistas concretas são raras. A maioria parece acreditar que o racismo será abolido sem um enfrentamento organizado e radical, apenas com caracteres em suas páginas nas redes sociais.
No último final de semana, uma ocorrência policial em Porto Alegre deixou muita gente revoltada, e com razão. Um homem negro foi preso após sofrer agressão de um homem branco. O branco estava armado com uma faca. Os vídeos da ocorrência, largamente difundidos, só não nos deixam mais perplexos porque conhecemos o Brasil. Nunca foi diferente. O negro é tratado assim há quinhentos anos, “apenas”. As instituições são racistas, as pessoas são racistas, as leis e normas estão na mesma sintonia.
Eles nos consideram indignos de qualquer direito estabelecido na Constituição Federal. Na prática, os brancos são beneficiados por uma infinidade de privilégios, e os negros não saem das mazelas. Além disso, “a justiça criminal é implacável” como cantou o grupo de rap Racionais MC’s. Através do encarceramento em massa, o sistema transformou o ambiente gélido e sinistro das prisões na morada dos negros. Para tanto, o negro é julgado à priori, como aconteceu no Rio Grande do Sul; só faltou no momento da prisão acusar o negro de “vitimista”.
As notícias inundam as plataformas. Mostram o povo negro sendo violentado nas comunidades e periferias das cidades brasileiras; não que a violência seja somente aquela anunciada pelo disparo de uma arma do agente do Estado. No início do texto apontei a seletividade racista, porém, há outros tipos. Têm pessoas negras com problemas de saúde sem recorrerem ao tratamento médico por ausência de recursos financeiros. Há negros lutando diariamente para pagar as contas básicas, submetidos aos piores postos de trabalho, e a educação e habitação de qualidade é um tipo de luxo que nem podemos desfrutar. Na realidade, eu poderia escrever um monte de mazelas, mas demandaria horas e horas.
Os negros precisam se organizar! Não pode haver espaço para distrações. Vamos para cima dos racistas com estratégia e inteligência; construamos uma genuína autonomia política e econômica. Lágrimas não mudarão a realidade.
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