“É uma conquista que eu adoro ostentar”, diz Aline Aguiar sobre cabelo natural

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“É uma conquista que eu adoro ostentar”, diz Aline Aguiar sobre cabelo natural
Foto: Reprodução.

A jornalista Aline Aguiar, da TV Globo Minas Gerais, faz parte do grupo de mulheres negras que todos os dias trabalham diante das câmeras de televisão utilizando o cabelo de várias maneiras diferentes. Sejam tranças, cabelo solto, com volume ou penteados diversos, o cabelo, em especial para mulheres negras, ocupa papel de destaque quando o assunto é televisão.

Na terceira entrevista da série sobre jornalistas negras e seus cabelos na televisão, Aline Aguiar dividiu com o MUNDO NEGRO um pouco de sua história, inspirações e referências negras no jornalismo. ” Lembro-me do dia que a Maju apresentou o ‘Jornal Nacional’ pela primeira vez, no início do ano de 2019. Foi muito emocionante para mim. Era como se ela dissesse: “Você também pode estar aqui'”, relembrou ela.

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A transição capilar o empoderamento que vem com o conhecimento de si e da própria história, foram grandes aliados de Aline na libertação de processos químicos que agrediam os fios e com os quais ela já não se identificava mais. Para ela, poder usar o cabelo natural na bancada de um telejornal é ostentação. “Aqui no Brasil estamos entendendo que há beleza nos nossos fios naturais e isso é libertador. É uma conquista que eu, particularmente, adoro ostentar”.

Foto: Reprodução.

Confira a entrevista completa:

Como era o seu cabelo quando você começou a aparecer na TV. Era um estilo que você se sentia confortável para aparecer em frente às câmeras?  

Eu tinha o cabelo alisado quando comecei a trabalhar como repórter. Na verdade, comecei a usar química de alisamento na adolescência. Como todo mundo tinha o cabelo liso, entendia que assim que tinha que ser. E por cerca de 15 anos fui reproduzindo esse ritual, sem me questionar o motivo pelo qual fazia aquilo.  

Ainda no início, quais as jornalistas negras você tinha como referência não só pelo conteúdo, mas também pela estética e o que te chamava atenção nessa pessoa em termos de visual? 

Infelizmente tive poucas referências, mas posso citar algumas, como Glória Maria, Dulcinéia Novaes e Zileide Silva. Só mais recentemente estamos nos vendo mais na TV e como isso é bom! Lembro-me do dia que a Maju apresentou o ‘Jornal Nacional’ pela primeira vez, no início do ano de 2019. Foi muito emocionante para mim. Era como se ela dissesse: “Você também pode estar aqui”. E olha que coisa, em novembro do mesmo ano eu estava na bancada do JN representando o meu estado, Minas Gerais, nas comemorações pelos 50 anos do telejornal.  

Aline na bancada do Jornal Nacional. Foto: Reprodução.

O cabelo crespo/natural não era tido como um cabelo de “aspecto profissional”. Como você lidou com isso ao longo da sua carreira? Sempre usou o cabelo crespo? 

Até hoje, infelizmente, existe a ideia do cabelo crespo/cacheado como um cabelo “desarrumado”, “bagunçado”, que precisa “ser domado”, “controlado”. Isso faz parte de um imaginário social construído durante e depois da colonização. Na África, o cabelo era um forte símbolo identitário. Pelo cabelo, era possível saber o estado civil, a posição social, a religião de uma pessoa. Quando os africanos chegaram ao Brasil, na condição de escravizados, eles tinham o cabelo raspado com a justificativa de higienização, mas a intenção era o apagamento do pertencimento, da memória. Uma violência e tanto. Depois, com a imposição eurocêntrica do branco como belo, do cabelo liso como bom, o crespo foi considerado feio e ruim. Grada Kilomba, uma escritora portuguesa, diz que só se torna diferente se tem aquele para se ditar como norma, como padrão. E o padrão é o branco. Entender essa construção me ajudou a passar pela transição capilar e a me posicionar contra comentários racistas.  

Nos EUA onde as questões dos direitos civis são bem avançadas, as jornalistas negras, em maioria ainda usam o cabelo liso e até mesmo perucas e apliques. Por que no Brasil somos diferentes? E usar o cabelo liso seria um problema, na sua opinião? 

Não acho que usar o cabelo liso seja um problema, mas desde que seja uma opção. É preciso questionar: Por que estou alisando o meu cabelo? Por que eu quero ou por que me falam que é melhor assim? Aí está a diferença.  

Parece-me que nos EUA as mulheres afrodescendentes se acostumaram muito com o modelo liso, tiveram e têm pouca referência e isso faz parte da cultura delas. Quem sou eu para julgar uma cultura. Aqui no Brasil estamos entendendo que há beleza nos nossos fios naturais e isso é libertador. É uma conquista que eu, particularmente, adoro ostentar. 

O seu cabelo já foi alvo de algum comentário racista? Caso sim, o que foi feito a respeito?  

Sim, algumas vezes e sempre que isso acontece denuncio porque racismo é crime. 

Sobre quem cuidou e cuida do seu cabelo. Você sente que os profissionais sabem cuidar do cabelo natural? 

Frequento salões especializados em cabelo crespo e cacheado, o que ajuda muito. O cuidado é diferente.  

O cabelo de quem trabalha na TV sofre com o efeito de secador, gel e outros produtos. Qual sua rotina de cuidado capilar? 

Uma vez ao mês faço uma super hidratação no salão e nas outras semanas cuido em casa mesmo. Lavo três vezes por semana e, quando possível, deixo secar naturalmente. No outro dia de manhã solto bem e vou para a TV já pronta. Adoro um volumão. 

8) Tem algum truque que você aprendeu no trabalho, sobre cuidados com seu cabelo, que você poderia compartilhar com a gente?      

O truque do cabelo cacheado está na hidratação. Também tenho uma dica infalível: não tirar o excesso de água para secar. O cabelo cacheado precisa estar encharcado para melhor definição. Aquela coisa de torcer o cabelo com a toalha jamais. 

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